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Publicado: Sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vida Infernal (Sátira)

Muitos, desprovidos de fé, sempre afirmaram que o inferno é aqui mesmo. Por causa disso, imaginei que o inferno para quem pensa assim, deve apresentar muitas semelhanças com o que ocorre aqui na Terra.
 
Na fase mais amena da vida infernal deve-se encontrar grandes auditórios onde simpáticas demônios - entrevistadores líderes de audiência - passam o dia perguntando e respondendo sobre as misérias e fraquezas dos mortais...
 
Aqueles que não apreciam esse gênero de entrevistas, já saturados de os assistirem quando ainda viviam na terra, poderão entrar em outros salões específicos de esportes (futebol, tênis, voleibol, basquete etc., corridas de autos, motos etc., novelas, filmes e assim por diante). O detalhe significativo, porém, é que precisarão ficar o dia todo nos respectivos salões, pois a saída só é permitida após as 18 horas.
 
Aqueles que na terra só pensavam em dinheiro, lá no inferno deverão trabalhar nos bancos de Lúcifer, onde o dia todo mexerão com o vil metal, calculando o preço das almas, os juros que deverão ser cobrados (se o pagamento não for à vista), o parcelamento das dívidas, a forma do financiamento, etc.
 
Quando se encontram extenuados ganham ingressos para os auditórios das líderes entrevistadoras ou, se chorarem muito, poderão conseguir bilhetes para os salões dos esportes ou para participarem do rali do inferno... Os políticos desonestos terão de enfrentar um parlamento infernal, com sessões diárias (das 8 às 18 horas) onde todas as falcatruas são de pronto informadas e as mentiras descobertas na hora.
 
A criminalidade é insuportável. Como lá o falatório não tem fim (as pessoas falam mal dos outros sem subterfúgios), as brigas não acabam, sendo que o tiroteio e os ferimentos são constantes. Os hospitais estão sempre lotados - como nos velhos tempos da terra -, sendo que, ninguém mais morrendo, não há aberturas de vagas e assim, o sofrimento é diabólico...
 
Os condenados por todos os pecados (menos o de sexo), parece que gozam de algum privilégio: são obrigados a freqüentarem universidades onde o dia todo ouvem poesias de maus poetas, relatórios maçantes e lêem livros imensos ou sem pé nem cabeça.
 
Navegam pela internet anotando todos os sites esdrúxulos, enviam e-mails cheios de vírus e hackers é que não faltam. Fazem comentários prolixos sobre os textos lidos e são obrigados, também, a assistirem preleções monótonas, cansativas ou cheias de gritos e pula-pula, ao som de roque da pesada, música punk, rap, cateretê etc...  
 
Muitos entendem que tais sofrimentos são suaves, mesmo quando são intimados - para não ficarem sem exercícios físicos -, a darem cerca de 50 voltas em torno das praças e lagoas do inferno...
 
Quanto aos castigos dos pecados que envolvem sexo, não acho conveniente expô-los aqui, pois se trata de assunto delicado e escorregadio. E os drogados, o que farão no inferno? Bom, fogo, brasa e acendedores não faltam e drogas, naturalmente, são encontradas por todos os cantos...
 
Todavia, podemos dizer que aqueles que amavam esse pecado mais do que tudo, lá no inferno, depois de assistirem - durante o dia-, os programas de auditório ou de esportes são obrigados, a partir das 20 horas, a se confinarem nos imensos bordéis infernais de onde sairão somente após 12 horas de atividades extenuantes e permanência diária.
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