Ermelindo Maffei
Bem justa foi essa denominação dada por um dos jornalistas que defendem o programa do partido Constitucionalista.
Sabem todos os possuidores de algum rudimento de história natural o que significa o termo fóssil. São fósseis, os restos ou indícios que ficaram de antigos animais ou vegetais, existentes em épocas longínquas, e que conservaram até hoje no meio de certas rochas. Desapareceram porque assim o quis a evolução, a transformação da natureza.
Assim é o PRP que aí sobrevive. É um pedaço decomposto, fragmentado e corroído da antiga agremiação. Uma parte divergiu do antigo sistema e mostrou-se tendente a realizar uma nova política, sem aquelas vergonhas que caracterizaram o regime passado.
Essa corrente integrou-se no Partido Constitucionalista.
A outra ficou para amostra de museu, e como bem malabarista de circo, agora se arvora em critico de uma situação superior aquela que constituiu as delicias suas. Quando desfalcou o tesouro de Estado para aplicar a importância de trinta mil contos na propaganda de reacionário Julio Prestes, bem de acordo estava com sua atitude, porque os cofres municipais e estadoais estavam á disposição de convescotes (pique niques) compra de fazendas, cancelamento de impostos, suborno de jornais, para si e para seus apaniguados.
Eis porque ainda existem perrepistas que juram fidelidade ao seu partido, essa monstruosidade que, porventura, resucitasse, nos faria retroceder para os sombrios tempos da idade média.
Quando, também, combatia ferozmente o voto secreto, temia o vereditium das urnas, se já tivemos nós aqui o exemplo triste e vergonhoso das eleições municipais, em que, três vereadores, do Partido Democrático já sufragados, se presenciou este espetáculo digno do PRP: - os seus agentes deram-se a falsificação aberta dos nomes de eleitores, enfeitaram os livros de pessoas imaginárias e ameaçaram de violências os adversários.
Após essa proeza, coroaram o espetáculo com a feitura das atas, á noite, á sombra de sua baixeza de caráter. Quem disto não se lembrará em itu?
Quando se opunha ás reivindicações operarias, abrindo os porões do Cambuci aos guias do operariado, tomava-se de pavor deante da organisação plutocrata e feudal dos politiqueiros profissionais que desmandaram no regime passado.
Devemos acentuar letras notáveis este período composto pela comissão de propaganda do partido Constitucionalista: E só s esse operário for um desmemoriado ou um louco, dará seu voto aos que querem de novo implantar a escravidão entre nós.
E se até hoje o Sindicato dos Operários Textis de Itu não foi convenientemente organisado e reconhecido, podemos atribuí-lo às manobras e ameaças dos senhores perrepistas que tudo fazem para impedir a organização da classe operaria, porque querem a permanência dela na desunião e na ignorância perpetua. Querem a exploração impiedosa do operariado, querem á acumulação fabulosa do capital no aumento das fabricas, na produção colossal de mercadorias, quando o operário vegeta no embrutecimento provocado pela miséria e numa vida que não é digna e nem destinada para ser humano algum.
E julgam que, por um salário, podem dispor até da vida e dignidade do operário.
Eis porque, combatendo perrepismo. Condenamos também esse método dos patrões deshumanos que nada fazem para a nossa cidade, porque os lucros amontoados sobre os hombros do proletário vão servír-lhes para usufruí-lo, por onde combater o mesmo proletariado.
Não querem a sindicalização dos operários ituanos, que há de se realizar como um fato inevitável, para está dentro da lógica dos acontecimentos, porque querem perpetuar a opressão, a brutalidade dos arrancos da cavalaria e do asfixiamento dos trabalhadores debaixo de uma prepotência e de uma imposição feudal.
O que se deu na ultima parede (greve), é uma demonstração da autoridade tirânica do perrepismo.
Neste século, que podemos denominar de século do operário porque é dentre dele que se vae resolver a questão operária, varrendo todos os redutos do reacionarismo, não póde admitir-se que um partido que cheira a bacalhau tinto de sangue de escravo e relembra as degradações de Princeza, de Minas e das eleições que se realizava m em todo o Brasil.
Não póde o P.R.P. apregoar aos ares que sempre pugnou pela grandeza de São Paulo, uma vez que sempre perseguiu os fatores dessa grandeza, o operariado, e uma vez que não cogitava de organizar o Código do Trabalho.
Agora, bem ou mal temos uma legislação social que promete ampliar-se para entender uma proteção mais segura aos direitos do trabalhador.
Mas, oh! Desgraça se o P.R.P. ainda conseguisse o monopólio das funções públicas! Nem as poucas imperfeitas Leis do trabalho que temos, existiria. Destruí-
las ia com as mesmas sem cerimônia com que varria os eleitores adversários do recinto das eleições.
O que o P.R.P., porém está tramando, é uma aventura perigosa. Mas o bom senso do povo há de repetir a sua investida e aniquilar, para sempre, o primeiro palhaço tragi – cômico da democracia em nosso país.¹
Transcrito do Jornal Progresso – Itu, Ano II, 5 de Agosto de 1934 – p. 01