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Publicado: Sexta-feira, 24 de julho de 2009

Uma última história

“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a fora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável. Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída”.
Mahatma Gandhi
 
Por que palavras?

Um monge aproximou-se de seu Mestre que se encontrava em meditação no pátio do templo à luz da lua com uma grande dúvida:

“Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os sútras e as recitações são feitos de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o dharma está além dos tempos, porque os termos são usados para defini-lo?”.
 
O velho sábio respondeu: “As palavras são como um dedo apontado para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta”.
 
O monge replicou: “Mas eu não poderia olhar para a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?”.
 
“Poderia”, confirmou o Mestre, “e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a Lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está, e sempre esteve à vista. O dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio”.
 
“Então”, o monge perguntou, “por que os homens precisam que lhes sejam revelados o que já é de seu conhecimento?”.
 
“Porque”, completou o sábio, “da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na verdade já revelada, pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair a nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário”.
 
O Mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a Lua.

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