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Publicado: Segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vida no campo ou na cidade?

A cada dia mais a artificialidade da cidade contrasta com a naturalidade do campo.
 
A formação de aglomerados urbanos é fato recentíssimo na longa existência do homem na terra, originalmente selvagem ou vivendo no campo.
 
O homem não abandonou espontaneamente a vida rural; desprezado, descuidado e desvalorizado, não resistiu à pressão da revolução industrial que precisou de mão de obra rápida e barata para os seus propósitos....
 
Os homens do campo migraram para as cidades, sem as mínimas condições, sem preparo, de repente. Viraram operários, comerciários, prestadores de serviço; trocaram os verdes campos pelo concreto, asfalto, poluição, disputas, vida mais cara, mais dificuldades...
 
Uma pena, hoje são vítimas na cidade grande, onde os problemas sociais crescem sem solução, onde a qualidade de vida não é a que desejam e merecem.
 
Os aglomerados urbanos ocupam espaços territoriais sensivelmente pequenos para as necessidades humanas, perto da vasta área geográfica disponível, pelo menos, em se falando de Brasil.       
 
Contamos com uma imensidão e vivemos “prensados”, disputando áreas aos metros quadrados.
 
Como dissemos, o fenômeno urbanização é novo e em nosso meio há uma mistura de gerações: aquelas cuja vida se originou na zona rural e que, portanto, aprenderam o gosto pela terra, com suas riquezas naturais e aquelas já geradas e criadas na cidade, sem o precioso contato com plantas, animais, frutas, verduras...
 
Certamente esse contato com a natureza, sua pureza e grandeza, faz falta para essas gerações essencialmente urbanas. Fica muito difícil que assimilem a importância da ecologia, da preservação do meio ambiente, do controle da poluição e da exploração racional dos recursos naturais, das matas, da água potável... Um conhecido, morando em São Paulo, ao casar e ter filhos fez questão de comprar um sítio com árvores porque achava que suas crianças precisariam dessa convivência com a natureza. Acho que ele tem razão. Isso explica o grande número de chácaras compradas por habitantes urbanos e mantidas para breves convívios de final de semana. Melhor que nada, pois repara as perdas e os desgastes da semana atarefada na aridez dos grandes centros de concreto. Daí, o sucesso dos hotéis fazendas, do turismo rural, do “arborismo”, etc...
 
Não há dúvida, a convivência com o rural enriquece o ser humano, notadamente as crianças: subir em árvores, escalar pedras, ar livre, frutas no pé, caldo de cana, milho cozido, pamonha, porquinhos, vaca, leite da hora, cafés da tarde com o bolo da avó...
 
A cidade propicia mais acesso a serviços, bens de consumo, empregos e transportes, mas tudo isso a um preço alto. Ela não oferece condições decentes e saudáveis para abrigar humanamente a todos; a vida aqui se torna cada vez mais difícil. Em contrapartida, garantem os especialistas, no campo se vive melhor, de modo mais saudável, com mais sossego, descanso e livre desse inimigo número um da vida moderna – o stress.
 
Não há como não sentir saudade da vida no campo que borbulhava tempos atrás, mas que se reduziu a quase nada; saudade dos homens do campo, heróis que resistiram o que puderam, mas foram vencidos.
 
Ficamos imaginando como tudo poderia ser diferente se eles tivessem a atenção de nossos governantes, com melhores condições para viver: escolas, energia, recursos econômicos, assistência médica, etc... Faltou realmente muita coisa.
 
Ao comparar as duas realidades, assim escreveu meu sogro, um camponês que precisou deixar a terra:
 
“...Deixei as vacas, as árvores, o pomar, os pássaros.
Amanheci na cidade! 
Levantei cedo, como de costume.
Abri a porta que sai pra rua
Vi carros,
Vi gente,
Vi fumaça.
Ouvi barulho.
Olhei pra cima,
Só vi o céu,
Só vi casas,
Só vi muros.
Não vi o Sol nascer
Não escutei o mugir das vacas,
nem o cantar dos pássaros;
não vi nada...”
 
Sem dúvida, um desabafo, como o de tantos outros que, de alguma forma, foram obrigados a abandonar suas raízes e migrar para as cidades.
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