Cotidiano

Publicado: Segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um estouro de Vingança

Tradicional manifestação de Judas reuniu milhares na Matriz.

Crédito: Renan Pereira / Itu.com.br Um estouro de Vingança
Além do traidor de Cristo, manifestação ituana integra a imagem do capeta à cerimônia

Veja as fotos desta notícia no Flickr

Por Renan Pereira 

Os ponteiros da Matriz indicavam meio dia em ponto quando o estouro da primeira bomba ecoou no azulado céu ituano, fazendo com que a manifestação uníssona dos espectadores encobrisse, pelo menos, os próximos 30 segundos de explosões. 

O ambiente descrito no parágrafo acima já se tornou referência na cidade de Itu em todo domingo de Páscoa, dia em que milhares de pessoas vão às ruas para acompanhar a mais tradicional festa do Estouro do Judas realizada no país.

Mais do que um sinal de protesto ao suposto traidor de Jesus Cristo, o evento ganhou notoriedade turística e tem atraído cada vez mais pessoas ao município, que querem acompanhar de perto o exagero de vingança.

Afinal, além da imagem de Judas, os ituanos incluem, à tradicional cerimônia, a imagem do capeta - que “morre abraçado” com o apóstolo traiçoeiro.     

Vingança em dobro

Além da Praça da Matriz, nesta edição o Estouro foi realizado também no campo de futebol do Centro Esportivo e de Lazer do Pirapitingui, no bairro Cidade Nova. Evento exclusivo do município, o costume ituano se difere da malhação de Judas de qualquer outro lugar do país. A manifestação cultural única está, inclusive, registrada no livro Guinness dos recordes.

Kenji Katahira


História


A história conta que em 1985, um artista pirotécnico machucou suas mãos com uma bomba que tinha fabricado e a partir dessa data resolveu fazer todos os anos um boneco recheado de pólvora, representando Judas, e queimá-lo.

Quando este artista se mudou de Itu, o estouro do Judas ficou por conta dos irmãos Joaquim e Inácio Corneta, que não deram assiduidade à festa, sendo interrompida algumas vezes. Os irmãos Parnaíba assumiram o cargo quando aqueles faleceram, e fizeram transformações no espetáculo, adicionando a imagem do diabo em meados de 1910.

Em 1931, o Sr. Zico Gandra fez seu primeiro Judas, que foi queimado com querosene, paralelamente ao boneco oficial que se queimava na Praça Miguel. Em 1938, ele assumiu o cargo de responsável pelo evento, dando continuidade até 2003, sempre inovando e aprimorando o sistema de confecção do Judas.

Um estouro de Vingança

Homenagens

No centro, antes do tradicional Estouro do Judas, houve ainda homenagem a Zico Gandra. Artista responsável pela confecção dos antigos bonecos do Estouro de Judas, Zico faleceu no dia 10 de junho de 2010. A honraria foi entregue aos familiares do fogueteiro, que se emocionaram com a cerimônia.     

Já a entrega do prêmio “Cidadão Samba” foi concedida a cinco personalidades do Carnaval ituano. Darcy Duarte Barros (foto), fundador do já consagrado Bloco do R, foi um dos homenageados na cerimônia. Com 74 anos, o artista participa do bloco desde 1953 – antes mesmo da sua criação oficial.

Além dele, a honraria foi concedida também a Márcia Cristina Binelli Bresciani e Osmir Aparecido Alves (Bloco da Melhor Idade), Mari Elsa Balsan Perina (Mocidade Independente) e Vagner Antonio Rosa, Michel Rosa do Vale e Izabel de Fátima Volpi (Vale do Sol). A festa foi encerrada com uma apresentação animada do Bloco, na própria praça da Matriz.  

Comentários