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Publicado: Segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cabelos ao mar

Se por acaso no primeiro fim de semana em março, igual a táxi em dia de chuva, você não encontrou o seu cabeleireiro predileto no salão, há uma boa explicação para isto. Ele – ou ela, já que a maioria destes profissionais é de mulheres - estava ocupado, participando de um encontro da categoria em pleno oceano. Você não leu errado: primeiro congresso marítimo de ca-be-lei-rei-ros! Entre 5 e 8 de março, o navio Costa Romantica deixou de lado seus passageiros convencionais, formado principalmente por famílias, crianças, casais e pessoas de meia idade, para transportar 1.500 profissionais de salões de beleza.
 
O uso de navios para eventos empresariais já representa 15% dos negócios desta indústria. Um exemplo desta tendência foi o congresso da Lowell, do ramo de cosméticos, e que em 15 anos já ocupa posição de destaque, com foco nas classes B e C. O presidente, Paulo Andrade, paulista de Itapira, São Paulo, fez mais que combinar no nome da marca os prefixos de duas concorrentes, L’oreal e Wella. Ele explorou a fórmula de cruzeiros alavancarem vendas, o que não é inédito. Só que mirou no que viu e acertou no que não viu. Ele inovou mesmo foi ao levar cabeleireiros a bordo, e cercar com mimos uma classe carente de atenção, e até então mais acostumada a cuidar dos outros melhor que de si mesma. E que, jamais imaginou um dia integrar suas atividades profissionais com um passeio marítimo. Numa combinação entre o conto da Cinderela e uma versão popular do fórum de líderes empresariais que trouxe fama à João Dória, o conceito deu tão certo que deve ser exportado para outras categorias profissionais. Para atender esta demanda, Paulo até criou uma agência de turismo. A empresa cuida da logística, capta passageiros pouco familiarizados com viagens de navio, e por isto até os transporta de casa em ônibus de luxo para o porto. O projeto tem enorme potencial, a começar pelo setor de beleza. Entre cabeleireiros, manicuras, esteticistas, e os demais participantes do universo dos cosméticos, a agência pode contar com cerca de 3 milhões de pessoas.
 
Viagem de Negócios foi conferir, e também embarcou neste cruzeiro. Duas descobertas iniciais. A primeira: o Costa Romantica, antes mesmo da partida, ganhou dos próprios passageiros o apelido de “Gaiola das Loucas”. A segunda: numa restrição fora do comum, o comandante proibiu trazer chapinhas e secadores de cabelo na bagagem. Faz sentido. Com tantos cabeleireiros, se todos usassem seus apetrechos ao mesmo tempo, dá pra imaginar o resultado da sobrecarga no sistema elétrico do navio? Mas a proibição se compensou por este pra lá de alegre cruzeiro. Numa química arriscada, e que poderia colocar em perigo os próprios cabelos de Paulo Andrade, já em risco de extinção, ele misturou na formulação um workshop técnico com vips da profissão e fora dela - como gente famosa, outros nem tanto, e outros menos ainda. A isto adicionou happenings comandados por grandes nomes da profissão, que, diferente daquela platéia de cabeleireiros comuns, preferiam ser chamados de top hair stylists. Estavam lá, por exemplo, Mauro Freire, que dá vida aos cabelos de Xuxa, Ana Maria Braga, Marina Lima e Malu Mader; Carlos Carrasco, cabeleireiro e maquiador que cuida de Gisele Bunchen quando ela está no Brasil; e Vitor Primeiro, um criativo angolano que desponta em Curitiba. Num ambiente cercado de água por todos os lados, e portanto à prova de fuga de tietes, os passageiros-cabeleireiros puderam fazer contato intensivo e se deixar fotografar ao lado de televisivos, como Ellen Rocha e seu namorado Ricardo Marchi, Adriana Alves, Mônica Monteiro e Isadora Ribeiro. Lá também, para quem quisesse conviver, estavam celebridades instantâneas fabricadas pelo BBB da TV Globo, como Daniel Saulo e Mariana Felício - que até atrasou a partida do navio por causa de sua gravação no programa do Caldeirão do Huck. Isto sem falar na Isabela Fiorentino, a top model brasileira contratada para divulgar o patrocinador, e que vive hoje em Miami. Além de desfiles com 20 modelos que entraram cabeludas e quase sempre saíram mais leves depois das tesouradas, os convidados se comoveram com a palestra de Steven Dubner – colunista do site www.itu.com.br, fundador da Associação Desportiva para Deficiente. Isto depois que o mestre de cerimônias manipulou as emoções dos presentes ao convocá-los a buscar em suas vidas “a vírgula que falta no texto”, seja lá o que isto quer dizer.
 
Atrações à parte, o pulo do gato do empreendimento foi fazer os cabeleireiros se sentirem como vips. Por exemplo, quando as luzes se apagaram durante um jantar. Comando e tripulação paramentados, unidos a constrangidos garçons, realizaram um desfile de gosto pra lá de duvidoso. Adentraram em fila indiana, no restaurante principal, vela acesa na mão, sob delírio da platéia, enquanto um locutor gritava aos berros: “viva os cabeleireiros!”. Ou num baile de fantasia antológico, onde ânimos levados às nuvens pareciam ter adotado uma nova religião com o lema “divirta-se hoje, pois amanhã o mundo acaba”. Todos estavam tão encantados que ninguém notou: a navegação ocorreu em velocidade de tartaruga. Foi sem dúvida o maior desafio da carreira do comandante. Afinal, como ele conseguiu levar quatro dias para atravessar as menos de 600 milhas da curtíssima rota do porto de Santos a Búzios? Mas tudo tem seu lado bom: como subproduto da calmaria, ninguém enjoou a bordo. “Isso aqui é uma loucura. O navio é imenso, a comida é demais. Acho que vou enlouquecer!”, comentou a atriz Adriana Alves, ela própria no êxtase da primeira experiência de navio. “Só tenho que agradecer a Deus por estar aqui”, completou sua colega Mônica Carvalho, que trouxe a filha Yáclara a tiracolo. "Foi ótimo, e até aproveitei para gravar algumas cenas do clip que estou fazendo", disse Isadora Ribeiro, que agora, como cantora, se compara a Nora Jones. Mas o melhor do show era observar os não-famosos, destes que mesmo sem atuar no mundo de glamour durante o dia e da purpurina à noite, contribuem no anonimato para enfeitar milhões de cabeças brasileiras. Como Kimiko Yamakawa, maquiadora definitiva em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, que veio ao cruzeiro para acompanhar sua amiga cabeleireira Neuza Motta, de Aracanduva, São Paulo. Havia também o feliz casal Shirley Martins de Souza e Alexandre Aparecido Silva, ela dona de salão, ele de oficina mecânica na cidade de Atibaia, São Paulo, o que deve ter dado muito trabalho para ele explicar na garagem o que foi fazer n
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