Cotidiano

Publicado: Terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Itu, a cidade que se reinventou

Por Fabio Steinberg.

Crédito: Arquivo pessoal Itu, a cidade que se reinventou
"Hoje, todos os privilegiados que vivemos aqui são parte de um laboratório vivo que está criando uma sociedade nova e saudável"

Estava deixando para trás o trânsito caótico de São Paulo, em direção a Itu. Era um daqueles dias insuportáveis, pois chovia e dava a impressão que todos os motoristas da Capital tinham pressa para chegar aos seus destinos. Até que precisei fazer uma manobra com o carro para esquerda em uma avenida entulhada de carros, todos em movimento lento. Dei a seta e começava a mudar de faixa quando um sujeito particularmente irritado não só cedeu o espaço para a minha manobra, como acelerou e entrou de forma agressiva no espaço da pista que eu pretendia ocupar. Ainda deu tempo para ele demonstrar sua bravata grosseira ao volante, com um gesto que é melhor não descrever.

Uma hora depois, o episódio, de tão corriqueiro, já estava esquecido e assimilado na memória quando cheguei ao centro de Itu. Por coincidência me vi de novo dirigindo em um pequeno trânsito. Outra vez precisei fazer outra conversão à direita. Só que desta vez foi bem diferente. Os demais motoristas não só respeitaram a minha necessidade, como gentilmente abriram espaço para que eu pudesse seguir o meu caminho sem stress.

Esta é a diferença que faz de Itu uma cidade adorável. Morar aqui deixou apenas de ser um sonho de consumo de quem procura qualidade de vida. Tornou-se uma forma de escapar da desumanidade crescente que toma conta das grandes metrópoles brasileiras. Aqui, as pessoas se conhecem pelo nome e se cumprimentam, respeitam os pedestres, oferecem café e água no comércio, e sempre têm tempo para ouvir o próximo. Os prestadores de serviço se tornam com facilidade amigos, cumprem a palavra, não exploram o cliente. Menos estressados, trabalham bem e com um sorriso nos lábios. Mas coitado de quem confundir este comportamento amável e profissional com subserviência. Ledo engano. Aqui, todos os trabalhadores têm dignidade e orgulho do que fazem.

Itu poderia ser uma dessas cidades históricas que entrou em decadência econômica e a seguir se transformou em museu aberto. Ou pior, virar dormitório dos que trabalham nos polos econômicos da vizinhança, como Campinas, Sorocaba ou mesmo Indaiatuba. Felizmente isto não aconteceu. Uma migração de alta qualidade, seja de paranaenses, paulistas de cidades menores, ou gente cansada de viver sob o stress de São Paulo e outras cidades grandes, trouxe sangue novo à pequena Itu. Sem falar em sua vocação turística. Hoje, todos os privilegiados que vivemos aqui são parte de um laboratório vivo que está criando uma sociedade nova e saudável, e que um dia servirá de exemplo às demais. Graças à boa infraestrutura de estradas e à tecnologia que democratizou o acesso à informação e comunicação, é perfeitamente possível trabalhar e viver em Itu sem prejuízo pela distância dos grandes centros econômicos.

Há problemas em Itu? Com certeza. Mas não serão corrigidos da noite para o dia. Este é um processo de aprendizado. Por isto, como consumidores, precisamos exigir mais de quem entrega produtos e serviços. Como eleitores, devemos escolher bem nossos representantes no governo, e exigir deles ações que beneficiem o desenvolvimento social, econômico e ecológico. Como cidadãos, precisamos nos preocupar mais com a preservação da cidade em si, e ajudar os menos favorecidos, tendo por meta a erradicação das diferenças de educação, saúde e bem estar.

Tenho muito orgulho de fazer parte deste grupo que vive em Itu. Aqui não existem ricos e pobres, mas apenas gente como a gente, que busca o bem e um futuro melhor para si e descendentes. Cultivo as amizades que fiz e anseio pelos futuros amigos que acumulo a cada dia. Sem falsa modéstia, eu me considero mais ituano que os que aqui nasceram. Afinal, diferente deles, como carioca, eu é que escolhi esta cidade para viver.

Fabio Steinberg é administrador e jornalista, trabalhou na área de comunicação de grandes multinacionais, e depois por conta própria como consultor. É colaborador da revista Viagens S.A. onde também assina uma coluna, além de escrever no blog Viagens & Negócios (www.blog.steinberg.com.br).

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