Opinião

Publicado: Quinta-feira, 30 de abril de 2009

Carolina Padreca opina sobre Jornalismo Literário

Crédito: Arquivo Pessoal Carolina Padreca opina sobre Jornalismo Literário
"Informações rápidas e muitas vezes sem profundidade têm tomado conta da mídia"
A escolha da profissão é sempre uma tarefa árdua, pois com 17 ou 18 anos o adolescente já tem que ter maturidade suficiente para arcar com a decisão sobre seu futuro profissional, que por sua vez ditará o cotidiano inclusive do setor pessoal do indivíduo.
 
Jornalismo! Essa foi minha escolha e minha escola. Porém, 11 anos após meu ingresso na faculdade de comunicação me entristeço em perceber que a poesia, a literatura, o jornalismo interpretativo está sendo esquecido pela maioria dos meus colegas e principalmente pelos meios de comunicação.
 
Informações rápidas e muitas vezes sem profundidade têm tomado conta da mídia, seja ela impressa, online, televisiva ou radiofônica.
 
É por isso que me inspiro quando leio um bom livro, um bom artigo ou alguma reportagem completa, principalmente sobre cultura.
 
Se escolhi o ofício de jornalista foi por saber que somos capazes e mais ainda responsáveis por levar a informação à comunidade. Mas é fato que esse ato de “informar” pode ser feito de diversas maneiras. Eu optei pelo caminho do interpretativo, do literário.
 
O leitor, em matérias feitas por esse viés, é capaz de sentir os aromas, ouvir os sons, ver os movimentos. É você possibilitar à leitura o contato com o fascinante mundo do imaginário.
 
Cada personagem é dono de uma vida, uma história, que numa simples nota informativa perde toda a riqueza. Os detalhes bem colocados são fundamentais para expor ao leitor toda simpatia, carisma e dedicação do personagem, que lembrando, é real.
 
Abaixo, escrevo sobre Clarice Lispector, escritora, jornalista, mulher espetacular que há pouco tempo conseguiu isso, explorar os sentimentos e trazê-los de forma forte e poderosa para a leitura.
 
Espero assim, que os leitores do itu.com.br tenham uma deliciosa leitura e se animem em conhecer mais tanto sobre Clarice, como sobre o Jornalismo Literário (Interpretativo), duas de minhas paixões.
 
A sensibilidade de Clarice
A escritora que fez do jornalismo seu ofício e da literatura inspiração
 
A ucraniana Haia Lispector nasce em 1920, durante uma viagem dos pais, que estavam de mudança para a América. Dois anos depois a menina chega à Maceió e por iniciativa do pai, toda a família muda de nome. Ela, então, passa a se chamar oficialmente Clarice.
 
Apesar de passarem por algumas dificuldades, Clarice consegue estudar, não somente na escola regular, como faz aulas de piano, hebraico e iídiche. No mesmo ano (1930) que se naturaliza brasileira, se inspira na arte e escreve "Pobre menina rica", peça em três atos, infelizmente perdida com o tempo.
 
É neste momento que nasce a escritora que até hoje encanta pelas leituras enérgicas, profundas e atemporais.
 
A diferença dos textos de Clarice para com as demais crianças da época estava no fato de não descrever pessoas nem situações, mas apenas sentimentos e sensações, não se enquadrando nas literaturas infantis: eram textos maduros demais para sua pouca idade.
 
De lá para o Rio de Janeiro, já adolescente, cursa a língua inglesa e inicia o ofício de professora particular, mais uma vez para ajudar nas despesas da casa. Na fase adulta, após trabalhar como tradutora de textos científicos para revistas e também como secretária de advogados, passa a exercer o cargo de jornalista, escrevendo reportagens em jornais, mas não deixando de confeccionar textos literários.
 
Publica seu primeiro romance "Perto do coração selvagem", em 1942. Lauro Escorel a partir da leitura de um exemplar a descreve: "personalidade de romancista verdadeiramente excepcional, pelos seus recursos técnicos e pela força da sua natureza inteligente e sensível".
 
Neste mesmo ano, sua vida dá mais uma guinada e consegue seu primeiro registro profissional como escritora no jornal "A Noite". Nunca deixando de estudar, cursando agora antropologia e psicologia. No ano seguinte além de se formar em direito, casa-se.
 
É autora de contos, crônicas, artigos e romances, em mais de 27 livros como "O Lustre" (1946), "Laços de Família" (1960) e a tão comentada obra de despedida da autora: "A hora da estrela" (1977).
 
Clarisse foi uma personalidade que se entregou ao Brasil de corpo e alma. Incansável estudiosa, tinha sede de aprofundamento e aprendizado nos diversos setores humanos, talvez procurando entender esse turbilhão de emoções e sentimentos que norteiam o homem.
 
Questionadora, Clarice fez do jornalismo, das palavras escritas, seu ofício e sua vida.
 
Era uma artista. Respirava e vivia de sua arte. Sem a escrita, como ela mesmo descreveu, se sentia “amordaçada, presa, perdida”.
 
A inquietude, outra forte característica da autora, proporcionou e ainda proporciona aos leitores, contínua reflexão sobre os verdadeiros valores da vida, fornecendo chaves para desfazer as amarras que impedem as pessoas de lutarem por grandes e audaciosos objetivos. Seus escritos fornecem novos ângulos de visão sobre o cotidiano e o interior dos leitores. É uma conexão, mesmo póstuma, da alma de Clarice com cada novo olhar.
 
Trechos de suas obras traduzem de forma clara, as contradições existentes e muitas vezes esquecidas, como transbordam sensibilidade:
 
"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
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