Como se Escreve a História

Ermelindo Maffei

Prelibando o prato amargo da fragorosa derrota, o P.R.P. passou da arena do circo para a páteo do hospício. Fugiu do sempre à análise do regime que abocanhou pontagruelicamente, agora se compraz a formular um mundo de acusações sem nexo, sem consistência, dignas mesmo de um espírito perturbado. Assim a sua arma predileta é a revolução de 1930.

Atribue-lhe toda desgraça sobrevinda em nosso Estado e exaspera-se com os membros do antigo Partido Democrático porque ele, o P.R.P. foi o creador de toda nossa riqueza e o autor do aumento da população paulista.

Que extraordinária capacidade procriadora.

Como se não fosse o autor de tantas monstruosidades cometidas em nosso paiz, é catastrófico acreditá-lo em boa fé quando atira a o ar tantos disparates.

Se o progresso, no sentido perrepista, é o que o perrepismo aspirou, para Itú e fez evaporar nas obras de Rio Claro a cifra de mais de duzentos mil contos de reis, temos então uma prova simples da benemérita política perrepista.

Se a dignidade paulista se resume na matança de Palmital nas emboscadas que se armavam nas estradas desertas, nas fraudes eleitorais sem par do regime perrepista, no suborno de Juízes, aí encontraremos um exemplo da mentalidade que governou o Estado de São Paulo durante quarenta anos!

E mais ainda, se progresso é afirmar questão operária é um simples  caso de polícia, nada mais, poderemos exigir da velha  agremiação que é ainda um produto sobrevivente da política feudalista do Império.

È um partido que não se apresenta doutrina alguma, é um partido que reprezenta uma contradição no movimento político social em nosso paiz.

Dirigido por homens, inspirados em idéas anti diluvianas com sofreguidão do mando, não é de extranhar que simule ignorar as causas do movimento de 1930. Este movimento era inevitável.

As circunstâncias são, muitas vezes, mais poderosas que a vontade dos homens.  Só lastimável inteligência dos fidalgos do P.R.P. não quer compreender esse fenômeno.

O que rege é a lei do movimento.  Quando nela surge em contradições desenvolve-se uma luta forte tenaz, prolongada entre as diversas correntes: a que avança e a que quer permanecer estacionária.

A corrente reacionária foi o P.R.P.; outra já é orientada por idéias renovadoras.

Se houve erros por parte desta, são bem preferíveis a todas as aventuras do P.R.P.. O erro é o grande laboratório da perfeição. Novos tempos, novas circunstâncias têm que determinar forçosamente novos modos de pensar. Novas condições de vida provocam outras idéias. O mundo progride, o P.R..P. aposenta-se bolorento dentro de museu de antiguidade.

O que não é de admitir, porém, é que a dignidade, entendida pelo P.R.P. se opunha ao progresso cultural e material das massas populares. Os senhores do P.R.P. mudaram de roupagem, mas conservam os mesmos modos de pensar. Qual o paiz que não haja sofrido e feito das convulsões internas das revoluções? O movimento, há estagnação, fermentação, podridão.

È o P.R.P, queria o conservantismo reacionário para mergulhar o povo na estagnação.

Não queria a vida. Queria a morte da consciência popular, para monopólio de suas ambições insaciáveis. Eis porque é ele o grande inimigo da Revolução de 1930 è peor ainda: inimigo de má fé.¹  

Transcrito do Jornal Progresso – Itu,  Ano II, 19 de Agosto de 1934,  p. 01