Opinião

Publicado: Quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Jornalismo Ambiental: somos a voz que fala ou a voz que cala?

Reflexões após o II Fórum de Jornalismo Ambiental.

Jornalismo Ambiental: somos a voz que fala ou a voz que cala?
Como é difícil viver às margens da grande massa, buscando caminhos próprios que estejam alinhados com a nossa dignidade.

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Alimento não é apenas comida. É tudo o que passa por nossos sentidos e nutre nossas células: ar, pensamentos, emoções, sons, sabores, aromas, texturas, imagens. Diariamente, ao acordar, estamos nutrindo o nosso ser. Quando ligamos a TV no jornal da manhã, em menos de 5 minutos nosso corpo fica tenso, o medo e a indignação nos invadem. As notícias raramente mostram o melhor do ser humano. Dificilmente vamos encontrar na grande mídia os projetos que estão dando certo ou as ações humanitárias, dignas e competentes que estão ajudando a mudar o mundo (e são milhares!!!).

Consumimos lixo e sem pensar repassamos para frente o que recebemos. Somos receptores e propagadores de lixo. Por mais indigesto que possa parecer, a verdade é que nós nos alimentamos diariamente deste lixo midiático, que nos chega através das inúmeras mídias (e pessoas) que ainda acreditam que o povo gosta mesmo é de sangue, suor e lágrimas. Mas não se iluda! A nutrição saudável é o melhor que podemos fazer por nós e por todas as nossas relações.

Estive presente no II Fórum de Jornalismo Ambiental, organizado por Alan Dubner e realizado na HSM EXPO Management, em SP. Tive a oportunidade de ouvir várias reflexões profundas e significativas de pessoas que vivem no mundo midiático, porém conseguiram não se contaminar pelo poder da grande massa e estão efetivamente fazendo a diferença com sua vida no mundo das comunicações.

Estiveram presentes na conversa, além do organizador Dubner (representando a Ong 5 Elementos), Christina Carvalho Pinto e Henrique Camargo (Mercado Ético), Dal Marcondes (Envolverde), Mario Mantovani (SOS Mata Atlântica) e Paulina Chamorro (Rádio Eldorado).

Fiquei especialmente impactada com as reflexões de Christina Carvalho Pinto, uma das maiores lideranças planetárias na criação de novas visões para marcas e para o universo da mídia, aliando o poder das ideias ao poder da consciência.

Após liderar por sete anos o mega grupo multinacional Young & Rubicam, além de outras importantes passagens pelo mundo corporativo da comunicação, Christina decidiu criar uma empresa para levar ferramentas às mentes inquietas. Criou a empresa “Conteúdos com conteúdo” que cria e produz conteúdos inovadores e transformadores para todas as mídias, com mais de 200 programas de TV já produzidos e veiculados. “Precisamos criar canais de aderência, motivação e identificação, para possibilitar a respiração individual e coletiva. Infelizmente, a TV da tragédia e da vulgaridade tem uma presença muito forte. Tudo fica natural e as pessoas acabam não se dando conta. Na correria não há tempo para reflexões mais profundas. As pessoas replicam as notícias sem parar pra pensar o que estão fazendo”, provocou em sua fala.

Suas palavras calaram fundo em mim, repassando como um filme minhas crenças e escolhas como mãe, como criadora e diretora do portal itu.com.br há 14 anos, e principalmente como ser humano. Como é difícil viver às margens da grande massa, buscando caminhos próprios que estejam alinhados com a nossa dignidade. Como é bom encontrar no meio da jornada pessoas que também fizeram a escolha da voz que fala, e não da voz que cala.

Viver no automático gasta menos energia, sem dúvida, mas joga sobre nós um torpor que transforma a vida em algo sem cor e sabor. Passamos a ter uma rotina automatizada, desconectada da fonte, distante do pulsar da nossa mente e das nossas emoções. Anestesiamos, entristecemos, endurecemos. Perdemos o maravilhoso poder de refletir e agir! Não acredito que nascemos para tal desperdício!

Como disse Christina, “a co-criação do processo midiático implica na audiência. Nos tornamos cúmplices de um processo paralisante, anestesiante e imbecilizante.” Sim, é verdade!!! Até quando continuaremos a dar audiência para programas sem conteúdo, parciais, mentirosos, pobres de valores e extremamente nocivos?

A Mídia é certamente uma das principais responsáveis por estarmos onde estamos. Como alertou Mario Mantovani: “A notícia que é notícia não vira notícia. Notícia boa não interessa. Todo mundo vende commodity”. Por outro lado, enquanto receptores e propagadores, somos 100% responsáveis pelo que escolhemos ver, ler, ouvir e falar. Portanto, cada um de nós é também responsável por estar onde estamos.

Somos todos consumidores de mídia. Temos a cada momento a oportunidade de parar pra pensar se aquilo que estamos consumindo é ou não relevante. Podemos emergir, expandir e assumir o leme de nossa vida, ancorados no poder que vem do profundo querer. Não somos obrigados a engolir lixo, não precisamos ser marionetes adormecidos. Como também alertou Christina: “Mentes desgovernadas são facilmente governadas por terceiros”. Será que estamos governando nossas escolhas ou sendo governados? 

O Jornalismo Ambiental não trata apenas de árvores e aquecimento global. A sustentabilidade vai muito além da onda verde. Como foi dito por Henrique Camargo no Fórum, "é um tema transversal, que se encaixa em qualquer pauta, porque traz o olhar sistêmico para cada tema em questão". A sustentabilidade ancora-se nas co-relações entre pessoas, organizações, cidades, países e continentes. Cada pequena escolha está intimamente relacionada com o todo. Na ação sustentável somos agentes ativos. É impossível morar na passividade quando ampliamos a nossa consciência e percebemos o quão importante somos nesta grande teia universal da vida.

Saí deste Fórum de Jornalismo Ambiental com mais conhecimento, porém bastante inquieta e com muito mais perguntas. O caminho ainda é tão longo....tantas coisas para consertar... Por onde seguir? Comecemos pelos primeiros passos: caminhar com esperança, refletir com consciência, escolher com liberdade, agir com coerência, transmitir com responsabilidade, transformar com alegria. E jamais desistir! 

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