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Publicado: Sexta-feira, 25 de abril de 2008

Você tem empregada doméstica?

Crédito: Eprolar Você tem empregada doméstica?
Elas normalmente vivem no nosso lar-doce-lar

Eu tive várias. E vou contar aqui pra vocês minha relação com uma das mulheres mais importantes na minha vida neste momento. Ela não é a minha mãe, para quem imaginou isso, ainda que às vezes desempenhe papel semelhante.

Ela é a última das pessoas que contratei para trabalhar em minha casa. Isso já tem cinco anos. Hoje ela além de me atender pessoalmente, ocupa a posição de gerente em uma pequena pousada que construí na serra. Ela tem a chave de tudo, sabe onde está tudo, como conserta quem tem que chamar, atende as reservas, faz as compras, prepara o cardápio cuida das contas, dos bancos. Recebe todos sempre com muita dedicação e com estampada alegria de fazer o que faz. Ah sim, ela também foi treinada por mim e continuou estando. Terminou o segundo grau no ano passado. Em suma: ela é pessoa da mais absoluta confiança. É provável que a sua empregada pertença a esse grupo especialíssimo. Como é provável também que ela não passe de uma quase-estranha que tempera seu feijão. A verdade é que sem ela minha vida neste exato momento seria um inferno.

Isso faz lembrar-me de tantas outras mulheres imprescindíveis, assim como a Rosangela que tive a sorte de ter em minha vida.

Garota fui logo trabalhar fora de casa, muito cedo me casei e quase em seguida tive meu primeiro filho. Os tempos eram difíceis e eu e meu companheiro tínhamos que trabalhar. Aquela coisa brava mesmo, começando a vida, pulando de negócio em negócio, tentando não ser um mais um assalariado mal pago neste Brasil de meu Deus. Então, nessa de precisar passar à maior parte do tempo na rua feito mulas, a cria ficava nas mãos de Deus. E o que Deus deu? As domésticas!

Umas eram cuidadosas, quietas, outras descontroladas, outras engraçadas, outras extremamente puritanas, ou ainda teen-agers (de espírito), mas todas inesquecíveis. Ensinei e aprendi muito.

A Lia uma dessas criaturas que Deus me mandou trabalhou em casa quando eu era bem novinha, nessa época já tinha tido meu segundo filho. Mas houve um episódio muito marcante e totalmente inesperado. Meu filho mais velho era um verdadeiro capetinha, a coitada foi trabalhar numa casa onde dentre várias tarefas tinha que cuidar de um capeta. A lembrança que eu tenho e guardo até hoje, é de um dia chegando do trabalho encontrei a Lia trancafiada no banheiro chorando e soluçando, do lado de fora estava meu filhinho batendo na porta pedindo desculpas pra ela, tipo: “Lia, por favor, não conta pro minha mãe”! Desculpa! Desculpa! “Sério, o que uma criança de CINCO anos, poderia ter feito pra desesperar e desmontar uma mulher feita”? Ela estava grávida! Contou-me depois que não sabia quem era o pai. A Lia já tinha uma filha pequena que a mãe cuidava no interior de Minas Gerais.

Apesar de naquela hora achar que meu mundo tinha caído, consegui dar um final feliz àquela história e tudo acabou bem no final. Ficamos juntas por mais sete anos. Tenho saudades dela até hoje. Depois veio a Marinalva, gordinha, baixinha e simpática. A típica gordinha legal, que vive rindo, andava com aquela camisetinha suja de água sanitária, até que um dia criei um uniforme para ela bem descolado que era a cara dela. Um dia me revelou que quando entrou para trabalhar na minha casa não sabia nem fritar um ovo e na organização era zero. Contou que havia trabalhado muitos anos como motorista de táxi. Pasmei! Ela aprendeu o serviço é claro e até me surpreendeu. Despedimo-nos entre abraços e beijos e lágrimas quando fui embora do estado. Ficamos amigas, óbvio.

No Rio conheci a típica empregada doméstica que nosso Walcyr Carrasco mostra tanto em suas novelas. Moça bonita do subúrbio carioca chamada Socorro. Chegava sempre atrasada, arrumada, perfumada e cheia de justificativas com histórias de arrepiar sobre corpos deixados pelo meio do caminho que ela era obrigada a passar para chegar ao trabalho - Era passista de uma escola de samba (todo sábado tinha ensaio). Uma vez ela me emprestou um cd dela pra eu gravar. Achei que ia odiar. Esquecemos do tal cd e acabei dando balão na coitada, to com o cd até hoje.

Ainda no Rio, veio a Nilza carioca de Niterói, negra, alta, magra, de poucos sorrisos e muito calada. Assim que comecei a entrevista-la percebi que finalmente tinha encontrado a pessoa certa. E era mesmo. Quando já sentadas na mesa da cozinha combinando detalhes para a contratação, ela lançou um olhar de desprezo para a minha cadelinha que ficou o tempo todo no meu colo e soltou: “Quero avisar logo que eu não levo “cachorrinho de madame pra passear”.

Confesso que apesar de não ter me ocorrido à possibilidade de pedir isso a ela àquela observação me desconcertou completamente. Sou louca por bichos! Respirei fundo fiz que não ouvi o comentário e segui meus instintos – Contratei assim mesmo. Duas semanas depois a Nilza foi fisgada pela “Tuquinha”. Para encurtar a história, adivinhem aonde a adorada “Tuquinha” se hospedava quando a família ia viajar? Na casa da Nilza. E como se não bastasse a cadela colocava o gato da Nilza pra correr! Ficamos juntas por seis anos.

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