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Publicado: Segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Vote no melhor dos candidatos!

Entre tantos candidatos às Câmaras Municipais e os vários candidatos aos Executivos de nossas cidades, não é fácil a escolha. Venho repetindo que o dever do eleitor é votar no melhor entre os melhores. Como essa orientação ainda deixa em dúvida os que têm o direito e o dever de votar, acrescento aqui as qualidades ou os critérios que levam à identificação dos melhores candidatos aos dois poderes dos nossos Municípios.

Tenho para mim que, acima de tudo, o candidato que mais merece o nosso voto é o candidato honesto. A honestidade supera a qualificação do candidato para o mandato pleiteado.

Sem dúvida, também a capacidade é necessária, como se verá mais adiante. Mas vem em segundo lugar. Tenho insistido que a terceira qualidade de um bom candidato é a sua sensibilidade para com os mais carentes e marginalizados da população: crianças e jovens, famílias, idosos e outros.

É um risco muito grande o eleitor privilegiar como candidato merecedor do próprio voto, apenas o candidato culto, com estudos e diplomas de nível superior. Inteligente ele sempre deverá ser. Mas a cultura, com freqüência, não raro tem tornado o candidato esperto e aproveitador, não um servidor dos que o elegeram e da comunidade que tem o dever de promover. Basta conhecer um pouco da história política brasileira para convencer-se da prevalência da honestidade sobre a cultura.

Quando valorizo, em primeiro lugar, o candidato honesto, penso não apenas em sua conduta pessoal, mas nas suas atividades profissionais e em sua vida familiar, se casado, como também, no modo de exercer alguma atividade pública, no exercício de um mandato popular ou à frente de uma entidade. Se o candidato for boêmio e gozador da vida, bom de farra e freqüentador de amigos de péssimo comportamento, não lhe dê o seu voto. Se for mulherengo e namorador descompromissado, sem uma família em que haja amor, fidelidade, respeito à sua esposa e dedicação aos filhos, negue-lhe o seu voto. Na Câmara esse candidato certamente não terá nenhum compromisso com as famílias de sua cidade, acabará aprovando projetos desagregadores e métodos contraceptivos, da esterilização ao aborto. Incompetente no próprio lar, candidato desonesto em seu trabalho e corrupto em sua vida pública, será um desastre no exercício de um possível mandato.

Se é verdade que tanto os Vereadores quanto os Prefeitos não devem discriminar nenhum cidadão em suas decisões, nos projetos que apresentarão e nas medidas que vierem a tomar, não é menos verdade que a preocupação maior dos que legislam e administram deve privilegiar os mais pobres e marginalizados dos Municípios. E estes não estão nos centros urbanos, não pertencem à minoria rica ou às classes médias. Moram na periferia sofrida, nas favelas indecentes dos bairros afastados, nos grotões da miséria. São os operários e camponeses, não poucos entre nós vivendo desempregados, sem casa, sem terra e sem salário justo. São os seus problemas de saúde, educação e infra-estrutura — água, luz, asfalto, esgoto, segurança, etc.

— que urge superar com todo o empenho, destinando-lhes os maiores investimentos do orçamento municipal.

Sempre tenho acrescentado, que nessa priorização da solução dos problemas das nossas degradadas periferias urbanas, os projetos apresentados, as soluções dos problemas que se multiplicam escandalosamente, são os que devem ser apoiados.

Os que legislam e administram devem ater-se aos direitos de todos, pelo menos quanto ao necessário para uma vida digna, inspirando-se nos valores do Evangelho e da doutrina social da Igreja, entre os quais destaco o amor que leva à partilha dos bens, a justiça e a paz entre todos os cidadãos.

Talvez o leitor esteja estranhando que não me tenha referido à vida religiosa dos candidatos. É sempre, para mim, uma das importantes qualidades que deve ter um bom candidato. Entre candidatos honestos, preparados e sensíveis para com os mais carentes da população, católico ou evangélico, crente ou descrente, o eleitor católico sempre deverá dar preferência ao seu irmão(ã) de fé. Os protestantes agem assim e não pensam duas vezes para votar no candidato de sua Igreja, condicionando o próprio voto aos serviços que eles, eleitos, prestarão à sua comunidade. Aos candidatos católicos estou sempre repetindo que não se sintam eleitos, se for o caso, para servirem a Igreja, mas toda a comunidade, tanto em nível municipal quanto estadual e nacional.

Cumpro o meu dever de votar desde 1952, quando iniciei o meu sacerdócio retornando de Roma, onde fiz os meus estudos superiores de filosofia e teologia. O leitor não tenha dúvida, sempre votei em candidatos com as qualidades relacionadas acima, católicos adultos na própria fé, praticantes e inseridos em suas comunidades. Candidato que se professa católico em vésperas de eleições, por conveniências político-eleitorais, jamais recebeu o meu voto. Lembro-me de ter votado em branco somente uma vez, anos atrás e em eleições majoritárias.

Nenhum dos candidatos chegados ao segundo turno possuía as qualidades que volto a lembrar exatamente nesta ordem: honestidade e qualificação para o mandato pleiteado, comprometido com os mais pobres e sofridos na vida, católico praticante, consciente e inserido na vida da Igreja. Garanto que, se a maioria do nosso eleitorado tivesse levado em conta essas qualidades, o Brasil de hoje seria outro...
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