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Publicado: Quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Doador de Memórias

Crédito: Divulgação/IMDb O Doador de Memórias
Trechos em preto e branco são comuns ao longo do filme

Quem vê a sinopse de O Doador de Memórias pode até pensar que o filme é mais uma adaptação de um best-seller infanto-juvenil atual como tantas outras que vemos ultimamente no cinema – Jogos Vorazes e Divergente, por exemplo. Mas não é esse o caso. Sim, o filme ainda é uma adaptação literária, mas de uma obra muito mais antiga que seus “concorrentes”.

“The Giver”, de 1993, escrito pela americana Lois Lowry, pode ser considerado o “pai” dessa leva de distopias envolvendo jovens protagonistas. Mas, diferente de Jogos Vorazes e Divergente, o personagem principal de O Doador de Memórias não é uma garota, mas sim o jovem Jonas (interpretado pelo novato Brenton Thwaites) – o que já mostra que a obra é voltada para públicos distintos.

O Doador de Memórias, com todo respeito, não é para “menininhas”. Não estou sendo machista, você entendeu o que quis dizer. É um filme mais maduro que as recentes adaptações – apesar de ter gostado muito de Jogos Vorazes. Tanto é que tem em seu elenco dois pesos pesados do cinema dramático (Jeff Bridges e Meryl Streep), mostrando que não veio para brincadeira.

Dito isso, vamos falar sobre o filme. A história gira em torno de Jonas, que vive em uma sociedade em que tudo é “perfeito”. Não há inveja, não há fome, não há guerra... Enfim, tudo que desejamos. Porém, a eliminação disso tudo vem com um custo muito alto: não há mais liberdade. Tudo e todos são comandados pela chefe Elder (personagem de Meryl Streep), que controla com mão de ferro.

E Jonas, assim como tantos outros personagens da literatura, tem um papel quase que messiânico. Quando escolhido para ser o receptor de memórias da comunidade, ele passa a ver com a ajuda do Doador (Jeff Bridges) o quanto os humanos perderam em busca de uma sociedade “perfeita”. Daí em diante ele começa a confrontar o sistema, contando com a ajuda de seus amigos Fiona (Odeya Rush) e Asher (Cameron Monaghan).

O filme explora muito bem a “padronização” da sociedade distópica: para evitar conflitos, não existem mais cores. Por isso, durante 17 minutos, nenhuma cor pode ser vista no filme. As memórias que Jonas vai recebendo durante os 97 minutos de duração do longa-metragem também são bem interessantes. Episódios marcantes da história da humanidade, como o protesto na Praça da Paz Celestial em 1989, foram recordados.

Com diversas reflexões e mensagens filosóficas, O Doador de Memórias apenas tem um plano de fundo futurístico e distópico, mas não faz disso seu ponto principal. O cerne do filme é a valorização das memórias, dos momentos que sofremos e que nos alegramos, pois são elas as responsáveis pelo que somos.

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