Cinema

Publicado: Quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"Amanhecer - Parte 2" encerra a pior saga cinematográfica da década

Circuito deve dedicar 1300 salas para a estreia do filme.

"Amanhecer - Parte 2" encerra a pior saga cinematográfica da década
Taylor Lautner, o ator pago para ficar sem camisa

Por Leandro Sarubo

Pense em uma história cafona. Um enredo bem rasteiro. Espere um instante. Tire a Glória Perez da cabeça. Sim, ela se encaixa no que proponho, mas nossa busca é cinematográfica.  Precisa reunir amor, algum drama e, claro, ser impossível. Ter barreiras. Sem limites intransponíveis não existe paixão, afinal. Para protagonizar, que tal encaixarmos um vampiro? Os vampiros são o PMDB do cinema. Podem ser bons. Podem ser maus. Podem se vender. Provavelmente vão se vender. Não vote em vampiros. Não vote no PMDB. Mas não deixe de inserir um em seu roteiro. São sempre úteis. E flexíveis. Também não deixe de inserir um PMDB em sua base, caso vença uma eleição.

Stephenie Meyer sente orgulho de ter recebido 14 “nãos”, sem jamais desistir ou se desesperar, até enfim conseguir emplacar o primeiro volume de “Crepúsculo” nas livrarias. Eu sinto orgulho das 14 editoras que falaram não para Stephenie Meyer, por mais que, a esta altura, consultando os lucros da saga, todas tenham muito ódio da decisão artística tomada na década passada.  E, óbvio, lamento a persistência da autora. Por mais certa que fosse a ocorrência de um aborto editorial vingar no cinema, efeito direto das lucrativas incursões de “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”, nenhum pessimista seria capaz de antever uma sequência tão pobre de blockbusters como esta, protagonizada por Robert Pattinson. Em resumo: nunca a persistência foi tão inimiga da evolução. O espírito do cinema foi sugado, com o perdão do trocadilho. E, sim, o cinema comercial também tem alma.

As aventuras de Edward Cullen, o vampiro que se declara “vegetariano” (a que ponto chegamos...), e Bella Swan, a tradicional garota americana dos romances outrora despejados nas bancas de jornais, não encantam, não encorajam, não inovam e, isso é inquestionável, não transformam o cenário literário. Todos os livros espantam por suas descrições infantilizadas, arcos rudimentares e pelo vocabulário pobre. Em comparação a clássicos destinados à faixa etária contemplada por Meyer, “Crepúsculo” parece um relicário de frases prontas, onde nada faz sentido, mas tudo é fofo. Não basta ser imaturo. No século 21, ternura é fundamental.

Do papel a adaptação cinematográfica, o início de um problema universal: o risco da história perder em essência ou emoção. Neste sentido, nenhuma queixa. “Crepúsculo” não contrariou a regra e as expectativas. É possível piorar? Pois, então, pioramos. Como? Com um elenco de atores fajutos. Texto ruim combina com profissionais ruins. E ninguém reparará, é certo.

Robert Pattinson quer ser ator de filmes dramáticos. Antes de qualquer coisa, precisa ser ator de histórias simples. Uns dois anos de shows infantis no Disney Channel podem ajudar. Seu vampiro é ainda mais caduco e esquizofrênico que o criado por Meyer. Faltava emoção no papel. Falta emoção no cinema. Não só emoção. Talento. Com tamanha apatia, não era mesmo de se duvidar que um ator coadjuvante (Taylor Lautner, ator contratado para ficar sem camisa em algumas cenas) chamasse atenção e conseguisse equiparar os cachês.

Kristen Stewart, par de Pattinson no filme, é mais carburada no mercado. O que não significa ter mais talento. Nunca teve um papel decente. Dificilmente terá. Porque é fraca. Forçada. Afobada. Se um selo da Televisa invadisse a tela em cada cena dramática de Bella Swan, ninguém notaria a provocação. Mais: se Silvio Santos estivesse na sala e notasse a marca d’água da parceira mexicana, telefonaria apressadamente para Emilio Azcárraga Jean, dono da emissora, com a intenção de adquirir a obra e transmiti-la no SBT. Um logo no canto da tela. Eis a linha que separa Kristen Stewart e a Cidade do México.

Cerca de 1300 salas no Brasil serão destinadas a “Amanhecer – Parte 2” em seu fim de semana de estreia. A cultura pop já foi menos "vegetariana". 

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