Entrevista com o artista Guataçara Monteiro
Artista paraense leva o Brasil para uma exposição no Louvre, em Paris.
Jéssica Ferrari
Itucombr - Fale-nos um pouco de sua história e do seu despertar para as artes
Sou artista plástico, natural de Castanhal- PA. Estou no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, desde 2003, quando ganhei uma bolsa de estudos e acabei ficando por aqui. A partir de 2010 fixei residência e atelier na cidade de Igaratá/SP.
Desde minha infância a arte é minha companheira, em meu sangue corre o talento de bordadeiras, costureiras e artesãos diversos. Meu pai era contador de histórias bem famoso na cidade e nossa família se sustentava da venda de frutas, sorvetes e brinquedos. Meu pai tinha uma fábrica de pipas, o que me possibilitou crescer colando papeis e mexendo com as cores. Na adolescência fazia cartões e quadros com colagens de papéis e materiais naturais para vender na escola e ter meu próprio dinheiro, nessa época pesquisava elementos do folclore e arte indígena da Amazônia, seja a arte rupestre ou os grafismos das cerâmicas marajoaras, para agregar um valor cultural as peças.
Como não tinha dinheiro para comprar materiais, meu pai me ajudou a fazer canetas e pincéis à base de bambu e fibras naturais. Fazíamos tintas com resinas e argilas coloridas e eu perfumava os cartões com raízes amazônicas como a priprioca e a raiz do capim cheiroso. Vendia esses cartões e ajudava nas despesas de casa sem precisar deixar a escola.
Formei-me em técnico em agricultura e concorri a algumas bolsas de estudo Em 2003 fui morar em Jacareí, interior de São Paulo, onde resolvi ficar e tentar sobreviver de minha arte.
Em 2008, ainda na faculdade de artes, fiz uma pesquisa grande sobre minha infância na Amazônia, a fauna, a flora, o folclore, os brinquedos, as histórias que meu pai me contava, as comidas que gosto... Todo esse universo foi transformado em preenchimentos que deram vida a três exposições: "Bichos da Amazônia”; “Meus brinquedos”; “Amazônia em cores e encantos". Essas 3 mostras individuais circularam por várias cidades do interior de São Paulo e capital.
Em 2009 me formei em Licenciatura em Artes Visuais pela UNIVAP em São José dos Campos. Nessa época, ensinava arte e artesanato em projetos socioculturais da prefeitura de Jacareí. Para minha surpresa, o trabalho foi muito bem aceito em escolas de toda a região.
Em 2012 mais de 100 mil alunos de escolas públicas e particulares haviam estudado minhas obras em sala de aula. E esse número só vem crescendo e se espalhando para outros estados como MG, PA, RJ, ES, MT e RS. Todo esse carinho é um grande presente. De 2008 para cá, foram 19 exposições individuais e 4 coletivas.
Itucombr – Você se inspira em algum artista? Quais suas influências?
Minha maior inspiração vem do meu pai e da minha família, em seguida tenho influências da arte rupestre e arte indígena da Amazônia, do artista primitivista Clóvis Junior e de Beatriz Milhazes.
Itucombr – Como surgiu essa oportunidade de expor em Paris? Como foi a seleção das obras?
Lendo uma reportagem na Internet sobre exposições de artes plásticas na Europa, conheci o trabalho da curadora Heloíza Azevedo que representa vários artistas brasileiros na Europa. Entrei em contato com ela apresentando o meu trabalho, sem muitas expectativas. Dez minutos depois ela me liga super empolgada e me convida para expor no 19º Salão de Arte Contemporânea do Corrousel du Louvre em Paris.
A escolha das obras foi feita pela curadora, ela veio pessoalmente a São José dos Campos prestigiar a exposição "No Coração do Rio- Natureza, Arte Popular e Fé no Vale do Paraíba/SP" e ao meu atelier em Igaratá. Combinamos qual seria o tema para eu pintar e levar para a coletiva. Quatro obras em acrílico sobre tela, nas dimensões de 70x70cm com os temas: Floresta, Nativa, Encantamento e Dança das frutas...
Com muita alegria, levarei a minha raiz amazônica para representar o Brasil no salão.
Itucombr – Qual a mensagem que deseja passar com seu trabalho?
O que mais gosto de pintar é natureza brasileira e a riqueza contida em nossa fauna e flora. Meu trabalho carrega um protesto, ele chama a atenção para as questões do desmatamento, contrabando de animais, extinção das espécies, poluição das águas e o desaparecimento de nossa cultura tradicional, dentre outras questões... Mas o meu protesto é sempre com beleza, sempre mostrando para as crianças que a beleza e o bem devem prevalecer, que devemos acreditar em nossos sonhos e trabalhar pela multiplicação do bem, pela preservação de nossa cultura e da natureza.