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Publicado: Sábado, 7 de abril de 2012

Uma instituição

Crédito: Marcelo Rayel Uma instituição
Mate do Marquinhos, em frente a Joinville

Toda cidade tem sua instituição. Umas de porta, janela, parede e telhado. Outras em pessoas. Para algumas, damos o nome de patrimônio imaterial.

Santos tem algumas (ou várias). Não há aqui uma marca característica, do tipo dança folclórica ou comida típica. O patrimônio imaterial de Santos tem mais a ver com o santista da gema, as errâncias pelas ruas da cidade, vibrar na mesma frequência de onda.

Se isso ainda parece uma tremenda quimera, vai aqui uma dica para facilitar as coisas...

Como não há um prato típico que caracterize a cidade e com o declínio dos restaurantes de frutos do mar (isso aqui era um paraíso até os anos 1980!), importamos alguns que acabaram virando meio que a cara de quem zanza por aqui.

Um dos hábitos alimentares não-saudáveis daqui é o churro. No Gonzaga, há dois carrinhos, inclusive um que vem com recheio salgado (vai por mim, o de frango com cheddar é uma delícia!). É costume encontrar ao longo dos jardins da orla um carrinho aqui e outro ali vendendo o prestigiado churro. Em breve, voltarei ao assunto.

O outro é o mate gelado. Não que a quantidade de litro de mate gelado per capita seja lá aquele assombro. Mas que com certeza é maior do que Belo Horizonte ou muita cidade por aí, ah, isso é mesmo!

Na feira-livre de quinta-feira aqui na Vila Belmiro, tem um sujeito que entra na vibe dos feirantes e sai cantando glória do seu mate gelado. A vantagem é que ele não fica parado num determinado ponto da feira, saracoteando para lá e para cá, enchendo a cara de quem procura uma bebida refrescante.

No centro da cidade, um outro carrinho, em local estratégico, na esquina da Riachuelo com a Praça Mauá. O problema desse mate é que nem mel consegue ser mais doce. Há um outro na esquina da D. Pedro II com João Pessoa que padece do mesmo problema.

Em geral, esses carrinhos, além de vender o mate gelado, também oferecem refresco de abacaxi. Não me perguntem porque. Nos anos 1970 era o Vai Limão. Vendido na praia, tinha o contratempo de queimar a pele do(a) desavisado(a) sob o sol flamejante na temporada de verão. Vai ver que foi por isso que o abacaxi emplacou.

Na praia do Boqueirão, ao lado do canal 3, na direção da doceria Joinville (daí o nome desse pedaço da praia ter recebido esse nome), o que pega é o pessoal sarado, praticantes do frescobol e carrinhos de suco, em geral, de laranja, como o da Isa. Mas nem por isso: tem sempre o convidado intruso, irreverente, que há anos ganhou o gosto da cidade. Lá está, entre os titãs do suco de laranja com todas aquelas bossas, o famigerado mate gelado.

O mais famoso é o do Marquinhos. Marquinhos é o tipo do comerciante, do ambulante, do vendedor de mate que toda cidade gostaria de ter. Simpático, comunicativo, articulado, informado e sacando todas, o Marquinhos faz um mate que, em termos de temperatura e de açúcar, é a bebida perfeita.

Mas não fica só no mate ou no abacaxi. Na sua linha de produtos, tem um bolo integral de banana com a melhor saída da praia inteira, o inconfundível açaí, salgados e vem inovando com o frozen de cupuaçu.

Não tem ninguém na Joinville, e talvez em Santos inteira, que não conheça o Marquinhos e seu mate mágico. Atendimento nota 10 e quando o dia não está naquele aperreio, o cliente ainda ganha um colóquio tipicamente santista.

Na foto, é o sujeito sentado, de verde. Homem de negócios da praia, o sonho de consumo de muito engravatado de cidade acima de um milhão de habitantes que já na aguenta mais patrão e a aporrinhação do serviço que leva.

Nem tudo são flores na vida do Marquinhos e nem sempre se vende mate o suficiente para pagar as despesas. É uma vida ingrata, como a de qualquer ambulante, como a de qualquer trabalhador. Nem por isso. No mate do Marquinhos você conhece Santos, e ainda mata a sede.

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