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Publicado: Quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Xênia e eu

Crédito: http://tvbau.blogspot.com.br Xênia e eu

Gente! Ela é “separada”, mas é tão legal!!! - Era isso o que eu pensava quando adolescente – mas não falava - quando assistia na TV Bandeirantes ao programa “Xênia e Você”, na década de 1970. Naquele tempo e na opinião geral, mulher “separada” não valia grande coisa. Eu duvidei.

A ex-empregada doméstica, operária e balconista Vilma Bier, a Xênia, era a  apresentadora. Com uma franqueza devastadora e baseada em sua experiência de menina pobre, abordava assuntos impensáveis para a época.

Sem constrangimento expôs a vida pessoal para, a partir dela, abrir os horizontes de tantos jovens aprisionados pelos tabus, como eu. Desancou o escravizante trabalho doméstico, a falta de liberdade feminina e a indissolubilidade do matrimônio. Aprendi com ela e simplifiquei a vida.

Inteligente e sagaz, polemizou ao tratar sobre homossexualidade – o que lhe valeu problemas com a Censura -  e preconceito racial, pois já tivera dois relacionamentos com negros, antes de “desistir de novas relações permanentes, por preferir a liberdade.” 

A mulher de voz e gênio fortes, entrevistou personalidades ilustres como o psicanalista José Ângelo Gaiarsa, o filósofo Huberto Rohden, o astrólogo Antônio Facciolo Neto e o professor De Rose, pioneiro de Yoga no Brasil.

Quando seu último programa na TV Bandeirantes foi ao ar, seu público cativo organizou uma passeata na porta da emissora.

Após algum tempo, Xênia foi para a Rede Globo, quando do lançamento do programa " TV Mulher". Ao seu lado se apresentavam figuras destacadas como Marta Suplicy, Clodovil Hernandez, Marilia Gabriela, Ney Gonçalves Dias e Ala Szerman.

A paulistana Vilma Bier nasceu em 1935. Aos 81 anos, escreve a coluna "Crônica da Xênia" em duas revistas femininas. Numa publicação de dezembro de 2016, Xênia ainda mostra a lucidez que lhe rendeu admiração, quando toca numa das questões relativas ao envelhecimento: “Somente quando somos proibidos de exercer as tarefas cotidianas é que damos o devido valor: já sentiu saudade de passar roupas?”

A “velha guerreira” continua na batalha. Para quem tem ou conhece pessoas com limitações físicas – idosas ou não - difícil é não refletir sobre a singela interrogação e rever, como no passado, posturas e conceitos.

Obrigada, Xênia!

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