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Publicado: Terça-feira, 7 de junho de 2011

Volte vestido apropriadamente

Uma pequena história, para inspirar novas vestimentas!

Volte Vestido Apropriadamente

Era uma vez um jovem rei que partiu para conquistar. Ousado, habilidoso e inteligente, conquistou várias terras à volta do seu reino. Reis menores e chefes de tribos foram submetidos a ele. Sentia-se jubiloso e satisfeito. Decidiu que era hora de voltar para casa.

Como governadores dos territórios conquistados, nomeou seus cortesãos, deixando um batalhão de seus exércitos com eles e começou sua jornada para casa, com o resto do exército, seu general e seu ministro.

Uma noite acampou num vale, entre as margens de um rio e uma colina. Quando tudo estava adormecido e silencioso, o rei olhou para fora de sua tenda. Seus olhos voltaram-se para o topo da colina. Ficou surpreso, pois no alto divisou uma espécie de luz fraca, mas singular, um tipo de luz que nunca vira antes. Parecia chamá-lo. Sentiu uma estranha urgência de subir a colina.

O rei deixou a noite passar. De manhã, chamou o ministro e pediu-lhe para indagar quem ou o que havia na colina, sem nada revelar sobre a luz. O ministro disse:

“Meu senhor, na noite passada estava conversando com os dignatários da aldeia além. Informaram-me que no topo da colina vive um eremita. Sua Majestade deve ter observado o fogo que ele conserva aceso, em frente à sua cabana, durante à noite.”

“Você viu esse fogo?” perguntou o rei.

“Sim, meu senhor.”

“Que espécie de luz o fogo emite?”

O ministro pareceu um pouco intrigado:

“Por que, meu senhor? A espécie de luz que resulta de qualquer fogo feito pela queima de gravetos e folhas secas!”, disse.

O rei compreendeu que a visão que ele tivera da luz tinha sido negada a seu ministro.

“Ó ministro”, disse o rei, “suba a colina e informe ao eremita que gostaria de me encontrar com ele.”

“Muito bem, meu senhor”.

O ministro subiu a colina e desapareceu no topo dela, enquanto o rei observava-o.

“Meu senhor”, disse, “o eremita manda-lhe boas vindas. Disse, porém, que o senhor deve se apresentar diante dele vestido apropriadamente.”

“isso nem precisa dizer”, disse o rei. Colocou sua real vestimenta formal e começou a escalar a colina. Mas, no meio do caminho, foi cumprimentado por um discípulo do eremita.

“Ó rei, o eremita já o notou. Ele pede para o senhor voltar vestido apropriadamente...”, o discípulo informou.

O rei parou. “Compreendo”, disse ele depois de um pouco. “Esta não é a maneira apropriada para eu me encontrar com um eremita! Fui um tolo. Ataviei-me como se fosse encontrar um outro rei!”

O rei retornou à sua tenda e colocou as vestes de um simples homem do povo e foi encontrar-se com o mendigo.

Outra vez foi parado no meio do caminho por um discípulo do eremita.

“Volte, meu senhor, vestido apropriadamente!” disse sumariamente o discípulo.

O rei, estupefato, retornou a seu acampamento.

“Meu senhor, deixa-nos arrastar o eremita até aqui”, propôs o general, que havia ficado muito aborrecido com a conduta do eremita em relação a seu amado rei.

“General, você não arrastou dúzias de reis conquistados como prisioneiros e exibiu-os diante de nós? Que glória há em arrastar um eremita idoso e desarmado diante de nós?” retorquiu o rei severamente. “Devemos encontrá-lo em seus próprios termos.”

No dia seguinte, o rei arranjou dois pedaços de linho ocre e colocou-os, um à volta da cintura, e outro na parte superior do corpo.

Mas, ó Deus, ele foi parado pela terceira vez;

“Meu senhor, meu mestre quer que volte vestido apropriadamente”, informou-o calmamente o discípulo do eremita.

O rei, cujas ordens retumbantes provocavam terremotos e holocaustos, ficou sem fala, à beira das lágrimas. Tranquilamente, voltou a seu acampamento. Sentou-se sozinho, recusando-se a ver qualquer pessoa. Ele poderia subir até o topo da colina e obrigar o eremita a recebê-lo. Condená-lo à morte, como havia feito com tantos e ninguém ousaria proferir uma palavra de protesto. Mas isso também não significava nada. Ele havia conquistado todas as terras que se estendiam até o horizonte e mais além. No entanto, agora, sentado ali, sentia-se derrotado.

O sol desapareceu e a noite estava caindo. Ninguém teve a audácia de perturbá-lo.

Então, a cortina de sua tenda se abriu. O rei ergueu os olhos. Por um instante, cintilou a luz deslumbrante que ele havia visto brilhar à noite, há dois dias atrás. Ali estava o eremita.

“Meu filho, como você está bem vestido”, disse o eremita. O rei levantou-se e inclinando-se diante dele murmurou:

“Senhor, não sei. Estou vestido como deveria estar quando estou na privacidade de meu quarto!”

“Na privacidade de seu coração, meu querido rei, você se conscientizou quão humilde você é, não?”, perguntou o eremita.

“Sim. A futilidade de minhas conquistas, todo o derramamento de sangue, a loucura de gastar tempo em tais expedições, começaram a despontar em mim”..., replicou o rei.

“É o alvorecer da sabedoria, meu filho. E eu queria que você estivesse vestido de sabedoria. Todas as outras vestimentas são meras necessidades ou simples vaidade”, disse o eremita enquanto abraçava o rei. O rei sentiu que a luz que vira estava passando para seu coração.

Extraída do livro Histórias Antigas da Índia, de Manoj Das.

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