Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Voando baixo

Quando comecei a trabalhar na redação, meu orientador, o sujeito encarregado em me ajudar a entender o que fazer foi um repórter já veterano chamado Sérgio Cross. O nome até sugere alguém que adora motocicletas ou vem do meio, mas não tem nada a ver. Era um rapaz franzino que usava um par de óculos redondo e com lentes grossas, lembrando um daqueles “nerds americanoides” dos filmes Hollywood. Pela sua fala mansa, jeito calmo, paixão pela leitura, e estereótipo de intelectual ganhou ou apelido de traça. Isso mesmo traça! Seu gosto pela leitura o fazia devorar livros rapidamente. Claro que não no sentido literal da palavra...
O veículo de reportagem naquela época era uma moto Honda ML 125, prata do próprio Sérgio. Montado nessa maquina o repórter intelectual ia para todo canto. E eu, mero aprendiz de feiticeiro, sempre na garupa! Ah, outra característica de Sergio Cross: Ele sempre foi um tanto desligado. Da familiaridade entre o nome de família e a categoria do motociclismo só havia o gosto pela velocidade. Cross adorava correr com sua moto, mas era totalmente avoado e com potencial de visão absolutamente discutível. Daí o grande risco de andar na garupa se sua motocicleta. Ainda mais sem usar capacete, muito usual naquele tempo. Jovens e sem muita consciência dos riscos, estávamos sempre juntos, feito a dupla dinâmica do seriado... Sem os paramentos e os “bat-assessorios”... Santa barbaridade!!!
Um dia, fomos designados para cumprir uma pauta, não me lembro bem onde, mas só para variar estávamos com pressa. Sérgio subiu e deu partida na moto. Eu abri as pernas para montar na garupa. Estava quase sentado e ele arrancou. Saiu em desabalada velocidade... Não consegui me segurar... Eu cai sentado no chão e nem pude gritar para ele esperar. A dor e o mau jeito da queda foi maior.
O pior é Cross nem percebeu e continuou sua toada até o lugar de destino. Quando chegou, imaginado que eu estava sentado atrás, perguntou alguma coisa e como não respondi, percebeu que havia perdido o carona. Pela sua cabeça deve ter passado: “Puxa onde será que o Jair ficou?” Não deu muita bola. Travou a moto, pegou se bloco de anotações e seguiu em frente. Tranqüilamente fez a entrevista e voltou para a redação algumas horas depois. Foi quando me disse que por alguns instantes ficou preocupado, imaginando em que momento do percurso eu havia caído. Mas como bom repórter, foi atrás da notícia e só depois... Bem, depois saberia onde aconteceu ao foca que estava na garupa.
A propósito, fiquei alguns dias com uma dificuldade considerável para sentar.

Comentários