Cotidiano

Publicado: Segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cerca de 5 mil pessoas participam da 44ª Romaria de Itu a Pirapora

Evento, anual, é marco da religiosidade ituana.

Crédito: Leandro Sarubo Cerca de 5 mil pessoas participam da 44ª Romaria de Itu a Pirapora
Romeiros no início de sua manifestação de fé

Veja as fotos desta notícia no Flickr

Por Leandro Sarubo

A 44ª Romaria de Itu a Pirapora, evento coordenado pela Associação dos Romeiros de Itu, mais uma vez reuniu grande público, atraindo a atenção dos motoristas que passaram na manhã do dia 3 de julho pela Rodovia Marechal Rondon e observaram a concentração de carros, cavalos e charretes no local.

Quem passou pela avenida Eremildo Maffei antes das 7 horas já observava fiéis se dirigindo à Ponte Nova, onde começaria a travessia pela fé que, em cada um dos seus dois dias, segundo a organização do evento, atrai entre 2 e 2,5 mil pessoas, não apenas de Itu, mas também de Porto Feliz, Tietê, Indaiatuba, Salto, Sorocaba e São Paulo, cidade que tem mesmo gerado muitos turistas para Itu.

Eram pessoas de todas as classes sociais e idades, reunidas logo às 8 da manhã, ainda com neblina, no gramado próximo ao ponto de largada, marcada para uma hora depois. A confraternização era efusiva. Muitos dos romeiros, por residirem em outras localidades, encontram seus amigos e companheiros apenas nesta oportunidade. Fotos, não mais em papel, mas em celulares e telinhas de LCD, mostram como tudo mudou no último ano. 

Dona Maria, 57 anos, era uma das poucas pessoas que não participava da grande festa pré-romaria. A maioria de seus conhecidos não estava presente ali. E neste ano, sua participação seria mais introvertida, mais pessoal. Porque ela não tinha fotos de sua filha, mas sim um compromisso, conforme ela mesma descreveu antes de guardar o terço que estava em sua mão.

Vítima de diabetes, Elcia, de 30 anos, perdeu a visão e desenvolveu um problema grave de saúde, o qual sua mãe não quis detalhar. “Eu venho aqui representar minha filha. Eu a trouxe aqui quando completou 6 anos, [a Romaria] foi uma beleza que conheci ainda menina, quando morava em Tatuí. Ela é uma menina muito religiosa, mas agora não pode mais sair. Venho aqui pedir a Deus que cuide de minha filha, que cuide de mim para eu poder amá-la e cuidá-la até a morte. E Nossa Senhora, Bom Jesus e o senhor meu Deus vai fazer o que é bom para nós”, diz.

A prece da valente Maria será feita, assim como a de muitas outras participantes, de pés no asfalto e na estrada de terra. Isso porque quem não traz animais tem a opção de participar como pedestre ou na carreata. O movimento dos “sem sela” representa mais da metade dos participantes.

O relógio marca 9 da manhã. O Padre Marcelo Alessandro da Lima, da Paróquia São Luiz, pelo segundo ano responsável pela benção e pela celebração da missa que acontece sempre no domingo da Romaria, às 5 da manhã, se prepara para subir o trio elétrico que fica à frente do carro que conduz a imagem do Bom Jesus do Pirapora e Nossa Senhora da Candelária, padroeira de Itu. Antes das palavras aos romeiros, ele declarou porque a manifestação nunca esmorece.

“O povo ituano é um povo religioso. Tem toda uma história, uma tradição, uma caminhada e isso ficou, e é passado de pai para filho, de geração em geração, e eu acho muito legal isso. Eu acredito que isto é para sempre”, diz o padre, que abençoaria a todos e rezaria a Ave Maria em seguida.

A impressão do atual titular da missa que lota a igreja de Pirapora, não é falha. Conforme dado do presidente da Associação dos Romeiros, Sandro Barizon, “tem aumentado o número de integrantes da Romaria, mesmo as pessoas achando que ela é obsoleta. E ela não é. Ela é um ato de fé”.

No trajeto cada um expressa sua religiosidade da maneira que entende melhor. Alguns poucos destoam do tom mais reflexivo, introspectivo, exibindo as flâmulas de romeiros, vendidas a dois reais, como bandeiras da seleção e tocando música sertaneja alta. Mas não houve reclamações, pelo menos no trecho que a reportagem acompanhou.

Após as paradas no caminho, a celebração em Pirapora na madrugada e a volta para Itu, o compromisso é selado com a benção final na Igreja de Nossa Senhora da Candelária (Matriz), em 2010 celebrada no dia 4 de julho, onde muitos fiéis que não puderam percorrer a celebração ao santuário de Bom Jesus de Pirapora na cidade.

E ano que vem, podem ter certeza, terá mais. Pois, como lembra Valdemar Cortijo, um dos romeiros que participam desde o início da Romaria, a participação é uma tradição que passa de geração em geração. “Eu ia com meu pai. A gente ia pegando gosto pela coisa e hoje nós levamos nossos filhos, nossos netos. Eu acredito que esta manifestação não acaba.”

Leia também: Guerreiros de fé! Romeiros demonstram sua devoção em ruas ituanas

Comentários