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Publicado: Sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Vida sem Cachorro

Faz um mês que morreu o meu cachorro (20-10-2008). Não pensava que iria me entristecer tanto como aconteceu. Aliás, não pensava que o Bob (esse o nome dele) morresse tão cedo, pois tinha apenas sete anos e era saudável, bem nutrido, criado com todas as deferências que merecem animalzinho de estimação. Mas, imprevistos e erros podem acontecer, inclusive nessa área de criação de animais domésticos.
 
Foi o que constatei tudo a posteriori, eis que ignorei aspectos da psicologia canina (ciúmes ou proteção ao dono) ao entregar o Bob para adestrador, no sentido de educá-lo para não acontecer que viesse novamente a morder um dos meus filhos.
 
Tudo foi muito rápido, sem cautelas no transporte e nos referidos cuidados psicológicos, de modo que o Bob levado numa quarta-feira, no sábado já estava à morte em clínica veterinária. Impossível remediar o irremediável. O óbito do Bob ocorreu na segunda-feira e não afetou em nada a movimentação do mundo, apenas a mim próprio, que acabei no mato sem cachorro.
 
Viver sem cachorro traz até mais tranqüilidade, pois inúmeros cuidados se tornam dispensáveis, porém, nos tempos atuais de absoluto imediatismo e interesse, a presença de animalzinho de estimação pode ser um conforto, pois podemos, se não dialogar, travar monólogos, onde desabafamos, e em voz alta, chegamos a criticar tudo de desabonador que ocorre ao nosso lado e integra as nossas vidas.
 
E o carinho que o animal demonstra, nos olhares e atitudes, nos faz esquecer o desinteresse e até a frieza ou dureza que geralmente estão envolvendo os relacionamentos familiares e sociais. Com a morte do Bob, muitas reflexões passaram pela minha mente, como a da necessidade, utilidade ou vantagem do sofrimento para a vida espiritual e dos antigos sacrifícios de animais como rito religioso e forma de oração.
 
Não pude deixar de pensar, embora ligeiramente, no problema da morte, que sempre haverá de acontecer em nossas vidas e nos entristecerá sobremaneira, se formos contemplados com a sobrevivência. Então, como superar a mágoa da ausência dos entes queridos e continuar vivendo como se tudo continuasse na plena normalidade dos dias e momentos já vividos? Meu Deus! Realmente nos encontramos num vale de lágrimas.
 
Precisamos descobrir ou redescobrir fórmulas de oração ou criar maneiras próprias no sentido de encontrar a felicidade e a paz que desejamos ter ou manter, pois a desventura e o sofrimento se me afiguram incompatíveis com a natureza humana. Neste mundo passamos por dores e sofrimentos, mas é inegável que os detestamos (daí porque a santidade se encontra tão distante).
 
Então, na breve pesquisa, no salutar desejo de encontrar algo consolador, deparamos em Oséas, VI, VI: “Porque eu prefiro a misericórdia ao sacrifício, e o conhecimento de Deus aos holocaustos.” (quia misericórdiam volui, et non sacrifícium, et sciencia Dei plus quam holocausta).
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