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Publicado: Sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Urna Funerária

Crédito: Eliel Bragatti e Renata Martins Rocha Urna Funerária
Urna funerária indígena

As trinta carpideiras italianas foram as primeiras a chegar. Exaustas, porém profissionais, partiram do aeroporto direto para o ginásio de esportes. Passaram pelo esquema de segurança israelense montado duas ruas antes do local e, ao entrarem coreografadas, tiraram o lenço verde de suas bolsas e debandaram chorar copiosamente. O Harlem Gospel Choir veio em seguida, completo, e ocupou a cabeceira da quadra, em pé. As filhas entraram pelos fundos e se aproximaram da urna funerária, ao que a do meio escarneou: “Está envernizado e lindo, mas duvido que seja jequitibá mesmo”. “Eu nem achei tão bonito assim e, para falar a verdade, até de mal gosto essa placa de ouro envelhecido”, blasfemou a caçula. “Xiu!”, a primogênita a beliscou e a abraçou enquanto o cerimonialista inglês passava perto, depois disse entre os dentes: “'A César o que é de César'... Não ficaremos com nada dele”. Minutos depois veio a primeira coroa de flores: "Nossa homenagem ao prefeito mais querido do Brasil. Odebrecht".

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