Publicado: Quinta-feira, 16 de julho de 2009
Bruna Gavioli em busca de uma identidade para Itu
Camila Bertolazzi
O Festival de Artes de Itu, originado em 1993 pelo conhecidíssimo Maestro Eleazar de Carvalho, idealizador de diversos festivais como o de Campos de Jordão e de Fortaleza, e primeiro maestro da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), encontra-se em profunda crise de identidade.
Após participar efetivamente das apresentações, mostras e oficinas realizadas nas seis últimas edições do festival (2004 – 2009), embrenhei-me numa análise superficial das realizações deste em comparação com outros festivais idealizados pelo mesmo maestro, assim como a atitude político cultural da Secretaria de Cultura do Estado e da Prefeitura da Estância Turística de Itu.
A partir da análise percebe-se mudanças estruturais na efetivação do Festival de Artes de Itu, estas ora positivas ora negativas.
Dentre as benéficas evidencia-se a descentralização do eixo Centro histórico e comercial para a ampliação das atividades ao bairro Cidade Nova, bastante distante do núcleo anteriormente mencionado beneficiado no processo de democratização do acesso à cultura; o material de divulgação esteticamente apreciável, orgânico e plástico; o logotipo, após anos de tentativas frustrantes, finalmente está focado na mudança erudito para popular com o referencial da cultura caipira da região (quadro do pintor ituano Almeida Junior, O Violeiro, 1889) e as circunferências bastante modernas e joviais; a parceria firmada com a ONG Abaçaí Cultura e Arte, atual produtora do festival; a programação bastante diversificada passando pelas artes cinematográficas, visuais, dramáticas e cantadas, dando destaque para grupos importantíssimos realizadores de fantástico trabalho na área musical e de pesquisa etnomusicológica como: A Barca, Mawaca e Nhambuzim, assim como a valorização dada aos tocadores de viola de Votorantim, Araras, Taboão da Serra e Itapetininga.
No entanto encontramos certa ignorância ou equívoco da Secretaria de Cultura estadual e municipal, retratadas pelas mídias consultadas (sites www.itu.com.br, Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e TEM MAIS – Globo) ao exaltar a mudança de caráter para o popular ou a dicotomia entre a cultura erudita e popular.
Inicialmente, coloco-me em questionamento com a frase de político da região: “Itu tem música popular, quem quer música erudita que vá a Campos de Jordão”. Será que realmente podemos enquadrar a música, ou as artes e a cultura nestas duas formas de classificação, ou será que o que temos é uma única cultura elitizada em contradição a uma popularizada?
A cultura, como um todo, cheia das suas possibilidades de significado (Kluckholm levanta na década de 50, mais de 150 sentidos para a palavra; Abraham Moles na década de 70 encontra mais de 200), de forma muito simplória por mim considerada, pode ser vista como todas as formas de representação social humana, sendo assim, será que a fórmula adotada é válida? Será que conseguimos efetivar o distanciamento proposto?
Temos uma vasta programação nos atuais nove dias de festival (já chegamos a um mês em áureos tempos), no entanto, para um festival popular, ainda encontramos resquícios de banda sinfônica, camerata de cordas, orquestra de metais e orquestras de câmara. Ou melhor, se temos um festival par, com a convivência entre popular e erudito, por que são mínimas as apresentações onde o erudito se faz presente?
Itu realmente é uma cidade ímpar, não entrarei ao mérito da questão em desvendar os “por quês” de tantos acontecimentos ilustres desta localidade, nem nos “por quês” da escolha do Maestro Eleazar de Carvalho, conhecido internacionalmente e com gabarito suficiente, veio a instalar na pequena Itu mais um de seus apoteóticos festivais.
O que está em jogo, e este sim são os pontos negativos do festival, é esta procura por uma identidade; a ausência de divulgação independente da confecção de filipetas e cartazes ilustrativos; a ineficiência do poder local e seus funcionários completamente desinformados e desinteressados quanto à programação, horários e eventos do festival; a centralização uniformizadora dos espaços dos eventos (independente da extensão ao bairro Cidade Nova), antes tínhamos “toda uma cidade” em seus espaços públicos e privados agindo em prol ao festival como: as praças, as igrejas, o quartel e seus espaços, o shopping, o clube, o teatro e as escolas; a minguada quantidade de mostras e principalmente a ausência de oficinas.
Contamos na edição atual com apenas três oficinas: Prática de Cantos Populares Brasileiros e Oficina de Percussão, ambas na Secretaria de Cultura e Oficina de Grafitti no Centro Administrativo Regional do Pirapitingui. Somente em alusão há anos anteriores, podemos destacar oficinas de instrumentos de cordas, madeiras, metais e percussivos, juntamente com a prática de orquestra e de banda sinfônica; oficinas de técnica vocal, canto lírico e popular (infantil e adulto); história da música, da arte e da literatura; danças brasileiras; circo e teatro, além do espaço disponibilizado para apresentações dos alunos e professores como as belíssimas apresentações para coro e orquestra.
Sendo assim, o que noto a partir de minha pequena experiência enquanto artista e cidadã, não é o cheiro de cultura sendo exalado na cidade de Itu, mas apenas mais uma demonstração da potencialidade novamente desperdiçada.
Somos alvos da politicagem local e estadual, não somos foco de grandes eventos como: Virada Cultura, Osesp Itinerante e Revelando São Paulo – Interior, afinal não temos nem um teatro local, mas temos um festival onde novamente se gasta muito em grandes apresentações como: Toquinho, Tetê Espíndola, Demônios da Garoa e Almir Sater.
Não questiono a qualidade destes artistas e grupos, mas a intenção de trazê-los, afinal são foco de grandes aglomerações onde a população ao mesmo tempo em que nota as real
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