ANÁLISE: O número de católicos é importante?
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| A estatística não se encaixa na lógica divina. |
SALATHIEL DE SOUZA, DO RIO DE JANEIRO
Às vésperas da chegada do Papa Francisco ao Brasil, o instituto Datafolha divulgou pesquisa cujo resultado afirma ter caído, de 64% para 57%, o número de pessoas que se declaram católicas em território nacional.
A pesquisa foi realizada entre os dias 6 e 7 de junho. Menos de 4 mil pessoas foram entrevistadas, em 180 cidades brasileiras. Não desconsidero as técnicas de amostragem e de estatística, que são ciências matematicamente comprovadas e aprovadas. Porém, vale lembrar que temos hoje mais de 190 milhões de habitantes espalhados pelos mais de 5 mil municípios brasileiros.
A grande mídia sempre insiste com esse tipo de pesquisa, como se ela fizesse muita diferença. Claro que ela é importante no que diz respeito a mostrar algumas tendências. Vários organismos da Igreja Católica se baseiam em estudos como este para identificar os fenômenos ligados à religiosidade.
Para o brasileiro comum, que pratica a fé, conhecer tais números não altera em nada sua religiosidade. Não conheço nenhum católico que mudou de religião por causa de uma pesquisa. Tampouco conheço algum evangélico ou espírita que fizesse o caminho rumo à Igreja Católica pelo mesmo motivo.
Acredito que o aspecto mais válido a se ressaltar na referida pesquisa do Datafolha é a quantidade dos que afirmam praticar a fé. Somados os católicos, os evangélicos pentecostais, os neopentecostais e os espíritas kardecistas, chegamos a um total de 88% de pessoas ligadas a alguma denominação. Ou seja, apenas 12% não se disseram seguidoras de alguma religião inspirada pelo Cristianismo.
A Igreja Católica vem há anos tentando valorizar cada vez menos este tipo de sondagem. Não há mais espaço para divisões e sectarismos. A linha de ação evangelizadora do Papa Francisco, assim como a de muitos católicos mundo afora, é a do ecumenismo.
Vale lembrar que ser ecumênico não é fazer vista grossa às diferenças doutrinárias entre as várias denominações religiosas e tampouco abrir mão do que cada qual considera valores de sua fé. Ser ecumênico é valorizar o diálogo e a tolerância, priorizando os valores que unem as religiões e respeitando as pequenas diferenças.
A manchete espalhada pela grande mídia, sobre a “diminuição” do número dos que se declaram católicos, poderia muito bem ter sido escrita em outro tom. Poderia ser: “Cerca de 88% dos brasileiros são ligados ao cristianismo”. Mas aí entra sempre o fator do sensacionalismo que, afinal, é o que faz vender jornal no Brasil.
Quanto ao número, para a Igreja Católica não importa tanto se formos 64% ou 57%. Faz muito tempo que valorizamos mais a qualidade dos nossos fiéis do que a quantidade. Afinal, não estamos em uma gincana.
Por fim, vale lembrar que a matemática e a estatística, ciências humanas, não se encaixam perfeitamente na lógica divina. As pesquisas esquecem que o Cristianismo começou com apenas um homem, filho de carpinteiro, junto com outros 12 homens rudes da Galiléia.


