Publicado: Domingo, 23 de setembro de 2007
Exemplo de exemplo
Outro dia fui a uma papelaria comprar cartucho de tinta para a impressora. A loja tinha como procedimento abrir o pacote e carimbar o cartucho, para controle em caso de defeito.
Eu estava levando dois, um P&B e outro colorido. Quando vi as duas embalagens de papelão abertas, achei melhor deixar na loja em vez de levar, já que eu não iria mais utilizar. Mas de repente, sem pensar, perguntei à vendedora: “O que vocês fazem com essa embalagem? Vocês separam para recicláveis?” A moça me respondeu que não sabia direito, mas garantiu que as embalagens eram separadas sim, e que não eram juntadas ao lixo normal. “Ok, então! Vou deixar a embalagem aqui” - respondi.
Parece uma atitude insignificante, e realmente é. Me senti até um pouco chata ao perguntar isso. Mas uma senhora que estava ao meu lado e ouviu a conversa comentou: “Parabéns pela sua preocupação. Eu também faço isso, e se cada um fizer a sua parte, a gente consegue mudar.”
Uma pequena ação não é nada, nada mesmo. Mas muitas pequenas ações, já se tornam alguma coisa. Nós, seres humanos, não temos a dimensão do nosso poder de transformação. Não nos damos conta de como podemos influenciar positivamente (ou negativamente) o mundo ao nosso redor.
Há muito pouco tempo me dei conta de que também sou responsável pela saúde do planeta. Antes, não me sentia capaz de fazer alguma coisa. Me sentia muito pequena diante de um problema tão grande e por esse motivo não me via como um agente de mudança nesse campo. Quantas vezes não fazemos nada porque achamos que não adianta!
Mas eu conheci uma pessoa que me mostrou que as mudanças acontecem assim mesmo. Como formiguinhas que carregam pesadas folhas e em conjunto constroem empreendimentos tão grandiosos. Quem consegue acreditar, se parar para refletir, que formigas tão pequenas são capazes de construir verdadeiros castelos de terra?
No campo da sustentabilidade do planeta, percebi que além de comunicar e escrever - ação que também pode influenciar - posso fazer muitas outras coisas.
Posso reciclar o lixo da minha casa e assim ensinar as pessoas que trabalham comigo, além dos meus filhos e dos seus amigos (que já estão aprendendo!).
Posso comprar papel reciclado e utilizá-lo em casa, no escritório, e nos trabalhos dos meus filhos. Isso será visto por outras crianças, pelos funcionários da minha empresa, seus familiares, alunos, professores, etc. E pode servir de exemplo. Aliás, eu percebi isso quando um amigo do meu filho chegou com um trabalho impresso em papel reciclado e eu fiquei com vergonha porque o papel de casa era branco!
Posso deixar de utilizar sacolas plásticas no supermercado, mudando um hábito arraigado e difícil de alterar. E isso pode dar o exemplo para outras pessoas que vão no mínimo estranhar, me vendo carregando sacolas de pano reutilizáveis.
Posso encontrar formas de utilizar menos o carro, saindo da minha zona de conforto. Caminhar mais, pegar mais carona, fazer mais rodízios, fazer menos reuniões desnecessárias.
Posso plantar e cuidar para que não cortem as árvores que não devem ser cortadas, no espaço onde eu moro. Posso evitar todo tipo de desperdício. Posso honrar a natureza e respeitar todas as formas de vida, influenciando meus filhos a ter esse olhar.
Enfim, posso fazer inúmeras micro-ações, que sozinhas não representam muita coisa, mas é muito mais do que não fazer nada. Tenho aprendido que as grandes mudanças não ocorrem de uma só vez, e nunca através de uma única pessoa. É preciso mobilização de muita gente.
No entanto, certamente a transformação – seja ela qual for – ocorre através da ação daqueles que acreditam que estão no palco da vida e não apenas na platéia. Pessoas que se enxergam como agentes de mudança, como protagonistas de sua própria história de vida, dotados do poder da escolha.
Quando ouvi aquela senhora me dando os parabéns, pensei em tudo isso. Ela deu grandeza às minhas simples palavras e me incentivou a continuar assim, porque afinal, uma pessoa pode fazer a diferença no seu pequeno mundo!
Então, escrevo esse artigo, para dar grandeza às pessoas que acreditam e também para as que não acreditam. Porque afinal, consciente ou não, cada um de nós é exemplo de exemplo.
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