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Segunda-feira, 22 de julho de 2013

ANÁLISE: Falta caridade no busão e no coração

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Paciência, compreensão e caridade resolvem tudo.

SALATHIEL DE SOUZA, DO RIO DE JANEIRO

 

Nos trabalhos de hoje para esta cobertura da JMJ 2013, vi-me obrigado a circular o dia inteiro carregando minha bagagem. Mesmo operando no modo econômico, isto significa que andei pra cima e pra baixo pelo Rio de Janeiro com: uma pequena mala com rodinhas, com mais ou menos 15 quilos; minha tradicional mochila, com mais ou menos 10 quilos.

Hoje me desloquei da Rodoviária Novo Rio até a Cidade da Fé (Riocentro), um trajeto de aproximadamente 40 quilômetros. Tive uma boa noção do que é a vida do cidadão comum carioca, indo e vindo em ônibus e vans, trens e metrôs, pelas mais diversas regiões da cidade. Meu alento é que, por onde passava, sempre havia voluntários da JMJ para auxiliar com as informações necessárias.

No fim da tarde, resolvi ir até o Centro de Imprensa no Forte de Copacabana. O jeito era enfrentar mais 35 quilômetros na viagem de volta. O horário era de quase rush. Entrei no ônibus quase vazio. Para não atrapalhar a circulação no corredor, coloquei a mala e a mochila em um banco desocupado, ao lado de uma senhora, ficando em pé perto das mesmas.

A certa altura um senhor, com aparência de uns 45 anos e jeito de cansado, olhando para mim com um jeito muito bravo, disse:

- Você não vai sentar, não é?

- Aqui? Não dá... As malas não cabem comigo sentado – respondi.

- Você é folgado, o assento não é pra ser ocupado com malas.

- Meu senhor, coloquei as malas aqui no banco para não atrapalhar a passagem no corredor. Estou carregando este peso desde cedo. Além do mais, este ônibus não tem nenhum tipo de bagageiro. Então, se o senhor puder ter a caridade de compreender, eu agradeço...

Ainda com jeito de incompreensão, o homem nada mais falou. As pessoas que estavam perto assustaram. Pelo olhar, algumas se fizeram solidárias comigo. Foi então que pensei: falta caridade no busão e no coração.

Estaria aquele homem tão cansado e aborrecido ao ponto de não ver todo o meu trabalho com aquela bagagem? O que teria acontecido com ele durante o dia? Qual a razão do mau humor ou da falta de paciência para com um estranho, que no caso era eu?

Não há como saber. Mas pude constatar novamente algo que vejo e revejo de vez em quando: há pessoas cujo coração está cada vez mais fechado e duro para as situações alheias, pensando apenas no próprio umbigo.

É por isso que a Igreja Católica conclama não apenas a juventude, mas toda a humanidade, a incrementar mais a vida com o tempero da caridade. Às vezes uma pitada de paciência e compreensão, uma acolhida com sabor de amizade, resolvem mais do que qualquer pequeno ou grande conflito.

Como disse o Papa Francisco em seu primeiro discurso nesta primeira visita ao Brasil, precisamos ir para além das fronteiras do que é humanamente possível ou do que já estamos conformados. Precisamos, de modo urgente, criar um mundo de irmãos e não de concorrentes.