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Publicado: Sexta-feira, 22 de junho de 2007

Um ponto turístico com muita história

O convívio faz com que aprendamos muito e é por isto que posso relatar o que se segue.
 
Administrando o atual Espaço Fábrica São Luiz, em Itu, conheci muitas novidades. Algumas delas, muito pitorescas e importantes, que valem à pena ser contadas.
Em mais de 100 anos de história, nunca houve uma ação trabalhista ajuizada contra a antiga SA Fábrica de Tecidos São Luiz (fundada em 1869 e desativada em 1982). É de se pensar, o que pode ter acontecido.
Conto a seguir alguns fatos, desta história.
 
Um jovem casal, que trabalhava na empresa, teve um bebê. - “Puxa, que criança linda, era um menino!” - A fábrica, como era carinhosamente chamada, tinha um berçário para estes casos, muito comuns, por sinal. Os anos se passavam e aquele menino já ia para a escola. Mais algum tempo, por volta dos quatorze anos, seus pais perceberam a necessidade de seu filho, além de estudar, trabalhar.
 
Aonde o Ditinho - este era seu nome - poderia conseguir um emprego? Logo surgia a idéia: “Bem que ele poderia trabalhar na fábrica!”. E assim, seus pais, ótimos funcionários, pediram o emprego.
 
Rapidamente tudo se acertava e o capataz, vendo aquele menino esperto, entregava uma vassoura a ele e falava: “Está vendo este pátio? Quero vê-lo brilhando! Arranque também todo o mato dos paralelepípedos!”.
 
Este foi, de fato, o começo da história de muitos funcionários da Fábrica São Luiz.
Com o passar dos tempos, aquele iniciante, já conhecia todas as pessoas que trabalhavam na empresa. Além disso, sabia exatamente, qual o setor que mais gostava e se interessava. Neste momento, pedia ao “chefe”, uma pequena oportunidade para trabalhar ao lado do “seu” João, no setor de tingimento, por exemplo. Em pouco tempo, Ditinho lá estava trabalhando como ajudante.
 
Não preciso relatar o resto da história, sei que o Ditinho, se aposentou na empresa, como Sr. Benedito, o Gerente de Expedição. Aliás, dizem que foi um dos melhores que aqui trabalharam.
 
Pelos relatos que ouço, sei que fatos como estes foram corriqueiros nesta indústria centenária. Podemos tirar algumas lições importantes para os dias de hoje. O tratamento dado ao casal ao ter um filho foi fundamental para o bom desempenho do seu trabalho, pois sabiam que o Ditinho estava sendo muito bem cuidado.
 
Quando começou a trabalhar, teve oportunidade de perceber sua aptidão, dentro dos vários setores da empresa. E, uma vez escolhido o local de trabalho, teve a possibilidade de aprender o ofício ao lado do “seu” João. Foi desenvolvendo, aprendendo e crescendo.
 
Atualmente as empresas não podem contratar adolescentes dessa forma, além de não serem incentivados a formar seus funcionários. É uma pena, pois precisamos de pessoas que saibam de tudo, que estejam prontas. A realidade é que ninguém pode ensiná-los e o que acontece é que o serviço acaba não sendo executado da forma desejada.
 
Esta história, com nomes fictícios, talvez explique o motivo de nunca, em seus 113 de existência, ter sido movida uma ação trabalhista contra a SA Fábrica de Tecidos São Luiz. Sem contarmos que presenciamos, até hoje, cenas de pessoas que aqui adentram e começam a chorar de emoção. Acreditem, não são poucos casos.
 
Durante uma recente Feira de Orquídeas realizada na fábrica, uma senhora parou defronte ao caixa e ficou olhando. A pessoa que estava tomando conta percebeu a situação e perguntou se ela necessitava de algo, ao que a senhora respondeu com lágrimas nos olhos: “A sra. está trabalhando em cima do meu tear. Por mais de vinte anos, trabalhei neste local!”
 
Para terminar, conto outra história muito pitoresca que ocorreu aqui.
 
Um senhor, hoje dono de uma sorveteria, me contou que quando criança, vinha à fábrica e pedia para que seu pai fosse chamado. “Quem é seu pai?”, perguntava o atendente (na realidade já sabia de quem se tratava). “Papai trabalha ali, perto da escada, naquela máquina barulhenta”.
 
O atendente designava uma pessoa para chamar o pai. Assim que era chamado, este parava sua máquina ou colocava alguém para operá-la e descia para atender ao chamado.
 
Quando chegava ao escritório e encontrava o filho, este acreditem, por diversas vezes, falou assim: “Pai, a mamãe, pediu para você não esquecer de levar pão, quando voltar para casa!”
 

Escrevo isto, para além de divulgar um belo ponto turístico da cidade, mostrar, como escrevi no início, que o convívio faz com que aprendamos muito. Bem que poderíamos utilizar um pouco do que nossos antepassados puderam presenciar.

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