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Publicado: Quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Vidas que vão

Reflexão – Ditinha Schanoski

Uma das grandes tristezas da minha vida...

Sofrimento e morte do meu irmão Oswaldinho (aos 33 anos) em 3/12/1992

Oswaldinho era o 5° irmão (Maria Izabel, Ditinha, Pio José, Rita de Cássia, Oswaldinho e Dimas).

 

Vidas que se vão

A última vez que falei com o médico foi para ouvir o que eu já sabia. Enquanto o médico falava comigo em tom confidencial, meu irmão Oswaldinho, estava de costas, meio sedado, na cama do hospital, consciente, porém que o fim era certo. Uma doença, uma terrível doença. Um câncer que se instalara na garganta e que só descobrimos quando ela se manifestou onde nada mais poderia ser feito.

Essa doença, descoberta nos meados de setembro do ano de1992, em tão pouco tempo roubara-lhe toda a capacidade. Como se só isso não bastasse, veio em seguida os meios de tortura: traqueotomia, sonda, soro, e muitos outros procedimentos dolorosos...  O gosto pela mesa, às palavras. Para alguém que sempre teve o gosto da conversa como forma suprema de civilidade, penso que o desaparecimento das palavras foi para ele um golpe definitivo.

Restando apenas um corpo quase sem vida, mas com uma alma enorme aprisionada dentro dele. Ele não podia se sentir sozinho. Tinha medo. Revezávamos: minha irmã mais velha Isabel e eu Ditinha (dia e noite) à sua cabeceira. Sua alimentação era feita pela sonda. Uma mistura importada, muito cara que com amor, doação e generosidade, Getúlio meu marido custeou todo seu tratamento.

A doença retirara-lhe muito; não lhe retirara a dignidade, que eu via intacta em seu olhar. A minha história não tem nada de especial. É idêntica a história de incontáveis famílias que, na solidão anônima do sofrimento  se confrontam e sentem muito medo de tudo o que está por vir.

Rezávamos muito pela sua cura. Minha mãe, minhas irmãs, familiares... e pedíamos a misericórdia de Deus diante de tanto sofrimento. Só ele para nos amparar e fortalecer.

Meu irmão morreu, não sem antes ter recebido o Sacramento da Unção dos Enfermos, das mãos do querido e abençoado Monsenhor Camilo Ferrarini.

Monsenhor chegou às 17h30, do dia 3 de dezembro do ano de 1992, trazido que foi pelo Getúlio, e às 18h Oswaldinho partia para os braços do Pai. Foi uma morte sem sofrimento e sem drama. Foi assim: o corpo despediu-se dele e ele despediu-se do corpo. Nesse instante um filme passou pela nossa cabeça, toda sua angústia, matrimonialmente falando, em vencer seus desafios com a bebida e com o fumo, doenças impiedosas e que destruíram seu lar e sua família.

Já se passaram 25 anos de sua morte e, hoje senti vontade de relembrar essa fase tão triste das nossas vidas. Evidentemente quem mais sofreu foi nossa mãezinha Isabel que vê partir mais um filho seu.

“Vidas que se vão não se repõe. Ficam sempre em nosso coração e na nossa saudade!”

Oswaldinho descanse em paz...

Ditinha Schanoski – 24 de janeiro de 2017

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