"O Ditador" é mais interessante do que parece
Sacha Baron Cohen faz boa sátira sobre o radicalismo.
Leandro Ferreira
Por Leandro Sarubo
Sacha Baron Cohen fez estardalhaço ao lançar Borat. Fez estardalhaço ao lançar Bruno. Para lançar "O Ditador", seu novo filme, fez o que? Mais estardalhaço.
Sacha Baron Cohen é bom de estardalhaço. Na hora de vender um trabalho, sabe o que deve ser feito. Por mais bagagem intelectual que possa ter, e é melhor não duvidar da inteligência dele, aposta no certeiro. Berros valem cliques. Cliques levam pessoas ao cinema. Ou a torrents. Trataremos dos torrents em outro espaço.
"O Ditador" não precisa de muitas explicações. O título e as páginas do noticiário internacional já designam os alvos das piadas. O General Aladeen poderia ser iraquiano. Iraniano. Norte-Coreano. Venezuelano. A República de Wadiya, habitat do general, é a versão cenográfica dos países mais infelizes do mundo, ou, usando o eufemismo predileto dos regimes totalitaristas, dos "países livres do imperialismo".
Tem quem enxergue alegria na censura, na perseguição e nos arroubos nacionalistas. Muitos brasileiros pensam assim, inclusive. Cohen enxerga apenas o aspecto ridículo, primário e retardário de todos os tiques arbitrários. Desse privilégio moral de reconhecer a estupidez, surgem piadas visuais muito boas, como a Olimpíada de Wadiya. A relação de Aladeen e seus subordinados é um divertido retrato da hierarquia e da inteligência dessas nações. Desentendimentos valem delitos. Delitos levam pessoas ao presídio. Ou a paredões. Trataremos dos padrões em outro espaço.
A melhor sacada de "O Ditador", no entanto, não está no tom crítico atribuído aos mandos e desmandos oficiais. Está na controversa relação de amor e ódio entre os perseguidores do império e o império. Quando Aladeen implica a respeito do formato de uma arma porque relacionava o conhecimento às divertidas bugigangas da ACME, ele demonstra, acima de tudo, palermice. Mas revela também a demência em limitar o alcance de determinada cultura. No filme, o desenho é o símbolo deste antagonismo caduco. Para outros países é uma petrolífera. Uma marca de refrigerante. Celebram as diferenças combatendo hipocritamente as diferenças alheias.
“O Ditador” tem, claro, seu momento bronca coletiva. Em reunião nos Estados Unidos, na sede da ONU, para esclarecer suspeitas sobre a construção de uma arma nuclear, Aladeen sofre uma tentativa de golpe, o empurrão que bastava pra ele reparar nos interesses escusos da política. Faz longo discurso, credita críticas a democracias plenas e de fachada e promete uma mudança de postura. Que não acontece. Ninguém muda. Democratas ou ditadores.