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Publicado: Terça-feira, 26 de março de 2019

Vencendo os Limites

Vencendo os limites

          Sou só um, mas, ainda assim sou um; não posso fazer tudo, mas ainda assim posso fazer alguma coisa; e não é porque não posso fazer tudo que vou deixar de fazer o que posso”. Ed Hale

 

            Trabalhar em um hospital como Ministra da Saúde era presenciar algumas situações extremas, uma questão de tudo ou nada. Ou os doentes estavam felizes por estarem vivos ou simplesmente, queriam morrer. Bastava olhar para saber.

            Aprendi muita coisa com um doente sobre derrames cerebrais.

            Encontrei-o pela primeira vez, todo curvado na cama, numa tarde em que eu levava a comunhão aos doentes. Um homem pálido, todo encolhido, a cabeça meio escondida pelo cobertor. Nem se mexeu quando me apresentei.

            Uma enfermeira me contou. Ele não tinha ninguém.

            Bem, pensei talvez eu consiga ajudar. Quem sabe eu poderia fazer alguma coisa.

            Na próxima visita, o Sr. Hilário nem se mexeu quando eu me aproximei. Fingindo não notar, comecei a travar uma conversa e ele me interrompeu muito aborrecido e nervoso: Deixe-me em paz. Quero morrer! Continuei falando, com o meu melhor sorriso, dizendo o quanto me sentia bem em trabalhar no hospital, porque lá tinha a oportunidade de ver as pessoas atingindo seu potencial máximo. Era um lugar cheio de possibilidades. Ele ficou calado.

            Nos dias seguintes, eu soube que o Sr. Hilário tinha perguntado por mim. A enfermeira referia-se a ele como meu “protegido”. Nunca a contestei. Quando saia do quarto dele, eu dizia aos funcionários para cuidarem bem do “bom velhinho Hilário”.

            Nossas conversas eram cada vez mais longas. Eu me sentia muito bem ouvindo suas experiências de vida.

            Dentro de pouco tempo, ele concordou-se e conseguiu sentar-se na beirada da cama para forçar os músculos. Iniciaram-se as sessões de fisioterapia e dois meses depois seu Hilário estava usando um andador. No terceiro mês, passou para a bengala.  Fui acompanhando tudo de perto o seu tratamento e admirando a sua superação.

            Nem é preciso saber dizer que houve lágrimas quando nos despedimos. Ele já estava com alta.

            Então numa tarde de visitas, uma funcionária me entregou um pequeno vaso com delicadas violetas lilás. Presente do Sr. Hilário que já estava trabalhando em seu jardim outra vez.

Não pude conter a emoção. Aprendi com o Sr. Hilário que é com as pequenas vitórias que se atinge a meta.

Ditinha 

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