Cultura

Publicado: Terça-feira, 7 de agosto de 2007

O Sol jamais se põe

O Sol jamais se põe
"O Sol jamais se põe. Se pudermos nos elevar acima da sombra do mundo, veremos que ele continua lá, apesar de no fim da tarde não podermos vê-lo"
“É possível escrever chorando. Exatamente isto estou fazendo, sem saber se vou concluir meus pensamentos ou se eles terão uma seqüência lógica de raciocínio inteligível.
Nem sei tão pouco se vale a pena escrever; talvez sim, pelo que possa levar de compreensão e entendimento àqueles que estão passando, já passaram ou possa a vir passar por experiência igual. Ninguém está livre de um acontecimento semelhante. Eu pensei que estava...
A morte de um filho com 20 anos de idade, não se descreve. Sente-se! E como se sente! Alguma coisa de dentro de nós (não se sabe o que) é arrancada de maneira brutal, ficando lá, um vazio sem definição. Seu primeiro pensamento é contra Deus. POR QUÊ, DEUS??
Essa pergunta martiriza, esfola, desgasta, amassa, desespera, fere, quase mata.
Os primeiros dias da ausência do filho amado parecem ser de expectativa pela volta de uma viagem.
A realidade, no entanto, começa abrir seus braços e você principia penetrá-la. Mas não quer. Não aceita. Luta contra. Desvia-se; mas não consegue. Por que ela é real. É uma “realidade” real. É uma verdade. Brutal, inquestionável, inaceitável; mas é a realidade.
Somente quem passou por essa amarga experiência, poderá senti-la.
- “Paizão, vamos jogar tênis?”
- “Célião, estou sem ‘grana’, me arruma algum?”
- “Amigão, estou com saudades de você; um beijo e um abraço”.
- “Atenção turma, chegou a alegria da casa”.
- “Paizão, que tal estou? Tenho um encontro com uma ‘gatinha’ linda de morrer”  
- “Mamãe, a morte é um prêmio”
Frases, palavras, gestos, atitudes, que jamais serão ouvidas ou vistas novamente. A presença não mais presente. Isto dói terrivelmente.
Consolo? Não existe.
- “Onde está seu filho caçula?”
- “Está viajando! Volta Logo! Não. Vai demorar!”
Ninguém pensa que um fato destes possa ocorrer com sua família. Mas acontece. E quando acontece, o mundo desmorona. Tudo o mais parece não ter importância.
O dia e a noite são uma só!
O trabalho e o descanso passam a ser quimeras de uma rotina desagradável.
A luz não tem mais brilho. E o tempo passa... Inexorável.
-“Parece que não vou agüentar!”
A saudade é imensa, gritante. Dolorida.
Entretanto, depois dos primeiros dias, a fé começa a ressurgir, abalada que foi com o trágico acontecimento.
E a fé, é o único lenitivo; a única esperança; maior conforto.
É impossível viver sem fé!
E ela nos diz que o filho não morreu; ele apenas chegou primeiro na viagem que todos fazemos. Está nos esperando porque foi mais rápido.
A fé nos fala que existe morte. Apenas uma transformação.
“O Sol jamais se põe. Se pudermos nos elevar acima da sombra do mundo, veremos que ele continua lá, apesar de no fim da tarde não podermos vê-lo”. Mas ele está lá. Brilhando. Aquecendo. Transformando as criaturas.
Assim é a vida.
Não existe a morte.
Vivemos como um dia de Sol, e passamos para o outro lado, apesar de não nos verem, brilhando como sempre. Na face do Criador. Numa curta dimensão.
O filho já está com Ele. Apesar de não o enxergarmos; mas o coração “vê” que está. A fé determina que ele se encontra lá. Talvez, rindo de nossa condição miserável de viventes. Quem sabe, agradecendo por estar livre deste mundo cão.
Não ouvimos mais a sua voz; mas ela ficará eternamente em nossos ouvidos. Brincando, caçoando, rindo, chorando!
Deus não seria Pai se não tivesse motivos, embora incompreendidos, para nos fazer sofrer dessa maneira.
Na Natureza nada se perde tudo se transforma.
Se esta lei é válida para os vegetais, por que não para nós, animais da primeira espécie?
O filho se transformou. De um jovem, puro, amigo, inteligente, sensível, “humano”, bonito, compreensivo, em um espírito quase perfeito. Merecimentos, tem de sobra. Qualidades, sem parâmetros.
Moço perfeito, amigo incondicional, filho amantíssimo, irmão estimadíssimo.
Depois das lágrimas (que voltam a intervalos freqüentes) , resta a esperança de que agora, longe dos olhos, ele está velando por nós, seus pais, seus irmãos, seus amigos. E está feliz, tenho certeza.
Esteja com Deus, meu filho”!
 
 Célio Pasquotto
 
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