Opinião

Publicado: Quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Jonas Soares Souza: Afonso de Taunay e a história de Itu

Crédito: www.itu.com.br Jonas Soares Souza: Afonso de Taunay e a história de Itu
"Afonso de Taunay especializou-se como o grande mestre do bandeirismo paulista."
Afonso d’Escragnolle Taunay nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de julho de 1876, quando seu pai Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843 – 1899), Visconde de Taunay, presidia o governo da Província. Formou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1900 e já no ano seguinte estava lecionando Química e Física no Curso de Engenheiros Industriais da Escola Politécnica de São Paulo. Dedicando-se aos estudos historiográficos, Afonso de Taunay especializou-se como o grande mestre do bandeirismo paulista e do período colonial brasileiro. Sua vasta erudição permitiu-lhe produzir uma imensa bibliografia, desenvolver estudos sobre terminologia científica e preparar edições comentadas de outros autores. Taunay foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira de Letras; professor da Escola Politécnica de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Dirigiu o Museu Paulista (Museu do Ipiranga) de 1917 a 1945 e em 1921 recebeu a incumbência de organizar o Museu Republicano “Convenção de Itu”.  
 
Em 1940 Taunay decidiu revestir as paredes do saguão do Museu Republicano com painéis de azulejos historiados sobre a formação de Itu e do território paulista. A área do saguão que se segue à larga “porta carreira” (porte cochère) da entrada é enclausurada por grossas paredes de taipa de pilão e abriga a caixa da escada de dois lances que dá acesso ao pavimento superior. Essas paredes tinham um rodapé alto, decorado com motivos geométricos. A idéia era o “aproveitamento do vasto e nobre saguão do edifício para a rememoração dos velhos fastos locais por meio de composições históricas, reprodução de documentos iconográficos valiosos e efígies de ituanos de projeção no cenário nacional, provincial e municipal”. Depois de explicitar a idéia, ele a justificava: “Dispõe Itu, em seus fastos já mais que tri-seculares, de sobejos elementos para que tal decoração se pudesse fazer com facilidade, tal a cópia de assuntos a serem evocados em seus anais, ilustrados, às vezes, por episódios relevantes e, em outras ocasiões, por lances cheios de interesse ou pelo menos pitorescos”. De acordo com o próprio Taunay, a inspiração da escolha de painéis de azulejos para a materialização daquela idéia veio da fachada azulejada do edifício do Museu e também do gosto da época. Entretanto, certamente ele conhecia o painel de azulejos executado por José Wasth Rodrigues para o Obelisco da Memória, localizado na Ladeira da Memória, e os trabalhos encomendados pelo então prefeito Washington Luís para a Casa da Maioridade, Pouso de Paranapiacaba e o Cruzeiro Quinhentista, localizados no Caminho do Mar, todos de 1922.
 
Iniciado em 1942, o projeto foi considerado concluído em fins de 1945, ano da aposentadoria compulsória de Taunay. A princípio ele pensou em dois conjuntos de painéis decorativos: o primeiro “puramente documental”, contendo reproduções da iconografia de Itu produzida em diferentes momentos por diferentes autores; o segundo formado de composições pictóricas representando fatos da história local nos séculos XVII, XVIII e XIX. Taunay deu conta dos dois conjuntos no artigo Painéis do Museu de Itu, publicado em março de 1945 na revista Administração Pública.
 
A partir desse artigo é possível perceber que, na medida em que se desenvolvia o projeto, Taunay acrescentava novos temas ao conjunto dos painéis de composição. Por exemplo, já próximo do final do trabalho ele resolveu coroar o revestimento das paredes com medalhões de efígies de personalidades ituanas destacadas nos cenários municipal, regional e nacional. Desta forma, a produção e colocação dos painéis imaginados por Taunay se prolongaram até 1952.
 
Os azulejos historiados se apresentam em três séries: painéis de composição, reproduções de documentos iconográficos e retratos de personagens ituanos. Cada um dos painéis, especialmente aqueles da série “painéis de composição”, recebeu um comentário do seu criador. Os textos dos comentários foram reunidos no Guia do Museu Republicano “Convenção de Itu”, impresso em janeiro de 1946. Na abertura do Guia, ele afirma que esperou a conclusão dos trabalhos de azulejamento para realizar a sua publicação. No mesmo Guia ele avalia o mérito do seu projeto: “Supomos que esta evocação dos principais lances da história local na cidade, por meio de avultada série de composições, é a primeira a se fazer no país. E quer nos parecer que nunca realizada em larga escala sistematizada”.
 
Taunay convidou o artista plástico Antonio Luiz Gagni para desenvolver o seu projeto. Gagni era ceramista renomado e autor de composições de cenas de São Paulo colonial para edifícios públicos, residências e igrejas da capital. Com Edmondo Gagni fez pinturas para igrejas do interior paulista. Em Itu, além do trabalho para o projeto de Taunay, Gagni pintou azulejos para edifícios da Prefeitura Municipal e Fábrica de Tecidos São Luís. Os recursos financeiros necessários à execução do projeto do Museu Republicano seriam providos pela Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda e Prefeitura Municipal de Itu.
 
No processo de definição das composições Taunay fez várias sondagens e por fim sugeriu como modelo os “magníficos” azulejos do claustro da Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, e o do seu vizinho Convento de São Francisco, na cidade do Salvador. Na Igreja da Ordem Terceira os azulejos espalham-se pelo corredor de entrada, átrio, sacristia, claustro, corredores laterais da Igreja, escadaria, salas do despacho e do consistório, galeria da nave e outros compartimentos. Os azulejos do claustro e da sala do consistório estão relacionados diretamente com a história de Lisboa.  
 
Taunay, que buscava “algum modelo bem típico brasileiro” para os painéis do Museu Republicano, inspirou-se nesses painéis d
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