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Publicado: Segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Varig - Alma nova em corpo antigo

Artigo publicado na Revista Viagem & Turismo
 
Em dezembro de 2006, nasceu a nova Varig. Aprendeu com os erros. Pontualidade e regularidade são a grande aposta. Além da marca, seu maior ativo é o amor e experiência de cada funcionário.  
 
Poderia ser novela de qualidade duvidosa, só que aconteceu de verdade. O título bem que poderia ser “O final trágico da velha Varig”. Quase saiu do ar por falta de patrocinador e audiência. Mas como toda novela tem final feliz, acabou bem. Tanto que já tem até uma seqüência, que recebeu o título de “Varig nova, a revanche”.
 
Varig,Varig, Varig – quem não lembra do jingle? Orgulho nacional, a empresa foi a primeira companhia aérea do Brasil. Nasceu em Porto Alegre, em 1927, fundada por um imigrante alemão. De um avião para nove passageiros, a Varig chegou a possuir, em 2002, 125 aeronaves, com 900 vôos diários para 40 cidades brasileiras e 30 no exterior. Nos tempos áureos transportou celebridades, como o Papa João Paulo II, a Seleção Brasileira de Futebol e todos os presidentes do Brasil de Getúlio Vargas a Fernando Henrique Cardoso. Os seus cargueiros transportaram milhares de toneladas de material para a construção de Brasília. Alguns momentos marcantes foram a vinda do corpo do piloto Ayrton Senna Itália para o Brasil, e a chegada da seleção brasileira tetracampeã. Como Itamaraty privatizado, os escritórios da Varig no exterior eram verdadeiros consulados em localização privilegiada. Em Paris, na Avenida Champs Elysées. Em New York, no Rockefeller Center.
 
Quem te viu, quem te vê
Depois de 15 anos de uma grave crise financeira e de gestão, um leilão em 20 de julho de 2006 encerrou a fase difícil. Surge a nova Varig. Junto, vieram funcionários e as rotas. Cabe à direção da nova Varig definir a cara da empresa. Se de um lado não terá foco exclusivo em custos, deve adotar uma administração enxuta, sem gastos supérfluos. Não espere rotas deficitárias, mas também não tema vôos com tantas escalas que comprometam a satisfação do passageiro. No serviço, nem barrinha de cereais, nem caviar, mas sim refeições leves e criativas. Com oitenta anos, a Varig parece uma senhora aristocrática que já foi linda, rica e cobiçada. Hoje, mesmo maltratada, não perdeu categoria ou charme, e ainda conquista corações. Senão, como explicar o retorno às operações de uma companhia já dada como morta pelos mais apressadinhos?
 
Falemos da primeira novela. Há um, dois, cem, milhares de personagens que dela participaram, mas que não receberam até hoje a atenção merecida, apesar do desempenho fora de série. Trata-se do variguiano, este ator anônimo, que deu uma contribuição fundamental para o resultado final do enredo. É verdade que os melhores momentos foram quase sempre roubados por canastrões. Mas é de uma injustiça atroz ignorar a atuação destes milhares de extras que cumpriram seu restrito, mas honesto papel: garantir o andamento da trama a qualquer custo. Mesmo que por vezes tivessem que enfrentar cenas confusas e interpretar um roteiro que não escreveram.
 
Há unanimidade, entre empregados, passageiros e agências de viagem: todos querem a Varig de volta. “Ela faz muita falta, traz o equilíbrio ao mercado”, comenta Goiaci Guimarães, ex-presidente da ABAV (Associação Brasileira dos Agentes de Viagens). Do lado do passageiro, a alegria é igual. Raquel Celita Moraes, há oito anos no check-in da Varig em Congonhas, onde é supervisora, constata: “Durante o declínio da empresa, as reclamações eram acompanhada de elogios, porque continuávamos sendo gentis e corteses”. Hoje, continua ele, “os passageiros estão entusiasmados com o retorno da Varig”. Thiago Campanelli, também no check-in de Congonhas, complementa: “Muitos clientes voltaram a voar conosco, e falam que viajar em TAM e Gol, só por obrigação, e não por prazer”.
 
Alegria e incentivos
A Varig ocupa um lugar de honra no imaginário das pessoas, só comparável a marcas como a Petrobrás. “Se não fosse por amor e pela magia da marca, e avaliasse o negócio em si, eu não estaria aqui”, comenta Guilherme Laager, o novo presidente desde novembro de 2006. Tem sentido. Senão, como explicar este engenheiro carioca, 50 anos, jeans na linha casual chic, jeitão simpático, estilo franco e informal, deixar para trás cinco anos da diretoria de logística da Companhia Vale do Rio Doce? Isto sem falar nos doze anos como parte do time que escreveu a história da Ambev, e de um início de carreira de nove anos como consultor na atual Accenture. Maria Teresa Aguiar Martins, que com 36 anos de Varig é a mais antiga funcionária em atividade, parece confirmar as palavras Laager. “Não vou embora nunca, pois a Varig é um caso de amor correspondido”. Como assessora de acordos e alianças desde 2000, Maria Teresa acaba de viver um revés por conta do desligamento da companhia da Star Alliance, uma rede mundial de alianças formada por companhias aéreas “É temporário; a gente vai voltar”, aposta. Sua opinião é compartilhada por Luis André Patrão, Diretor de planejamento e marketing, e que começou como agente de reservas de bilhetes. Ele explica que a nova Varig, assim que se qualificar poderá reingressar neste clube.
   
Cada funcionário foi um herói. Muitos tombaram com dignidade no campo de batalha da guerra impossível. Apesar do noticiário calamitoso e da insolvência da Varig velha, o variguiano estava lá. Sempre a postos, uniforme impecável, provavelmente lavado em casa. Apesar do salário atrasado, do emprego em risco, do clima pesado. Não deixou de atender com cortesia reservas e reclamações. Serviu os passageiros com presteza, na terra ou no céu, dentro ou fora dos aviões.
 
Os variguianos – como se autodenominam os empregados – dizem ter sangue azul, alusão à cor das aeronaves. Isto não é pouco, se examinarmos a relação de mãe-carrasco da empresa com seus pupilos nos últimos anos. “Foram tempos difíceis. Com salários atrasados e sem recursos, comissárias compravam café e adoçante do próprio bolso para servir
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