Opinião

Publicado: Quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Deborah Dubner - Censura livre?

Crédito: Alan Dubner / www.itu.com.br Deborah Dubner - Censura livre?
Trago o desejo de agir com humanidade, respeito e acolhimento.
Há tempos que me deparo com o problema da censura no Brasil. Embora essa palavra carregue um significado rançoso de ditadura e proibição, eu a vejo como uma bússola indicativa, a me orientar sobre o que é ou não adequado às idades dos meus filhos.
 
No entanto, a cada dia que passa, fico mais confusa e incomodada. Comecemos pelo cinema: levo meu filho de 8 anos para assistir um desenho animado, com censura livre. Na mesma sala, encontro crianças com idade até menor, como 4 ou 5 anos. Antes de começar o filme, os trailers com volume estonteantemente alto, apresentam filmes que claramente não são apropriados para as idades que se encontram naquele local. Censura livre?
 
Então passemos à ala dos DVDs. Não é de hoje que tenho que convencer minha filha de 14 anos a respeitar a censura dos filmes. Afinal, diz ela: “Todas as minhas amigas podem, menos eu!”. Isso me traz a grande indagação: será que é tudo bem para todas as mães do mundo que seus filhos assistam filmes impróprios para a idade?
 
Vamos então ao mundo da Internet, amado e habitado pelas crianças e jovens, e assustador para a maioria dos adultos. Como os pais lidam com essa questão? Eu normalmente vejo duas atitudes: proibir totalmente ou liberar totalmente. Nas duas posições, o motivo costuma ser exatamente o mesmo: os pais não conhecem e não sabem como fazer. Os mais radicais, proíbem. Os mais permissivos, liberam. Como lidar com a censura no mundo digital? Nessa área há um longo caminho a ser percorrido pelos pais que quiserem aprender, a começar pelos eficazes filtros de conteúdo e seus limitadores de tempo/horários. Mas é preciso querer aprender!
 
Ampliando ainda mais a discussão, entremos no universo dos programas, que incluem shows e baladas. Me espanta o fato de certos hábitos e situações se tornarem “normais”. Eu não me considero uma mãe “careta”. Converso com meus filhos abertamente sobre os assuntos de maior tabu e continuo achando que o lar é – ainda - o pilar principal para uma educação saudável. Motivo pelo qual sei que a cada dia preciso aprender, aprender, aprender e aprender. E nessa estrada, me deparei com uma situação que eu literalmente não sabia o que fazer. Quando você ouve de uma filha de 14 anos que “todas as amigas podem ir” em um programa proibido para menores de 18 anos, a sensação chega a ser indescritível. Afinal, onde estou? Que mundo estamos construindo? Com quem posso conversar? O que eu estou vendo que os outros pais não estão vendo? O que eu não estou vendo que os outros pais estão vendo? Essas foram algumas das minhas indagações.
 
Nesse caso, o programa a que me refiro é o Schin Folia, que acontece em Itu. Com cantores de primeira linha, essa febre carnavalesca contagia jovens e adultos, independente da idade e do valor dos ingressos (nada baratos!). Que festa é essa? Com a promessa de muita animação, os 10 mandamentos do Folião já dão a dica de como se comportar: "Beije muito. Beije e não se canse de beijar" (item 7 do manual), e "Não crie problemas, não paquere a mulher do próximo, principalmente se o próximo estiver muito próximo" (item 8 do manual).
 
O que é esperado de mim, afinal? Ao que tudo indica, que eu seja como as outras mães e ache normal comprar um ingresso onde está escrito que é proibido para menores de 18 anos e que será exigido documento original. Afinal, diz minha filha, “é claro que vai dar pra entrar, porque nas outras vezes minhas amigas entraram!”.
 
Minhas dúvidas se amplificam. Não com relação a deixar minha filha ir, porque isso, tranquilamente, já está decidido. Na nossa modesta opinião, minha e do meu marido, esse programa, com censura de 18 anos, não é indicado para adolescentes de 14. Mas eu me pergunto: será que estou sozinha? Ou será que cada mãe e pai, na solidão de não saber o que fazer, cede à pressão dos filhos, dos outros pais, da mídia e da sociedade em geral?
 
Trago nesse artigo o meu sentimento de impotência diante de fatos que me estarrecem.
Trago a solidão de me sentir um estranho no meu próprio ninho.
Trago o medo de fazer escolhas erradas.
Trago a tristeza de não ter um espaço para compartilhar com outros pais essa questão.
Trago raiva, ao ver a mídia tentando se impor soberana a valores que para mim são tão importantes.
Trago o desejo de agir com humanidade, respeito e acolhimento.
Trago a vontade de aprender sempre.
 
Mas acima de tudo, trago a pergunta: o que está ao meu alcance fazer?

Deborah Dubner é mãe e esposa apaixonada, filha e amiga dedicada, editora do www.itu.com.br, escritora da vida, buscadora do caminho interior, amante da música e profundamente interessada nos assuntos que envolvem relacionamento humano.
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