Erick Rodrigues: a televisão está correndo atrás da classe C
Novelas retratam a nova classe média.
Camila Bertolazzi
Nos últimos tempos, um termo vem sendo repetido à exaustão nas diversas editorias dos noticiários. Da economia ao universo da televisão, só se fala na classe C! Essa nomenclatura está sendo usada para designar uma parcela da população brasileira que ascendeu socialmente e conquistou poder de compra. Mas, o que isso interfere no universo da TV? Senão vejamos...
Em março, o jornal "O Estado de S. Paulo" divulgou os resultados de um estudo realizado pela Cetelem BNG, empresa do grupo BNP Paribas, que afirma que o número de brasileiros que chegaram à classe C foi de 40,3 milhões entre 2005 e 2011. Isso fez com que a porcentagem da população pertencente a essa classe também saltasse de 34% para 54%. Também foi constatado um aumento na renda média familiar geral e que foi impulsionada pela classe C, única faixa da população que obteve crescimento de seus ganhos.
E, quem faz parte da classe C? De acordo com a pesquisadora Sônia Bueno, da empresa Latin Panel, que é ligada ao Ibope, o brasileiro típico da classe C é aquele que possui renda familiar de R$ 800 a R$ 2.000. Seguindo os critérios usados nesse estudo, que teve os resultados divulgados pela revista "Isto É", os membros dessa classe também podem ser definidos por possuírem o equivalente a um ou dois televisores, máquina de lavar, geladeira, automóvel e um banheiro. Além disso, eles têm o ensino médio completo ou incompleto como grau de escolaridade.
A ascensão dessa classe média que adquiriu poder de compra chegou ao mundo da TV e, de uns tempos para cá, domina o noticiário especializado. Percebendo o ganho de espaço dessa faixa da população, os canais decidiram (ou estão decidindo) investir nesse público e direcionar seus produtos para essa parcela de espectadores, que cresce cada vez mais.
A TV Globo, por exemplo, anda buscando conquistar esse tipo de telespectador com sua teledramaturgia. A novela "Fina Estampa", que terminou em março, trazia uma protagonista (Griselda, interpretada por Lilia Cabral) que levava uma vida humilde, sustentando a família e trabalhando duro. O Pereirão, como era conhecida por conta de seu trabalho como faz-tudo, enriqueceu quando ganhou um prêmio da loteria e subiu na vida, mas não perdeu seus ideais e integridade. A trama da mulher pobre que troca de classe social conquistou a audiência e, logo, a possível identificação da classe C com a personagem foi usada como justificativa para o sucesso da novela.
Ainda na seara das novelas, a estreia de "Avenida Brasil" no horário nobre reacendeu a discussão sobre a vontade de agradar a classe C. A trama das nove da Globo é visivelmente mais popular do que as últimas produções apresentadas no horário. Personagens moradores do subúrbio carioca, hábitos e costumes da classe média e até mesmo um núcleo concentrado em um lixão são elementos presentes ali que buscam conquistar o telespectador mais "popular". A trilha sonora do folhetim, escrito por João Emanuel Carneiro, também parece querer agradar o público C. Sertanejo universitário, pagode e músicas “chiclete” do momento compõe o cd da novela.
Em entrevista ao portal Uol, o diretor-geral da TV Globo, Octávio Florisbal, afirmou que a nova realidade da classe C muda os hábitos de consumo de mídia. "No passado, você não tinha que se preocupar tanto. 'Estou fazendo uma televisão para todos, mas com foco em classe média'. Hoje não. Eu tenho que fazer para todos. Aquela divisão de que 80% do público é das classes C, D e E continua, mas eles têm mais presença, mais opinião. Eles ascenderam. Têm um jeito próprio de ser. Você tem que atendê-los melhor. Eles têm que estar mais bem representados e identificados na dramaturgia, no jornalismo. Antes, você fazia uma coisa mais geral. Hoje, não. A gente tem que ir, principalmente nos telejornais locais, ao encontro deles. Eles têm que ver a sua realidade retratada nos telejornais. Eles querem ter uma linguagem mais simples, para entender melhor", disse Florisbal.
A Globo também procurou agradar a classe C em outro horário de novela. “Cheias de Charme”, folhetim de estreia dos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, apresenta o universo de três empregadas domésticas que, por conta de um clipe na internet, tornam-se cantoras e alcançam o estrelato. Com uma história que tem como cenários uma favela e as dependências dos empregados nas casas dos patrões, o folhetim quer se aproximar do telespectador de classe média, mostrando hábitos típicos de suas vidas na TV.
Mas, as novelas da Globo são apenas uma maneira de exemplificar esse movimento. A conquista da classe C e a vontade de retratá-la também estão presentes nas séries, no jornalismo e nos programas das mais diversas emissoras de televisão aberta brasileira. E, já vem ganhando espaço na TV paga! Em 2011, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a TV por assinatura conquistou três milhões de novos adeptos e chegou a 12,7 milhões de assinantes no Brasil. Para Alexandre Annenberg, presidente da Associação Brasileira da Televisão por Assinatura (ABTA), esse número cresceu devido à expansão da classe C, que adquiriu maior poder aquisitivo.
Para prender a atenção do espectador C, muitos canais pagos estão adequando sua programação. Alguns canais da rede Telecine, por exemplo, estão apresentando seus filmes em versão dublada, deixando o áudio original e a legenda apenas para o telespectador que possui o recurso de escolher, no controle remoto, a melhor forma de assistir. Os canais Sony e Fox também aderiram a essa tendência e estão apresentando muitas de suas séries dubladas.
Pessoalmente, e sem desmerecer o trabalho dos dubladores, prefiro assistir filmes e séries legendados, pois acredito que as emoções e expressões que a história quer passar são melhores transmitidas em áudio original! A TV paga sempre serviu como uma alternativa para aqueles que queriam fugir da dublagem, já tão presente na TV aberta. Mas agora, após a popularização dos pacotes de televisão por assinatura e a descoberta de que o áudio em português dá mais audiência, os programas “fechados” estão “fazendo escola” com a TV aberta.
Tentando conquistar a "famosa" classe C, muitos canais de TV estão revendo ideias e conceitos de programas. Porém, essa espécie de "segmentação de conteúdo" pode ser um tiro no pé! Isso pode ajudar a nivelar por baixo a qualidade dos trabalhos apresentados já que, tecnicamente, esse público gosta de ver apenas coisas mais "simples". Mas, também pode haver um lado positivo: essa busca pode impulsionar os autores e criadores a inventarem novas histórias e formatos e, assim, sa&i