Opinião

Publicado: Quinta-feira, 10 de maio de 2012

Francisca Moraes: as pequenas mentiras e a cultura nacional

Cuidado, as mentiras organizacionais não param no indivíduo.

Crédito: Arquivo pessoal Francisca Moraes: as pequenas mentiras e a cultura nacional
'Muitas pessoas, na tentativa de conseguir uma boa colocação, incluem pequenas (e até grandes) mentiras em seu currículo'

Na cultura brasileira, pequenas mentiras são vistas de forma leve, sem grandes problemas. Quem nunca disse que chegou com 10 minutos de atraso por causa de um acidente de trânsito, embora a razão tenha sido acordar mais tarde do que devia? Ou, ainda, passar “por acaso” na casa do (a) ex-namorado(a), exatamente na hora em que sabe que ele(a) chega do trabalho?

Nossa tolerância é tão grande que as pequenas mentiras acabam extrapolando os aspectos pessoais e invadem o ambiente da empresa. Dizer que o cliente não estava, para justificar que esqueceu de ligar na hora marcada ou matar a avó dois anos seguidos se tornaram pequenas mentiras relativamente comuns. O problema não são as mentiras, pequenas ou grandes. A principal questão são as consequências que elas podem gerar: um grande negócio perdido pela ligação telefônica que o funcionário não fez na hora em que o cliente estava precisando do produto ou serviço ou a produção atrasada, porque o funcionário faltou sem avisar e não deixou as informações necessárias para a continuidade do trabalho.

Mas as mentiras organizacionais não param no indivíduo; muitas vezes elas se tornam tão comuns para as pessoas que acabam interferindo nos negócios e na imagem da organização. Lembro de um caso em que um funcionário se esqueceu de pedir os dados para as outras unidades da empresa e gerou um relatório de vendas baseado em informações desatualizadas. Os diretores resolveram fechar duas filiais, porque os resultados não estavam de acordo com o investimento, o que mostra que uma pequena mentira pode ter consequências catastróficas.

E nesse processo, muitas informações são publicadas mesmo se criadas em decorrência de uma pequena mentira. Muitas empresas publicam os dados divulgados por outras organizações sem avaliar se estão corretos e tornam grandes e públicas pequenas mentiras criadas para justificar uma falha pessoal. Basta pesquisar na Internet para identificar vários casos em que as informações divulgadas são baseadas em dados não confirmados, sem fontes confiáveis.

Muitas pessoas, na tentativa de conseguir uma boa colocação, incluem pequenas (e até grandes) mentiras em seu currículo e quando são desmascaradas após a contratação, ficam com uma imagem negativa perante o mercado de trabalho. É bom lembrar o que Plutarco, filósofo grego que viveu em uma época onde a moral e a ética tinham importância, dizia: "A reputação é como fogo: uma vez aceso, conserva-se bem, mas se apaga, é difícil acendê-lo".
Pense bem: quanto sua vida e sua carreira estão baseadas em pequenas grandes mentiras?

Francisca Moraes é graduada, mestre e doutoranda em Administração e especialista em gestão de pessoas. Fundadora da Tangram Social.

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