Comemorações de São João perdem identidade
Fato ocorre em razão da mercantilização das festas.
Renan Pereira
Esta época do ano, marcada pelas festas juninas, faz lembrar a cultura e a tradição de uma comemoração que é histórica. Pipoca, pé de moleque, milho verde e outras comidas típicas são algumas das características difíceis de esquecer. As brincadeiras também não ficam para trás. As barraquinhas de pescaria fazem a alegria de crianças e adultos.
Hoje, no entanto, as comemorações caipiras estão perdendo sua tradicionalidade. Redes de fast-food patrocinam festas juninas de escolas particulares com barracas de comidas estrangeiras como hambúrgueres, que tomaram o lugar de maria-moles e paçocas. As prendas, antes feitas em casa, dão lugar a brinquedos eletrônicos, como videogames. A falta de compromisso com a tradição acaba por descaracterizar a festa popular.
"A festa junina é a festa cristã mais folclórica no Brasil", afirma Maria Chantal Amarante, secretária de educação infantil das Escolas Waldorf. A festa junina, ou festa de São João, chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses e foi incorporada aos costumes da alta corte. Mais tarde, foi adotada pela aristocracia rural da Região Nordeste, que agregou costumes e situações corriqueiras da vida no campo.
Segundo Maria Chantal, é importante promover a simbologia desta comemoração, que vai desde a fogueira até as danças. "Temos que ressaltar a qualidade humana da festa por meio das músicas regionais e dos instrumentos feitos aqui", ressalta ela. Para a pedagoga, a festa se liga às diferentes culturas que formam o povo brasileiro e resgata as brincadeiras tradicionais. "As prendas, quando feitas pelas crianças, incentivam a criatividade e o lúdico, o brincar", conclui.
Gincana de Coca-Cola
Um exemplo da perda das tradições juninas é uma gincana que foi realizada pelo colégio Sion para as festas deste ano da escola, noticiada pela Folha de S.Paulo. Os alunos, crianças a partir de três anos, deveriam levar para a escola a maior quantidade possível de latas de Coca-Cola para ganhar prêmios, e a gincana não aceitava outros tipos de bebidas, como chás ou sucos. Os refrigerantes seriam vendidos na festa junina da escola.
A ação do colégio preocupou pais que não querem que seus filhos pequenos consumam o refrigerante. Em entrevista para o jornal, a psicóloga Maria Helena Masquetti, do Instituto Alana, afirmou que o aval que uma escola dá a um refrigerante pode ser muito mais forte para a criança do que o aval dado por uma propaganda de TV ou um ídolo infantil.
Fonte: www.criancaeconsumo.org.br
22/06/2010