Opinião

Publicado: Quarta-feira, 20 de junho de 2007

Efe alerta: Ciclo decadente no Parque do Varvito

O que aconteceu com o maior patrimônio ecológico de Itu?

Crédito: Lilian Araujo Sartório / www.itu.com.br Efe alerta: Ciclo decadente no Parque do Varvito
O Parque do Varvito é o segundo parque geológico do país, e têm a missão de proteger uma rocha sedimentar muito rara em todo o Mundo. Essa formação, encontrada somente no Sul da África, Austrália, e Itu, são diferentes entre si, e comprovam além da glaciação cíclica ocorrida no Sudeste da atual América Latina – a Gondwana, há milhões de anos – comprova também o fenômeno conhecido como Pangéia, que originou a separação do Grande Continente.
 
Assim, é quase redundante dizer que o parque atrai visitantes de todas as partes. De turistas comuns, e suas famílias, a colégios inteiros, faculdades, e estudiosos de outros países: todos procuram, de alguma forma, conhecer um pouco mais sobre a evolução dos continentes, e um pouco mais sobre as mudanças ocorridas no planeta.

Todo esse conjunto, portanto, tem importância cientifica inestimável devido suas características e disposição. É como um tesouro aos geólogos que visitam o parque e comprovam suas teses; um pedaço ainda presente de uma realidade distante há milhares de centenas de anos atrás.
 
Porém, o parque também apresenta suas próprias mudanças, mais recentes, e estas não são cíclicas como a rocha que guarda. Quando foi inaugurado, em 1995, foi aberto como um grande orgulho para a cidade de Itu. Um jardim com mais de 44 mil metros quadrados, um tesouro arqueológico, e turístico também.
 
Com alamedas bem formadas, árvores frondosas pelo caminho, ajardinamento perfeito com canteiros de cores diferentes e bem aparados. Com rochas espalhadas por todos os lados, placas indicativas, explicativas, e educativas. Em cada canto os bebedouros feitos da mesma rocha – um reforço temático ao parque – e, nas árvores, os nomes científicos. Quando os visitantes desciam por uma das alamedas laterais, era quase que conduzido por um som inconfundível: a Cascata do Antanho. A água caía formando um pequeno lago ladeado por plantas, e paredões de Varvito. Uma das fotografias mais disputadas, e de maior destaque nos mapas e folders da cidade.
 
Mais à frente, a Trilha dos Bentônicos ainda era cercada para proteger o rastro dos pequenos crustáceos. Existentes há mais de 280 milhões de anos, deixaram ali a sua marca na tentativa de sobreviver. Os iconofósseis eram uma das principais atrações, portanto, possuía um painel próprio para explicar sua formação. O Anfiteatro Gondwana já foi palco de apresentações do Festival de Artes, do mestre Eleazar de Carvalho; a Gruta da Lágrima fotografada por todos os ângulos; e o Lago Jurássico visitado e admirado por muitas crianças.
 
Entretanto, visitar o parque, e procurar por todos estes pontos – lindos, encantadores, e bem cuidados – tendo em mãos um dos folders da cidade, é constatar justamente o contrário. Infelizmente, pouco do descrito acima, da agradável experiência, da fantástica descoberta, quase nada resta, perdido na ruim administração que quase não o mantém. Não fosse a rocha, e seu poder intrínseco de encantar quem a conhece, o parque viveria as moscas, ignorado em farrapos.
 
Basta lembrar da Cascata do Antanho que caía em lençóis debruçando-se pela Praça do Eco. Primeira vista do turista, hoje um lago seco, com algumas rochas, e nem a lembrança do eco, nem da água, muito menos da cascata. Uma secura dá as boas vindas ao visitante. Na Trilha dos Bentônicos bem mais do que o rastro dos crustáceos, as marcas atuais são das ferramentas que, criminosamente, extraíram grandes lajes para calçar a frente da Igreja Matriz. Milhões de anos, de informações científicas, de admiração dos turistas, retirados sem o conhecimento nem daqueles que estão ali para proteger a rocha. Incoerência tamanha que quem cala consente: não vejo, não ouço, não sei de nada.
 
Aliás, quem visita o parque sem o acompanhamento de um Guia, ou Monitor, corre o risco mesmo de não saber de nada. Os painéis, que antigamente, ficavam espalhados por todos os lados, já não existem mais. Em alguns casos, os totens permanecem, verdes, intactos, mas o tempo já comeu o papel que continha imagens e textos explicativos. Os únicos, ainda sobreviventes, ficam no chamado Galpão Didático, que ironia.
 
Contudo, acredito na revitalização do Parque do Varvito, e no momento de cobrarmos maiores atitudes. Não será a musealização da cidade que trará de volta a boa imagem, muito menos as carruagens, nem o Parque dos Exageros. Será planejamento e integração, responsabilidade e respeito, conhecimento técnico no turismo aliado à habilidade política: articulação positiva. Verbas federais para o Turismo, se perdem na falta de projetos que as captem.
 
Prótur, onde está a força do empresariado, e os ideais que o constituíram como Movimento Pró Turismo?
 
COMTUR, onde foi parar a discussão da sociedade civil, e sua responsabilidade de sempre questionar, e auxiliar, o Poder Público?
 
NG+, onde está a união dos Guias de Turismo, a vontade, ação, que sempre lhe foram características?
 
Estudantes de turismo, onde esconderam seu grito, suas idéias, e seu pensamento renovador?
 
Secretaria de Turismo, onde está seu planejamento estratégico na gestão de políticas públicas?
 
Espero que possamos, enquanto responsáveis pela atividade turística ituana, refletir sobre o rumo atual dos acontecimentos. Tomar conhecimento para não alegar ignorância. Afinal, o Parque do Varvito agoniza como tantos outros símbolos que um dia, já foram sinais de progresso. É hora de parar, e conversar. Aproveitar a oportunidade, com humildade, e reconhecer que a lição que a rocha de Varvito ensina: mudar e crescer; não foi nem um pouco seguida.
 
Vamos mudar o ciclo desta história, ou continuar dando voltas no mesmo lugar?

Fernando Henrique Campos
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