Protógenes Queiroz, "Ted" e o bananismo
Pontos sobre a campanha #foraFilmeTED.
Leandro Ferreira
Por Leandro Sarubo
“O mundo está cheio de ursinho Ted”.
O alerta, muito parecido com as frases alarmistas que habitam os GCs dos programas policiais, é de Protógenes Queiroz, deputado federal do PC do B, o primeiro partido comunista do mundo a abraçar adeptos do feminismo de olho roxo e gente afastada do Governo Federal para “restituir a verdade”.
A indignação de Protógenes, como todas as indignações que movem o PC do B, não tem justificativa alguma. Porque ele levou o filho de 11 anos ao cinema para ver “Ted”, excelente comédia de Seth MacFarlane, cuja classificação indicativa é de 16 anos. Aceita fazer um cálculo rápido? Dezesseis menos onze é igual a cinco. Cinco anos é uma boa diferença. Pode não ser para o PC do B, que permanece estacionado em 1900, mas, para uma criança, certamente é.
Protógenes não gostou das piadas do filme. Nem das atitudes do ursinho. Protógenes está acostumado com o Zé Colmeia, que habita Yellowstone, e com Lula, que habita São Bernardo do Campo. Pagar ingresso para ver um desenho mal intencionado, feito para “incentivar o uso de drogas e crime”, como fez questão de salientar no Twitter, ultrapassou todos os limites de paciência do deputado. Paciência, diferentemente da classificação indicativa, tem limite e deve ser respeitada. Como não concordar com visão tão cristalina, coerente e democrática?
Um bom argumento para desmontar a cruzada do nobre parlamentar contra “Ted” seria apresentá-lo às demais criações de Seth MacFarlane. “Uma Família da Pesada” e “American Dad”, suas animações de maior sucesso, perfilam os vícios e cretinices da sociedade americana sem nenhum pedantismo ou estupor. Republicanos e democratas, ricos e pobres, negros e brancos, todos são apresentados com a mesma carga venal de humor. Com acidez e forte toque satírico. O recado do humor de MacFarlane é bem simples: não existe limite para a crítica. “Ted”, sem desmerecer as extensas gargalhadas garantidas na sessão, é um petardo despretensioso e um bocado bobo do talentoso roteirista de Connecticut. Por não ter a mesma dose analítica sobre a sociedade e a política, não deveria causar qualquer reação exagerada. No máximo, concentrando-se na revolta de Protógenes, valeria um alerta no celular para prestar atenção na censura antes de comprar o ingresso. Repito: no máximo.
Infelizmente, a notinha para prestar atenção no pôster do filme foi substituída por esperneio da pior qualidade. Além da pitoresca hashtag #foraFilmeTED, Protógenes calhou a repetir o chavão “enlatado cultural americano”. Desde o primeiro tuíte sobre o assunto, postado após um retuíte de uma candidata do Rio de Janeiro que tem problemas com vírgulas, ele usou a expressão duas vezes. “Enlatado cultural americano” equivale a “máfia das multas”, “elite golpista” e outras manjadas invenções de jornalistas e profissionais que poderiam ser, facilmente, memes engraçados no Facebook. Logo, não é argumento. Impressiona a frequência com que os representantes da esquerda brasileira optam pelo caminho da censura e da perseguição quando discordam de algo. O mundo está cheio de urso TED. O Brasil está cheio de paladinos do além desejando interferir no bolso e no cinema dos outros. O urso TED parece inofensivo.
Dificilmente "Ted" sairá de cartaz. Protógenes provavelmente cumprirá o que prometeu em sua página no Twitter e "apurará responsabilidades", o que significa ser lembrado pelo Ministério da Justiça, também cobrado por ele no microblog, que não há nada de errado com o filme. No previsível roteiro bananista, tudo fluirá naturalmente. Até o urso de pelúcia totalitarista que habita a mente de um ou outro cidadão ganhar vida e tornar nosso país uma republiqueta do século 19. Livres dos enlatados culturais americanos, eternamente presos nos delírios políticos de quem é incapaz de entender uma comédia.