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Publicado: Terça-feira, 3 de junho de 2008

Jornalismo na veia

Crédito: Arquivo Pessoal Jornalismo na veia
"Eu queria mesmo era curtir meu momento como jornalista, pois para mim aquilo era um sonho que estava sendo realizado"
Por Camila Bertolazzi
 
Cresci ouvindo que apesar de todos os esforços dos jornalistas eles nunca são, de fato, profissionais reconhecidos pelos serviços prestados. Mesmo assim não desisti do meu sonho e entrei para a faculdade em 2006. Para a minha surpresa as primeiras coisas que ouvi dentro da sala de aula foram os pontos negativos da profissão que escolhi. Além do baixo salário e das 24 horas trabalhadas no dia, o que mais me chocou foi ouvir que as nossas reportagens, fruto de várias pesquisas e muito trabalho, têm validade, e que ela não passa de um dia.
 
Devo confessar que, na época, mesmo sem experiência, achei no mínimo estranho, que mestres e doutores pensem que todo o empenho para contar histórias sirva apenas para forrar as necessidades dos animais de estimação dos leitores. E o pior, dois anos se passaram e muitos ainda insistem nesse assunto. Pobres dos que pensam assim.
 
Provavelmente para os leitores, telespectadores e tudo mais, a notícia dura apenas aquele instante. Mas e para nós jornalistas, qual é a duração real do nosso trabalho? Eu defendo que é eterna, afinal, nunca alguém arrancará de mim os aprendizados que conquistei durante as pesquisas, as entrevistas, as fotos e finalmente os textos que chegaram aos que os leram.
 
Somando as reportagens do itu.com.br aos poucos textos feitos para a faculdade, eu já participei direta ou indiretamente de mais 50 histórias de diferentes editorias. Escolhi duas delas para compartilhar algumas experiências que certamente mexerão comigo pelo resto da vida; aquelas que serão contadas para os meus filhos, netos e quem sabe bisnetos.
 
No começo do ano passado tive a idéia de fazer uma reportagem sobre as principais ONGs de Itu. Visitei seis delas: Associação Amigos dos Autistas de Itu (Amai), Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Itu (Apadai), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Escola de Cegos Santa Luzia, Lar e Creche Mãezinha e Mais Vida. O meu objetivo inicial era mostrar as dificuldades enfrentadas pelas entidades para ajudar, mesmo com poucos recursos, as pessoas que as procuravam. O enfoque mudou completamente depois que percebi que a vontade de superar os problemas é tamanha que ultrapassa qualquer barreira.
 
Vivi tardes inteiras ao lado daquelas pessoas. Depois de conversar com os responsáveis – na maioria das vezes muito receptivos –, ficava por vários minutos apenas observando as atitudes, os gestos, as expressões e principalmente os olhares. Aprendi muito com elas que, mesmo com problemas físicos, mentais e sem muitas condições financeiras, são felizes e aproveitam a vida como se realmente fosse o último dia.
 
Em uma das minhas visitas a Amai, eu não me contive e chorei. Lembro-me como se fosse hoje. Aquela foi a primeira vez na minha vida que tive contato direto com autistas. Por várias vezes falei OI, mas ninguém me respondia. Queria brincar, mas ninguém me dava atenção. Senti como se eu não estivesse ali, como se ninguém me visse ou ouvisse. Até que, de repente, um menino me puxou pela mão e me levou até a porta. Nessa hora eu escutei: “Ele quer que você abra para ele”. E eu fiz. Só depois fiquei sabendo que eles nos usam como instrumentos para as suas vontades.
 
Eu recomendo. Programe-se e passe uma tarde com aquelas eternas crianças. Com certeza será uma experiência de vida inesquecível.
 
Outro acontecimento histórico da minha vida foi a oportunidade de ver de pertinho o papa Bento XVI quando ele veio ao Brasil. Sempre fui muito religiosa, defino-me como uma católica praticante, mas devo confessar que isso pouco me importou naquele momento. Foram várias horas diante do papa. Primeiro no encontro com os jovens no Pacaembu e depois na canonização do Frei Galvão. Mas foram poucos os minutos que eu parei para escutar o que estava sendo pregado aos milhares de fiéis. Eu queria mesmo era curtir meu momento como jornalista, pois para mim aquilo era um sonho que estava sendo realizado.
 
Os melhores jornalistas do mundo estavam lá. Olhava para um lado e via os "bam-bam-bans" da Globo; virava para o outro e me deparava com câmeras fotográficas gigantescas que custam, no mínimo, 10 vezes mais do que a minha. Tudo era novidade para mim. No meio de tanta gente importante que até então eu só tinha visto pela tv, estava uma menina de apenas 18 anos com pouquíssima experiência, mas com uma vontade enorme capaz de superar todas as dificuldades. Era tudo muito assustador e encantador ao mesmo tempo.
 
Um ano depois, eu ainda tenho gravado na memória cenas simples, mas responsáveis por esse enorme passo dado na minha vida profissional.
 
Estas duas experiências revelam para m
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