Opinião

Publicado: Quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Guilherme Martins critica a alienação política

Crédito: Arquivo Pessoal Guilherme Martins critica a alienação política
"Nós somos os chefes dos políticos. É exatamente dessa forma que os brasileiros deveriam pensar"
Estamos em período de eleições. Em pouco tempo, nós escolheremos quem serão os responsáveis pela administração de nossos municípios e pela melhora na nossa qualidade de vida. Política é um assunto importante e diz respeito a todos nós. Sendo assim, por que os brasileiros simplesmente não se interessam pelo tema?

Nessa época eleitoral, é muito comum ouvir nas ruas expressões como “são todos ladrões”, “vamos votar no menos pior”, “ele rouba, mas faz” ou até “não adiantará nada, tudo continuará na mesma porcaria que está”. Acredito que isso seja fruto de um extremo comodismo e mofo intelectual. O fato é que a maioria da população se interessa mais por novela do que por política. Se perguntarmos na rua qual é o nome do casal protagonista da novela das oito, a maioria saberá responder, mas se a pergunta for sobre o nome do vice-presidente do Brasil garanto que poucos saberão a resposta. É simples, brasileiro não se interessa por política. O assunto não agrada tanto os ouvidos da população quanto a “dança do quadrado” e o sensacionalismo da morte de crianças como no caso Isabella.
 
Por outro lado, em temas relevantes a nossa vida e ao nosso país, existe um tremendo descaso. Brasileiros são tão politizados e atraídos pela política quanto um vegetariano é atraído por um pedaço suculento de bife. Esse foi um problema que sempre assolou o país. Somos sempre os últimos a saber das coisas. Como aquele casal de velhinhos do filme Titanic que está dormindo enquanto o navio afunda.
 
Imagine que você é o dono de uma empresa promissora. Então decide que quer passar toda a responsabilidade das decisões importantes para uma pessoa. Você escolheria qualquer um para cuidar dos seus negócios ou teria que ser alguém de confiança? Política trata-se disso. Escolher alguém que julgue capaz de cuidar do seu patrimônio. Simples assim.
 
Nós somos os chefes dos políticos. Os supervisores dos trabalhos deles. É exatamente dessa forma que os brasileiros deveriam pensar. Deveriam exigir posturas sérias dos governantes à respeito de todos os assuntos. Porém existem alguns assuntos em que os governantes nem sequer possuem uma postura. Se formos patrões permissivos e ausentes, daremos margem para que joguem toda a sujeira pra baixo do tapete.
 
Percebo que, principalmente entre as classes mais baixas (grande maioria no Brasil), existe um tremendo desinteresse por política. É um fato triste. Mas também não poderia ser diferente. Entre trabalhar 12 horas por dia para colocar a comida na boca da família e conversar ou ler sobre o panorama político no país, a primeira opção me parece mais viável e, muitas vezes, necessária.
 
Parte desse problema acontece porque muitos ainda não conseguem enxergar a relação entre política e melhora na qualidade de vida. É um círculo vicioso. Devido à falta de informação e interesse, acabamos generalizando ao pensar que todos os políticos não prestam. Dessa forma elegemos representantes pífios e a situação permanece a mesma, ou piora. Já os jovens mais “afortunados”, dos quais se espera uma postura diferente e mais racional, elegem políticos como Clodovil para demonstrar o quanto estão insatisfeitos. Como se votar e ser politizado fosse só apertar os botõezinhos e ouvir o barulhinho da urna eletrônica ou usar uma camiseta com a estampa do guerrilheiro Che Guevara.
 
Fechar os olhos e ignorar não é a solução do problema. Ele continua lá, ainda que você se recuse a ver. O navio não vai parar de afundar só porque você está dormindo. Então já passou da hora de acordar e colocar o colete. Eu já estou dentro do bote.

Guilherme Martins é estudante do 6º semestre de Jornalismo da Universidade de Sorocaba e responsável pelo canal Cinema do itu.com.br.
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