Opinião

Publicado: Quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Silvana Novelli critica atos de vandalismo em Itu

Crédito: Arquivo pessoal Silvana Novelli critica atos de vandalismo em Itu
"Se muitos deles são movidos por um direito ferido - o da expressão, eles ferem o direito dos outros de pintarem suas casas como bem entenderem"
Os muros da nossa cidade estão tomados por pichação de todo tipo. As mais clássicas são aquelas letras que ninguém normal entende.
 
O lado mais cruel disso tudo é obrigar, sem direito à outra opção, o dono de um muro ou da fachada de uma casa a aceitar uma estética que só os colegas do “pixo” - assim mesmo com x como eles preferem - conseguem entender.
 
Se muitos deles são movidos por um direito ferido - o da expressão, eles ferem o direito dos outros de pintarem suas casas como bem entenderem. Sem contar a poluição visual, que resulta da soma dos tais rabiscos angulosos com faixas e outdoors publicitários espalhados por todos os cantos, indicando um desrespeito com os habitantes e turistas.
 
A pichação também contribui com a violência em várias situações, desde os proprietários das casas e estabelecimentos comerciais que se sentem lesados com a ação dos pichadores, como também os próprios integrantes destas Ganges e grupos rivais de todas as partes da cidade que entram em confronto disputando territórios.
 
A pichação está sendo uma incansável competição entre os inúmeros grupos, que se arriscam tomando os espaços verticais e horizontais nos bairros e centro histórico. Só existe a vontade de pichar. Não existe ideologia ou sentido nas palavras, apenas piorando o contexto urbano que já é tão complicado.
 
A cidade encontra-se suja e em muitos lugares destruída. Muitos jovens perderam o respeito pelas paredes e bancos de praças, monumentos e até hospitais. Não só isso, eles destroem também os poucos telefones públicos da cidade.
 
Para alguns pichadores, pichar é romântico, é identidade, autoafirmação e ideologia. É pura arte urbana. Para outros é emoção, vício. Geralmente eles escolhem lugares movimentados bem no centro histórico, pois estes lugares seriam “os lugares mais vigiados da cidade” e, à medida que são mais vigiados possuem mais “adrenalina”, ou seja, pichar o centro tem um “quê” de aventura.
 
Aliás, legalizar a pichação - não é de interesse deles. Como eles dizem, "o risco de ser pego, a adrenalina de pichar lugares difíceis, fazer amizades, é o que importa. É por isso que é tão difícil parar de fazer".
 
Ouvimos tantas estórias como a do dono de um comércio que pintou em seu muro: Padaria tal, pães e doces e etc. Veio a prefeitura e mandou apagar por ser proibido. O proprietário apagou, pintou seu muro e veio o pichador. Agora está bonito, tudo pichado. A Prefeitura não voltou...
 
Arte ou vandalismo?  Depende do ponto de vista. Definir o que é pichação para quem já foi vítima do ato significa indignar-se.
 
O ato de pichar é crime ambiental. O artigo 63 da Lei 9605 – “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” prevê pena e multa e, se a pichação foi realizada em um local tombado, a pena se agrava. Já para os adolescentes, a penalidade é uma medida socioeducativa: a interrupção da liberdade, prestação de serviço à comunidade, reparação do dano ou simplesmente uma advertência por parte do juiz. No entanto, para as vítimas, a punição quase não existe e, se existe, não é suficiente.
 
Uma saída seria organizar oficinas para adolescentes e adultos de capacitação em Grafitagem, com o objetivo de profissionalização com a orientação de professores especializados. Outra opção seria convidar artistas do grafite para participar de projetos de revitalização de algumas fachadas e muros da cidade.
 
É preciso deixar bem claro a diferença entre o Grafite e a Pichação. O grafite está presente desde a antiguidade. Tem relação com a arte do desenho com fins estéticos e é executado em locais com permissão do proprietário. A palavra grafite tem origem italiana que significa escrita feita com carvão. Alguns destes grafites ainda podem ser vistos em sítios arqueológicos espalhados pela Itália. No final da década de 1960, jovens do Bronx em Nova Iorque utilizaram esta forma de expressão usando o spray. O grafite é uma das manifestações artísticas do hip-hop. Os artistas do grafite costumam assinar seus próprios nomes em seus trabalhos e falam sobre questões políticas e sociais.
 
Já a pichação é entendida como o ato de escrever em muros por vandalismo sem autorização apenas com o intuito de depredar o patrimônio público.
 
As pichações podem ter um caráter efêmero, desaparecem com o tempo ou com a interferência do proprietário do local que decide mais uma vez pintar as paredes. Mas resta uma pergunta: quem é efêmero aqui – a pichação ou a cidade?

Silvana Novelli é ceramista com estúdio de cerâmica em Itu. Realiza projetos de design em cerâmica e ministra cursos de modelagem e pintura para adultos e crianças. Cursou Artes Plásticas pela Faculdade Belas Artes de SP e Técnica em cerâmica.
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