Cinema

Publicado: Segunda-feira, 17 de maio de 2010

As péssimas séries do Brasil

TV Globo insiste na linguagem da novela e nos temas pobres.

As péssimas séries do Brasil
S.O.S Emergência: tentativa de humor aos domingos.

Por Leandro Sarubo

Força Tarefa. S.O.S Emergência. Cinquentinha. Casos e Acasos. Essas são algumas das séries exibidas e apontadas pela TV Globo como mártires da mudança de linguagem ficcional televisiva. Elas até podem ser revolucionárias, desde que o limite seja a catraca da portaria do Projac. Porque quem vê House ou Mad Men não pode concordar com a comparação do que é feito no Brasil e o que é elaborado no exterior.

O justo seria analisar cada série nacional individualmente. O problema é que seria um desperdício de tempo. É um acordo justo, se analisarmos com mais calma. Eu não incomodo vocês, queridos leitores, e acabo perdendo o mesmo tempo que os roteiristas de todas essas produções perderam para trabalhar seus enredos: quinze minutos. Ou menos. Desconfio que neste tempo coisa melhor poderia ter saído.

Aguinaldo Silva, autor de Senhora do Destino, novela de audiência estelar, se aventurou com Cinquentinha em 2009. Encaixada na confusão de produtos – a Globo não sabe diferenciar série de minissérie -, terá uma spin-off, recurso que nem os americanos, mais afeitos ao formato, usam sem critério. Alguma dúvida de que o humor continuará rasteiro, os diálogos forçados e que Susana Vieira seguirá como protagonista?

S.O.S Emergência é uma tentativa farsesca de se adaptar ao humor de Scrubs. Marisa Orth é talentosa, ninguém nega. Poucas atrizes brasileiras tem a capacidade de interpretar papeis cômicos no mesmo nível que Orth. Mas ela não é milagreira. Quando o texto é ruim e as situações lembram as descrições de filme do narrador de “Sessão da Tarde”, não resta mais do que derrotas para Pânico, Silvio Santos e Gugu. Fora a vergonha, é claro.

Casos e Acasos poderia ser encarada como a Amazing Stories brasileira. Era amazing mesmo. Pela sua mediocridade. Na melhor das hipóteses era um Você Decide moderno: o programa lhe dava duas opções: trocar de canal ou desligar a TV. Eu trocava de canal. Muita gente fazia o mesmo. Tanto que sempre tinha um programa da concorrência empurrando a Globo para o segundo lugar.

Força Tarefa é o único dos produtos que conseguiu se livrar da linguagem rudimentar, atrapalhada, empobrecida das novelas. Precisou chegar à segunda temporada para conseguir se assemelhar a uma série ruim americana. Ou próxima da melhor de todas, que vem da Argentina: a intrigante e espetacular “Epitáfios”. Tudo porque escolhe mal o elenco. Murilo Benicio não serve para protagonizar nada. Quando acusam a TV de criar mitos e ilusões certamente devem se referir à hipótese de Benício ter alguma formação dramatúrgica. É visível sua ineficiência em qualquer papel que exija carga dramática mais intensa.

Por que as séries brasileiras estão longe das estrangeiras? Simples: os personagens não são desenvolvidos. Eles, no Brasil, vivem apenas os 25 ou 50 minutos de sua exibição. Não evoluem, não parecem ter vida. E é aí que notamos que um Aguinaldo Silva jamais terá idéias de um David Shore, criador de House. Se eu pudesse apontar um autor de novelas com capacidade para enveredar no mundo dos seriados este seria Silvio de Abreu. Em entrevista há alguns anos ele reclamou que faltava ousadia nos temas de nossa ficção. Quem tem esta sensibilidade certamente tem competência sobrando para escrever uma grande obra.

O Brasil é um zero à esquerda? Claro que não. Ele não consegue rivalizar com os hermanos, mas já mostra bons exemplos dentro da TV paga, como Alice, da HBO. Partindo deste exemplo quase soberano de boa série brasileira, qualquer um poderia argumentar que o público da HBO é elitizado e que isto faz a diferença. Bobagem. Chamar o telespectador brasileiro de ignorante, interpretando aquilo que ele pode ou não entender, é um desrespeito e um erro estratégico absurdo. Os brasileiros só se acostumarão com as séries quando existir a padronização e a qualidade dos outros mercados. É nosso desafio.

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