Cultura

Publicado: Segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Há pais que ficam órfãos dos filhos

Por Deborah Dubner


Há pais que ficam órfãos dos filhos. Talvez seja essa a maior dor humana que alguém possa suportar.
Ninguém sabe por que o destino reserva esse capricho para essas pessoas, que certamente não mereceriam passar por tamanha dor.
Mas é assim. Sem resposta e sem piedade.
 
Quem é pai ou mãe sabe que esse é um dos principais medos que os aflige. O coração aperta, a barriga encolhe, só de imaginar viver uma situação assim.
 
Mas há os guerreiros, que não apenas imaginaram isso. Viveram. E seguem vivendo. O sol continua nascendo depois de cada noite escura e eles buscam forças em Deus, na família e amigos para colocar o pé direito na frente do esquerdo e seguir a passos lentos, pequenos, um dia após o outro.
 
O tempo do relógio deixa de existir. A razão para levantar da cama se esconde. As cores das árvores, dos pássaros e do céu ficam nubladas e opacas, sem qualquer brilho ou esperança do amanhã.
 
E assim seguem os dias. Por muito, muito, muito tempo.
 
Mas esse mesmo tempo, que tirou a vida de seus filhos e que ofuscou a chama do amor e da beleza, se mantém perto e amigo. Ele não solta os braços do abraço e aos poucos ajuda o coração a sossegar do desespero e encontrar um lugar diferente para morar essa dor.
 
Uma dor sem nome e sem dono, sem por que e sem casa, começa a encontrar um certo tipo de acalanto para se encostar. O tempo, amigo, continua presente na impossível jornada de seguir vivendo com alegria.
 
Conheci muitos pais que passaram por isso. Todos nós conhecemos e sempre ficamos sem palavras de conforto, pois essa dor ninguém quer sentir. Mas pude notar que – de fato – eles seguem vivendo.
A saudade e a dor inquebrável continuam vivas, mas com uma intensidade menor, e menor, e menor. A vida muda para sempre. Mas continua sendo – ainda - mais forte do que a dor.
 
A esses pais – guerreiros da dor do amor – este espaço é dedicado.
 
Comentários