Economia & Negócios

Publicado: Quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Quando um de nós entra na Política

A difícil arte de separar o joio do trigo.

Quando um de nós entra na Política

Por Alan Dubner,

Imagine que você, que sempre odiou política e principalmente os políticos, resolvesse se candidatar a deputado. Claro que não foi de repente, foram anos e anos de frustação com as tentativas de levar ideias para os gestores públicos, insistência dos amigos que você leva jeito e principalmente aquele chamado de dentro para fazer alguma coisa pelo social.

Imagine agora que você se declarou candidato, sabendo dos sacrifícios pessoais e familiares que terá de enfrentar e... ao contrário do que você poderia imaginar, todos se afastam de você! Vão dando aquele sorriso amarelo, aquela desculpa esfarrapada e você se sente como alguém que contraiu uma doença altamente contagiosa. Para piorar você começa a aprender que para se eleger (de verdade) vai ter que conseguir uma verba inacreditável. Alguns milhões*! E como se já não bastasse... os convites para trabalhos remunerados (você precisa continuar a pagar suas contas) vão sendo cancelados um a um, porque não querem se misturar com a política. Desanimador né? Mas mesmo assim, nessa eleição de 2018, existem várias jornadas de heróis que estão se candidatando sem o mínimo do apoio necessário para elegê-los. Será que receberão seu voto? Seu apoio?

*Quanto custa uma campanha a Deputado Federal? Segundo a excelente matéria do Estado de São Paulo (07/11/2014), em 2014 todos (100%) que arrecadaram mais de 5 milhões se elegeram, 90% dos que gastaram entre 3 e 5 milhões se elegeram e 65% dos que gastaram entre 1 e 3 milhões também se elegeram. Já entre os candidatos à Câmara que arrecadaram menos de R$ 500 mil, apenas 3% conseguiram garantir o mandato.

Nessas eleições a sociedade civil está muito mais organizada e vários movimentos estão envolvidos para influenciar diretamente a política e a gestão pública. São movimentos como o Pacto pela Democracia, RenovaBR, Agora!, Bancada Ativista, Acredito, RAPS, Frente Favela Brasil e muitos outros. O maravilhoso Mapa de Iniciativas por Eleições Melhores, criado pelo Pacto pela Democracia é um ótimo exemplo da sociedade civil interferindo nas eleições. Outros movimentos promovem o diálogo, os encontros e até mesmo seus próprios candidatos. No caso, são “gente como a gente”, apoiados por um grupo apartidário.

Um bom exemplo é do Wellington Nogueira, que fundou a organização Doutores da Alegria. Está entrando na política, como Deputado Federal, pelo movimento RenovaBR. Empreendedor social que conseguiu fazer o que parecia ser impossível, levar alegria para os hospitais. Sua dedicação, persistência e conhecimento o levaram a formar uma rede gigantesca de palhaços aptos a levarem alegria para a saúde. Hoje a rede dos Palhaços em Rede conta com mais de 1.100 grupos filiados (como os Doadores de Alegria em Itu). E não é só na saúde que o Wellington é querido, faz centenas de palestras em instituições e eventos. Poderia parecer fácil se eleger, mas (como um de nós) ele não tem o financiamento nem o apoio do mecanismo da velha política. E nem quer! Apesar de ter o apoio de vários artistas, como Fabio Porchat e outros famosos, tem a dificuldade de conseguir que seus pares o divulguem livremente por medo de se misturarem com política. Será que nessa eleição começaremos a ver gente como a gente entrando na política com o apoio aberto da maioria de nós... apesar de todos os atuais pesares?

Outro bom exemplo de quando um de nós entra na política é o sistema de mandato conjunto. Trata-se de eleger um grupo de pessoas que cuidarão do mandato coletivamente. Nessa eleição, o movimento da Bancada Ativista está promovendo um mandato conjunto para Deputado Estadual. São nove pessoas de diversas áreas de atuação que vão, em conjunto, exercer o mandato em São Paulo. A Monica Seixas, de Itu, vai encabeçar a lista na urna. A ideia é genial, porque divide a responsabilidade, a fiscalização e principalmente a atuação! Cada um dos integrantes tem uma história de atuação social e juntos serão muito mais eficazes! Uma das integrantes do mandato conjunto deixou aqui um recado para os eleitores de Itu:

“Oi pessoal de Itu! Meu nome é Claudia Visoni. Eu sou jornalista, ambientalista, agricultora urbana e sou permacultora. Atualmente, eu sou também uma das co-candidatas a uma vaga de Deputada Estadual pela Bancada Ativista. A Bancada Ativista é um movimento de renovação política, que nessas eleições está trazendo essa ideia de mandato coletivo. A gente está fazendo coletivamente uma campanha e vamos ser eleitos, espero! E a gente vai, todos nós juntos, nove pessoas, vamos dividir um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo. Somos sete mulheres, dois homens. Várias pessoas no nosso grupo são negras. Temos uma co-candidata indígena, que é a Chirley Pankará. Cada um de nós já atua há bastante tempo em diversas causas superimportantes como proteção à infância, saúde, educação, defesa dos direitos humanos, defesa das causas indígenas, feminismo, combate ao racismo e meio ambiente, que é o meu caso. Então nós estamos representados pela Mônica, que aliás é de Itu. E na urna a gente aparece como Mônica da Bancada Ativista. Eu há muito tempo trabalho com agroecologia, sou ativista da água também, atuei bastante na época da crise hídrica e continuo trabalhando. Eu sou uma das fundadoras do Movimento Cisterna Já. Junto com os permaculturores, a gente vem discutindo e desenvolvendo propostas de um manejo mais sustentável de água na nossa cidade e a maior parte do meu trabalho mesmo é relacionado a agroecologia, a produção de alimentos de forma sustentável e regenerando a natureza, protegendo a nossa biodiversidade. Então é isso, domingo estaremos lá na urna com o número 50900 e para votar na gente é votar em Mônica da Bancada Ativista.”

Existem muitas outras pessoas, como a gente entrando na política sem a politicagem de sempre. Para Deputado Federal tem além do Wellington Nogueira, o Zé Gustavo, a Mércia Falcini, a Duda Alcântara, o Kaká Werá, a Lia Lopes e Deputado Estadual além da Monica da Bancada Ativista, a Marina Helou, o Ademar Bueno e muitos outros que estão começando a mudar a face da política.

Será que vamos ter cada vez mais uma gestão pública conduzida por nós... cidadãos? Tenho esperança que sim, como dizia Paulo Freire, do verbo esperançar e não do verbo esperar! Quem sabe faz a hora não espera acontecer!


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