Viver a Vida, de Jean-Luc Godard

Em francês a expressão “Viver a Vida” é uma gíria para descrever a Prostituição. É uma tradução literal da narrativa. Godard conta a história de Nana (Ana Karina) uma atriz que abandona o marido e o filho para tentar carreira em Paris. Mas seu plano não dá certo. Com a falta de dinheiro ela é expulsa da pensão aonde mora. Então começa a trabalhar numa loja de discos, mas precisando ainda de dinheiro ela começa a se prostituir., começando a trabalhar na rua onde encontra um cliente que a leva para um hotel e ela se entrega a ele. Ao passar do filme Nana reencontra uma velha amiga Yvette (Guylaine Schlumberger) que confessa se prostituir também e nesse reencontro Yvette apresenta para Nana seu “Cafetão” Raoul (Saddy Rebot) que começa a “administrar” Nana.
Viver a vida é o terceiro filme de Godard dentro da Nouvelle Vague e um dos mais influentes do movimento. Ana Karina, sua mulher na época, não gostou do resultado do filme e disse que ele (Godard) não o dirigiu bem. Mas muitos críticos da época diziam que o comentário dela em relação ao filme foi porque o casal estava em brigas constantes. Talvez até Godard tenha colocado um pouco da sua vida pessoal no filme, mas isso claro não tira a beleza e a inteligência em cada quadro do filme e a direção de fotografia de Raoul Coutard, que mais tarde viraria influ~encia para vários diretores e trabalharia em mais filmes de Gordard como o ótimo “Pierrot le fou” , que no Brasil recebeu o titulo de “O Demônio das Onze Horas”.
Há várias cenas memoráveis no filme, mas vou destacar duas que tanto pela câmera que acompanha um ritmo de quase um balé é a cena em que Nana (Karina) dança num bar de sinucas onde a câmera passeia captando os olhares de todos até chegar a Nana, que dança de forma sensual e conquistando mais um cliente com a sua inocência e ao mesmo tempo imponência ao sexo masculino.
Outra cena que vale ressaltar é a cena mais emocionante, tanto para o público quanto para o personagem, por que mostra a única cena em que Nana se emociona ou conseguimos ver uma emoção em seu personagem e isso é uma bela sacada de construção da narrativa e da direção, que apesar da vida sofrida dela em Paris, não conseguimos decifrar o seu personagem. Vemos uma mulher inocente, ingênua, esperta, sedutora e carinhosa e não o estereótipo de uma personalidade distribuída em vários personagens, como alguns filmes nos mostram. A cena em particular onde Nana vai ao cinema e assiste a “A Paixão de Joana d'Arc” do Dreyer. Godard se mostra um romântico, um arquiteto nessa cena. A beleza que é mostrada de Nana vendo o filme na parte do julgamento e ela chorando,e isso mostrado plano contra-plano transformando dois filme em um é genial e digna de um grande mestre do cinema.
Mas se o filme pudesse se resumir em uma frase, seria quando Nana, conversando com um cliente no bar e filosofando, fala a seguinte frase: “Se estou feliz sou responsável, se estou infeliz sou responsável” e é uma frase fundamental, por que de maneira elíptica, ela resume a abordagem ascética, impassível, de Godard ao problema da moça.
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