Economia & Negócios

Publicado: Sábado, 8 de janeiro de 2011

Inclusão digital: um caminho a ser trilhado pelo país

Governo Dilma Rousseff esboça primeiras medidas.

Crédito: Renan Pereira / www.itu.com.br Inclusão digital: um caminho a ser trilhado pelo país
Centro de Ingração Digital de Itu (CIDI) funciona no Padre Bento

Por Renan Pereira

Que Dilma Rousseff terá um obstáculo do tamanho de Itu à sua frente em se tratando da inclusão digital no país nem os búlgaros duvidam. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp) recentemente revelou que o Brasil tem hoje uma das conexões mais caras e (detalhe) mais lentas do mundo – perdendo até mesmo para países bem menos desenvolvidos economicamente.

Depois de muitos anos de atraso no setor, fracasso dos governos anteriores e promessas não-cumpridas, a nova presidente do país pretende reverter a situação da maneira mais rápida possível, por meio de programas já iniciados na era do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. “O meu Brasil não é do ‘orelhão’, mas sim o da Banda Larga. É esse o país que nós vamos construir para todos os brasileiros. Seremos o Brasil da banda-larga barata, com qualidade e capacidade”, repetia constantemente em seus discursos, ainda em época de eleições.  

Levando em conta as primeiras medidas tomadas pelo governo neste ano de 2011, podemos dizer que as propostas neste segmento parecem, de fato, ser prioridade. Conforme anunciado no dia 3 de janeiro (terça-feira) Dilma criará - por meio do Ministério da Telecomunicações (Minicom) - a Secretaria de Inclusão Digital. A medida foi divulgada pelo novo ministro das comunicações, Paulo Bernardo. De acordo com ele, o órgão será responsável pela coordenação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e de outros projetos do Minicom.

Quando tocamos neste assunto, algumas perguntas surgem de prontidão na nossa mente. O que fazer para reverter essa situação? Por que o Brasil, mesmo com tantos recursos, continua tendo uma conexão tão abaixo do esperado? Para Roberto Mayer, vice-presidente de relações públicas da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), dois fatores essenciais respondem tais indagações: a carga tributária (no caso as altas taxas dos serviços de telecomunicações) e o baixo nível de competição do setor.

“Durante muitos anos não tivemos concorrência neste segmento, e isso fez com o que os serviços prestados não gerassem o retorno esperado. Além do mais, tivemos um período de fracassos onde investiu-se em empresas que acabaram não cumprindo as metas estipuladas, como é o caso da ANATEL. É preciso, portanto, que seja criado um novo estímulo para a competição”, explica o executivo - que também é diretor da MBI - Tecnologia da Informação.

A meta de Dilma, de acordo com um discurso recente, é levar conexão a 75% dos brasileiros até o ano de 2014, aproveitando-se principalmente do mais relevante projeto no segmento até o momento, o PNBL – que já atinge recursos que chegam a quase R$ 590 milhões. Uma das principais medidas do Plano é a reativação da estatal Telebrás, visando o aproveitamento de redes ociosas de fibra ótica e a venda de conexão de até 512 kbps por até R$ 35.

Fica a pergunta: isso já seria o suficiente? De acordo com Mayer, a determinação ainda está muito aquém do que o país poderia oferecer. “Acompanhei recentemente uma reunião sobre os programas de banda-larga que estão sendo discutidos no México. Lá, negocia-se uma Internet com velocidade em torno de 5 megas. E veja bem, estamos falando do México, e não de um país super desenvolvido economicamente”, diz.

Cultura e Educação

O Estado não constrói estradas somente para fins turísticos. Elas são usadas cotidianamente por transportes que fazem toda a movimentação logística, transportes públicos e de carga, etc. A analogia é usada pelo próprio Mayer para questionar os fundamentos do PNBL, que fornece ferramentas, mas não capacitação à população. “Muitas crianças vão aos cyber’s apenas para usar a Internet como forma de entretenimento. Isso não é errado. Mas se haverá investimento público nestes espaços temos que fornecer também insfraestrutura para que haja produção de cultura”.

De acordo com Rodrigo Baggio, fundador e diretor-executivo do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), o desafio da elevação da inclusão digital inclui o fortalecimento das lan houses como espaços sociais de educação e troca de experiências, e não apenas de compra e venda de acesso. A teoria é abraçada também por Mayer. “Pesquisas apontaram que no ano de 2009 praticamente metade dos acessos à Internet foram feitos via centros comunitários. Ou seja, se você corta esse benefício, a tendência é o acesso diminuir”.  

No campo da educação, Mayer aponta algumas medidas públicas que considera relevantes para o processo de inclusão, como o projeto “Um computador por Aluno” (UCA). “Esse é um passo fundamental para que a gente consiga expandir o nosso poder de informatização. Mas vale destacar que o Uruguai, primeiro país do mundo a atingir as metas do programa, investiu um capital altíssimo na conclusão do projeto. Imagine então quanto um país do tamanho do Brasil teria que investir para cobrir toda a sua rede de ensino público?”. Apesar do alto investimento, o Brasil já deu início ao projeto em 2007, testando a sua eficácia primeiramente em algumas cidades de diferentes Estados do país.

Inclusão Digital em Itu

Pouca gente sabe, mas a cidade de Itu conta com um espaço exclusivo para integração à informática. O Centro de Integração Digital de Itu (CIDI) integra um projeto de nível nacional, desenvolvido no país desde 2004. O espaço, que funciona no Padre Bento desde janeiro de 2010, recebe público de todas as idades, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Há também mais dois pontos em Itu: um fica no térreo do Centro Administrativo Municipal e o outro no Centro Administrativo Regional do Pirapitingui. O programa, coordenado pela Fundação Bradesco, é desenvolvido na cidade pelo Programa Acessa São Paulo em parceria com a prefeitura local.  

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