Cinema

Publicado: Terça-feira, 25 de maio de 2010

Episódio final de Lost atesta o amadorismo da série nos últimos 6 anos

Capítulo de encerramento beirou o clichê de nossas novelas.

Episódio final de Lost atesta o amadorismo da série nos últimos 6 anos
A audiência da série desabou nas últimas temporadas

Por Leandro Sarubo

A primeira década do século 21 foi excepcional para os dramas televisivos. As séries confirmaram a tendência de amadurecimento estilístico e estrutural, tendência esta notada desde Hill Street Blues.

Ao mesmo tempo que nos despedimos, chateados, da formidável The West Wing e da corrosiva OZ, aplaudimos o surgimento de House e True Blood, segunda obra prima de Alan Ball na HBO. E a julgar pelas séries renovadas para 2011, teremos outros dez anos promissores pela frente. É mais que garantido: neste século teremos brigas boas, o tempo todo, entre as próximas gerações de roteiros, que já são campeãs por não terem em suas famílias o seriado de estrutura e final “made in taiwan” que azedou o mundo ficcional de 2004 para cá: Lost.

A série teve uma primeira temporada até que razoável, apresentando seus personagens, envolvendo o público a seu universo paranormal de maneira espalhafatosa, mas dentro da média dos produtos do gênero. E paramos aqui. Pois, já a partir da segunda temporada se tornou latente a nuance irônica de Lost.

Explico: os espectadores não eram os "perdidos” na ilha. Quem realmente apanharia pra encontrar as respostas para as centenas de perguntas abertas ao longo dos mais de 120 episódios eram os roteiristas, certamente cobertos por planilhas, textos e organogramas bem complexos. Foi então em 2005, que vaticinei quais seriam os dois possíveis fins para a produção.

Um seria à lá Brida, novela da Manchete que acabou com voz over (narração), e o outro, nojento, com a revelação de que todos estavam mortos. Acrescentei ainda que a opção “Antonio Alves, Taxista” ficaria pior se eles se descobrissem mortos no último episódio. E foi exatamente o que aconteceu, com direito a abraços na igreja e Jack fechando os olhos para selar o destino da turma alegre do Oceanic 815.

Os outros desfechos foram ainda mais fantasmagóricos, mas não citarei, sob pena de divulgar spoilers que causarão risos, convulsões e regressões - a paixão dos produtores da série. O resumo de “The End” é que em duas horas e trinta, forradas de muita propaganda, a criação de JJ Abrams trouxe mais perguntas do que respostas. A explicação para a ilha ser essa enorme gincana das Olimpíadas do Faustão não foi dada, por incrível que pareça. E nem percam tempo comprando o box set de luxo da série, previsto para o terceiro trimestre. Os minutos extras do capítulo final terão menos efeito que um placebo.

É bem provável que para defender o direito de serem enganados pelos roteiristas, os fãs mais fervorosos argumentem que não havia saída diferente para fechar a série, por ela ter se enveredado em um complexo caminho envolvendo religião e mitologia. Aviso desde já que esse argumento não vale. Uso como exemplo a brilhante "A Sete Palmos", que tratou religião e questões filosóficas legítimas sobre a morte muito mais densas que a interpretação rebuscada e mambembe da Bíblia praticada pela equipe de Lost e, mesmo com toda essa "tensão", foi o grande show dos últimos 9 anos.

Lost se despediu com 13,5 milhões de telespectadores. E algum barulho no Twitter e no Facebook. Toda a gritaria da imprensa, as tentativas de relacionar eventos como Super Bowl ao ponto final da ilha foi em vão. Porque a maioria dos telespectadores fechou os olhos antes do último capítulo. Sabiam que os roteiristas morreram junto com o elenco, na queda do Oceanic 815 no televisor. Porque milhões de pessoas sabem que entre o Dr. House e o Dr. Jack, as diferenças são absurdas.

Geração perdida

Um parágrafo rápido: Muitas séries foram esmagadas por Lost. Pushing Daisies foi uma delas. Trata-se da mais impressionante fotografia do mundo dos seriados nos últimos anos. Uma história interessante, leve, com elementos de suspense, investigação, humor e amor, sempre muito bem dosados, sempre prazerosos. A série foi encerrada em sua segunda temporada, à lá Brida. Mas com todos os arcos resolvidos. 

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