Publicado: Quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Roberta Cassani em "querer, poder e conseguir"
Camila Bertolazzi
Sou ituana de coração, preocupada com o futuro cultural da nossa cidade e com uma formação sólida para os nossos filhos; pois além de profissional, esposa e mulher, sou mãe, e como todas as mães, vivo momentos de ansiedade considerando que o distanciamento de meus filhos para que possam cursar uma boa universidade é certo: irão em busca da concretização do seus próprios sonhos e desejos.
Não quero ser injusta afirmando que Itu não possua boas escolas ou universidades, muito menos questiono a competência de nossos educadores, que é excelente! Todavia as opções de cursos são bastante limitadas.
Muitos jovens deixam nosso município para cursar universidades que ofereçam algo mais do que nossas universidades possam lhe oferecer: cursos diferenciados, infra-estrutura, e incentivo a pesquisas científicas com reconhecimento no mercado de trabalho.
A privilegiada localização entre Itu/SP/Campinas/Sorocaba/Piracicaba encurta distância entre o município e grandes centros, mas isto não é suficiente para evitar que muitos ituanos deixem suas origens e migrem para outras localidades. Jovens fascinados pela vida cosmopolitana.
O fato de morar em cidades que privilegiem o trânsito entre o interior e áreas urbanas desenvolvidas cultural e economicamente, faz com que vivenciamos diferentes hábitos sociais e práticas culturais, o que influencia em nossa linguagem e comportamento. Esse fator é intensificado quando existe um relacionamento diário em ambiente universitário, local onde encontramos um mundo intelectual, cultural e político menos provinciano ao qual estamos até então habituados, e as fronteiras de pensamentos são ampliadas.
O desejo de nossos jovens em manter-se em uma metrópole, ingressar em uma universidade e buscar inserção profissional e investimento em uma carreira, contribui pela opção em não regressarem a sua terra natal, pois acreditam que não conseguirão aplicar nela os conhecimentos adquiridos fora.
Em Itu presenciamos o crescimento de um mercado de trabalho informal: as terceirizações que precarizam as relações de trabalho e diminuem as ofertas de empregos estáveis, multiplicando os “bicos”. Outras vezes, o que resta são empregos na área de turismo (pouco valorizada, em minha opinião), ou no comércio local.
Como cidadã, não, além disso, permito-me dizer que a falta de políticas públicas vem se arrastando ao longo da história e em nosso município não é diferente, é difícil ou até inaceitável compreender porque o município não consegue atrair um volume maior de investimentos para nossa cidade, considerando a facilidade de acesso pela posição geográfica.
Municípios vizinhos desenvolvem-se cada vez mais, instalam parques industriais, oferecem benefícios fiscais para a instalação de grandes empresas que são geradoras de renda e empregos.
O progresso certamente não é acompanhado só de boas condições sociais, culturais, financeiras, mas também pelos não tão bem aceitos efeitos colaterais de cidades desenvolvidas: trânsito, violência, poluição. Contudo se continuarmos em nossos pensamentos arcaicos continuaremos assistindo de braços cruzados nosso município ficar aquém do que desejamos para nossos filhos.
Particularmente convivo em ambiente universitário devido a escolha de uma pós-graduação, e posso afirmar que nas poucas vezes em que estou na universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, referência em várias linhas de pesquisa científicas, imagino o quanto estamos para trás principalmente no quesito “cultura”, porque é a partir do conhecimento que fazemos as coisas mudarem e acontecerem.
Desta forma, minha opinião é baseada em realizações sócio-culturais e apoio político para nosso município, já que tivemos eleições este ano e os ânimos e projetos foram renovados. Espero que nossas autoridades políticas possam, além de outros projetos, trabalhar para que todo conteúdo histórico de Itu, importante nacionalmente, possa ser convertido em benefícios culturais, sociais e em contrapartida turístico para nossa cidade.
Estender parcerias, iniciadas com a USP, que hoje administra nosso acervo histórico republicano, ou outras universidades federais, estaduais para que um braço destas universidades seja estendido a Itu, trazendo investimentos de órgãos importantes como FAPESP, CAPES e até mesmo investimentos empresariais para pesquisas científicas.
Roberta Cassani é Nutricionista Clínica, com consultório em Itu. Especialista em Cardiologia pela SOCESP; Membro da Diretoria do Depto de Nutrição da SOCESP; Mestre em Investigação Biomédica pelo HCFMRP/USP; Doutoranda em Clínica Médica pelo HCFMRP/USP.
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