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Publicado: Segunda-feira, 17 de maio de 2010

Semiose - A cobra e o violeiro

Semiose - A cobra e o violeiro
"Semiose - A cobra e o violeiro"- 2010 82 X 100 cm

Citacionismo: Tendência que aparece em toda a história da Arte, no qual o artista se espelha em uma ideia, ou imagem de forma explícita ou implícita de um artista do passado, produzindo imagens de 2ªa geração, dando a elas novo tratamento, colocadas em outro contexto, gerando novos significados. Ao produzir essas novas imagens, gera a intertextualidade, um diálogo do presente com o passado.

No trabalho original Almeida Junior utiliza-se de uma tela esticada num chassi de madeira medindo 141cm de altura por 172 cm de largura. Se dividirmos a largura pela altura chegaremos ao número 1,219. Eu desejava trabalhar em uma tela, medindo em sua largura no máximo 1m; dividi então por 1,219 e cheguei em 82cm de altura, assim trabalhei em uma tela menor que a original, porém respeitando a sua proporção.

Respeitei toda a estruturação geométrica da composição, a relação cromática, como também a posição dos personagens.

Num momento da minha trajetória em busca de um fazer artístico de qualidade, percebi que se eu fosse contar apenas com o meu “talento”, “dom” ou “virtuosismo”, se é que existem, não chegaria a lugar nenhum.

Uma referência para mim, tanto no ensino da arte como na produção artística, desde muito cedo, foi Johannes Itten, artista suiço, importante professor da Bauhaus, que sempre dizia a seus alunos o seguinte: “Se vocês, nada sabendo, forem capazes de criar obras-primas com a cor, então o não conhecimento é o caminho a seguir. Mas se com o vosso não conhecimento não forem capazes de criar obras-primas com a cor, então devem procurar o conhecimento”.

O pedaço de papel retirado de um caderno , é uma imagem que faz parte do meu repertório de signos visuais e aparece quase sempre nos meus trabalhos, designa para mim, estudo e conhecimento.

Na situação que aparece no meu quadro a forma positiva do que no original seria a figura detalhada do violeiro, foi subtraída do pedaço de papel, surgindo assim o espaço negativo, o buraco, o intervalo, a silhueta do violeiro (retirar do estudo e do conhecimento a imagem de segunda geração). É interessante notar que a aresta da forma positiva se encaixa perfeitamente na aresta do espaço negativo.

O meu desejo desde o início, dentro das minhas possibilidades, era respeitar o equilíbrio cromático conquistado por Almeida Junior. Na situação criada com a ausência da forma positiva, o que seria a estampa da camisa, foi colocada no retângulo, que em sua origem, seria o batente da janela, conseguindo assim, nessa região da composição, o peso do xadrez branco e azul encontrado no padrão da camisa no original, como também a profundidade do marrom burnt umber .Contrapondo a estampa em azul , o tecido Poá vermelho queimado, encontrado na blusa da cantora , aparece debaixo da forma positiva do papel com a silhueta da figura feminina.

Assim como foi respeitada a questão da estruturação das formas, foi também a estruturação cromática.

Já há algum tempo que venho pesquisando a possibilidade de produzir matrizes de gravuras com material alternativo para impressões em suportes não tradicionais.

As matrizes de gravura tradicionais são produzidas em madeira (Xilogravura), em pedra(Litogravura) ou em uma placa de metal (Calcogravura) impressas em série na maioria das vezes em papel.

Produzo matrizes com vários materiais como papelão, papel, plástico, e outros .Imprimindo várias vezes em justaposição , acabo criando padrões, estampas e malhas geométricas que servem para mim como pano de fundo para minhas interferências pictóricas.

Como homenagem aos 400 anos de Itu, este ano, venho me dedicando a uma série de trabalhos, utilizando essa técnica para reproduzir os padrões encontrados nos pisos das principais igrejas de nossa cidade, intitulados de Impressões pictóricas sobre padrões ituanos.

Esses padrões e estampas aparecem por todo o quadro, sobretudo os desenhos encontrados no piso da igreja da Matriz, onde Almeida Junior foi coroinha e sineiro.

O título do trabalho, “Semiose - A cobra e o violeiro”, faz referência a produção de imagens de 2ª geração como resultado de um processo de significação (fonte de investigação da semiótica), como também a uma antiga simpatia, conhecida entre os violeiros, que para aquele que nasceu sem talento para tocar a viola pode conquistá-lo se conseguir pegar um filhote de cobra coral venenosa com o polegar e o indicador da mão direita, deixá-la enrolar-se e com os dedos da mão esquerda com exceção do polegar desembaraçá-lo, colocar a cobra com a mão esquerda sem deixar se picar no mesmo local e assim terá conquistado o desejo.

Em diálogo com a obra “O Modo de Vida do Caipira nas obras de Almeida Junior”, de Durce Gonçalves Sanches, propus uma interpretação pictórica do contexto de nosso Caipira.

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